A vice-ministra do PCCh, Shen Beili

Chinês critica EUA por excluir Cuba, Venezuela e Nicarágua da Cúpula das Américas. Partidos de esquerda da América Latina e Caribe discutiram consensos com Partido Comunista Chinês.

A Cúpula das Américas está programada para ser realizada de 6 a 10 de junho na cidade norte-americana de Los Angeles, mas, os EUA excluíram Cuba, Venezuela e Nicarágua da reunião. O tema vem criando mal-estar entre governos, que recusam participar da Cúpula devido ao tratamento dado por Joe Biden aos governos de esquerda. Este foi um dos temas críticos tratado durante a primeira sessão virtual do Ciclo de Debates Partido Comunista da China (PCCh) e Foro de São Paulo (FSP), sob o tema As relações entre China e América Latina na nova era.

O debate ocorrido na terça-feira (10) reuniu dirigentes partidários da Argentina, Brasil, Uruguai, Cuba, Nicarágua, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, México, Panamá, Peru, República Dominicana e Venezuela. Na mesma terça-feira, a China criticou os Estados Unidos por excluir Cuba, Venezuela e Nicarágua da Cúpula das Américas e denunciou que esta reunião não deve aplicar “padrões norte-americanos” para servir aos interesses de Washington.

Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, apoiou a posição defendida pelo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, a favor da realização deste conclave com a participação de todos os países da área. Obrador ameaça não participar do evento, assim como Luis Arce, da Bolívia.

Durante o seminário, por sua vez, o assunto foi tratado pelos convidados chineses. O subdiretor do Instituto das Relações Internacionais Contemporâneas da China, Sun Yanfeng, lamentou que a Casa Branca continue agindo sob a Doutrina Monroe, e trate os territórios latino-americanos e caribenhos como seu quintal e tente controlar a economia e o desenvolvimento dessas nações, em função de seus interesses.

Para o intelectual chinês, países como os EUA seguem tendo a mentalidade de Guerra Fria, para impor seu imperialismo e unilateralismo, intensificando ataques a governos de esquerda. Foi quando ele citou o impasse na Cúpula das Américas.

Yanfeng também observa que este tratamento é dado às relações entre China e a América Latina e o Caribe, “demonizando e estigmatizando-a”, assim como tem conduzido as relações geopolíticas no conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Na opinião dele, o conflito é tratado de modo a favorecer os interesses norte-americanos.

Parcerias e consensos

Tanto os dirigentes de partidos membros do Foro de São Paulo, como os convidados chineses, consideram a cooperação com América Latina e Caribe como estratégica para a China. Apontaram os diversos projetos que vêm sendo implementados num novo patamar de relações e intercâmbios institucionais para estimular o desenvolvimento conjunto no continente.

As resoluções de Congressos do Partido Comunista da China foram mencionadas pela sua ambição e capacidade de transformação do gigante asiático numa potência econômica atual. Políticas pela eliminação da pobreza, a luta contra a pandemia, a prioridade dada ao povo, a persistência na independência e autodeterminação dos povos, procurando o progressos comum da humanidade e a harmonia do mundo, foram mencionadas como exemplares da governança chinesa.

A secretária-executiva do FSP, Mônica Valente (PT), mediou os debates mencionando a importância da articulação de lutas conjuntas antiimperialistas para combater a “profunda e complexa crise econômica financeira e social agravada pela pandemia e pelo conflito militar na Ucrânia”.

Ela apontou que a pandemia revelou que o neoliberalismo não consegue oferecer o mínimo para povos atingidos pela doença e pela recessão econômica. Ela também mencionou como o imperialismo age promovendo “guerra híbrida” informacional em todo o mundo, acompanhada de sanções e ataques midiáticos, para atingir seus interesses neocoloniais de forma inescrupulosa.

A vice-ministra do PCCh, Shen Beili, fez uma rápida menção à importância da pauta em debate. Revelou que o governo chinês está atento às crises institucionais, políticas e econômicas que atingem cada nação latino-americana de formas distintas. Ela mencionou violações aos direitos humanos de líderes políticos e ativistas de esquerda, desmonte de políticas sociais, processos judiciais e lawfare como práticas corriqueiras contra adversários políticos e desestabilização de governos progressistas. Ela espera que esta primeira sessão tenha continuidade e siga construindo a integração entre o FSP e o PCCh.

A parceria estratégica é justificada por Yanfeng, pela relação positiva de longa data que se estabelece entre o FSP, governos de países latino-americanos e caribenhos e a China. Uma parceria que se expressou durante a pandemia, de ambos os lados, seja em forma de apoio político à China diante dos ataques e acusações de Donald Trump, seja pelo comércio. Os insumos médicos e vacinas se espalharam pelo continente a partir da China, consumando-se o segundo destino comercial do país no mundo.

Ele observou que a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) afirmou que a cooperação com a China foi um fator