“Estamos sobrecarregados pela aceleração da pandemia", disse o presidente Macron e Merkel advertiu sobre ameaça de colapso do sistema hospitalar | Foto - AFP

França e Alemanha anunciaram na quarta-feira (28) o restabelecimento de medidas mais rígidas de contenção da pandemia, depois de novos recordes no número de casos e mortes e da sobrecarga das UTIs, sob uma intensa segunda onda da Covid-19 em meio à aproximação do inverno.

“Como em toda a Europa, estamos sobrecarregados pela repentina aceleração da pandemia”, disse o presidente Emmanuel Macron, que convocou um fechamento nacional que irá até 1º de dezembro. Ao lado dos 16 governadores, a primeira-ministra alemã Ângela Merkel anunciou uma quarentena parcial de um mês.

No sábado, a Europa se tornou a segunda região do mundo a ultrapassar a marca de 250 mil mortos pelo coronavírus. O total de contágios já soma mais de 8,78 milhões. A grande preocupação é que a intensificação da pandemia leve o sistema hospitalar ao colapso.

“O vírus está circulando na França a uma velocidade que nem mesmo os mais pessimistas previram”, acrescentou Macron, após admitir que as medidas recém-tomadas – como o toque de recolher à noite em Paris – se mostraram “insuficientes”.

O presidente francês alertou que a segunda onda poder ser “ainda mais difícil e mortal do que a primeira”, o que torna ainda mais urgente “dar uma freada brutal nos contágios”. “Vamos conseguir, todos nós juntos”, convocou.

Por sua vez Merkel conclamou a “agir agora”, assinalando que a chave para amenizar a situação sanitária “muito séria” que o país enfrenta é a redução de contatos, ao mesmo tempo em que se buscará limitar os danos à economia.

A primeira-ministra admitiu que as medidas são “duras”, mas advertiu que, mantido o atual ritmo de contágios na Alemanha, o sistema de saúde poderá atingir o limite de sua capacidade “dentro de semanas”.

“Se esperarmos mais tempo, teremos que reduzir os contatos ainda mais”, alertou. O número de novos casos de Covid na Alemanha dobrou em relação à semana anterior e o número de pessoas internadas em unidades de terapia intensiva também dobrou nos últimos dez dias.

“A curva precisa ser achatada novamente para que o rastreamento de contato possa ser realizado mais uma vez”, reiterou a primeira-ministra, informando que, em 75% das novas infecções, as autoridades não conseguiram determinar a origem do contágio.

A partir de sexta-feira, os franceses só poderão deixar suas casas por motivos profissionais essenciais ou por razões médicas. Serão exigidas nesses casos declarações por escrito. “Fique em casa o máximo possível e respeite as regras”, orientou Macron.

Ele alertou que se “nada” fosse feito agora, “dentro de alguns meses teríamos pelo menos mais 40 mil mortes”. Com 1,2 milhão de contágios, a França é o quinto país do mundo com mais casos.

A quarentena 2.0 à francesa inclui o fechamento de bares, restaurantes e estabelecimentos comerciais não essenciais, mas a economia “não deve parar nem entrar em colapso”, afirmou Macron.

“Fábricas, propriedades rurais e obras públicas continuarão a funcionar”, acrescentou o líder francês. Ele pediu ainda a volta ao esquema de trabalho remoto em tempo integral sempre que for possível.

Segundo a agência de saúde pública francesa, o país registrou nesta quarta-feira mais de 36 mil novos casos de infecção e 244 mortes ligadas ao coronavírus.

As escolas irão permanecer abertas, mas as universidades, onde se verificaram desde setembro vários focos de infecção, voltarão às aulas online. As igrejas permanecerão abertas. Estão mantidas as visitas nas casas de cuidado de idosos.

A cada 15 dias o governo francês irá avaliar a evolução da pandemia para decidir sobre restrições adicionais, ou em caso de melhora, a suspensão delas. Nesta quinta-feira serão anunciados mais detalhes da quarentena.

Na Alemanha, a quarentena será parcial e terá duração de um mês. A partir da próxima segunda-feira, 2 de novembro, restaurantes, bares, academias, teatros, cinemas e piscinas serão fechados.

Escolas e creches, por sua vez, poderão continuar funcionando, assim como as lojas e mercados, desde que cumpram as regras de distanciamento social e higiene.

Reuniões privadas serão limitadas a dez pessoas, de no máximo duas residências diferentes. Estão cancelados shows e eventos semelhantes. Os eventos esportivos sem espectadores prosseguirão sendo realizados.

O governo federal e os 16 estados recomendaram à população que não realize viagens particulares e não essenciais. Estadias em hotéis serão permitidas apenas para viagens de negócios indispensáveis.

Para amenizar os efeitos das medidas restritivas sobre a economia, o governo alemão anunciou um novo pacote de ajuda de 10 bilhões de euros para socorrer as empresas que forem forçadas a fechar suas portas. Pequenas e médias empresas deverão receber75% do valor de suas vendas perdidas em novembro por conta do fechamento. Grandes empresas terão direito a 70%.

“A preocupação é que as unidades de terapia intensiva nos hospitais estão agora começando a se encher de pessoas muito doentes”, alertou Margaret Harris, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ela afirmou que a eficácia dessas novas restrições só poderá ser analisada em cerca de duas semanas. “Veremos a redução dos casos, mas não da noite para o dia”, disse a porta-voz, que previu um índice de mortes menos trágico do que o registrado em abril.

Segundo a OMS, as mortes diárias por covid-19 em território europeu aumentaram quase 40% na última semana, em comparação com a semana anterior. Harris acrescentou que França, Espanha, Reino Unido, Holanda e Rússia são responsáveis pela maioria das ocorrências.

Por sua vez, o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças registrou na terça-feira que a Bélgica ultrapassou a República Tcheca e se tornou o país da Europa mais afetado pela segunda onda de Covid-19.

Nos últimos 14 dias, a Bélgica acumulou uma média de 1.390 casos de infecção por coronavírus a cada 100 mil habitantes. O recorde anterior, da República Tcheca, era de uma proporção de 1.379 notificações.

Desde o último dia 19, a Bélgica está aplicando um toque de recolher noturno, mas é possível que nessa semana o primeiro-ministro Alexander De Croo anuncie um bloqueio generalizado, como durante o auge da crise no continente, na primavera.

Já o Reino Unido, o país europeu recordista em mortos de Covid-19, registrou mais 367 vítimas na terça-feira, seu número mais alto em um dia desde o fim de maio. Cifra que se aproxima do recorde de 374 mortos registrados em 30 de março, após uma semana de um lockdown nacional que paralisou grande parte do território britânico.

Em 24 horas, foram quase 23 mil novos contágios. Desde o início da pandemia, são mais de 920 mil casos de coronavírus no Reino Unido e mais de 45 mil mortos.

A Itália, que viveu uma primeira onda devastadora na pandemia, relatou 221 mortes na terça, recorde desde meados de maio. O total de óbitos se aproxima de 38,7 mil. O país ainda bateu o recorde de casos diários desde o início da epidemia, ao registrar 21.994 contaminações em 24 horas. Ao todo, mais de 564 mil pessoas contraíram o vírus.

O primeiro-ministro Giuseppe Conte endureceu as restrições para fazer face ao coronavírus em todo o país no domingo passado, apesar da oposição de chefes regionais e protestos de rua por causa do toque de recolher. Cinemas, teatros, academias e piscinas fecharam desde segunda-feira, enquanto restaurantes e bares deixarão de funcionar às 18h. As novas regras vão até 24 de novembro

A Rússia – o quarto país do mundo com mais infectados, atrás dos EUA, Índia e Brasil – também registrou seu recorde diário de óbitos, com 320 vítimas confirmadas em 24 horas. O total de mortos já chega a 26 mil, enquanto os contágios de covid-19 somam 1,5 milhão. Quadro que levou o governo russo a endurecer as restrições, incluindo o uso de máscaras em espaços públicos. Entre 23h e 6h, estarão proibidos eventos públicos e também deverão fechar as portas cafés e restaurantes.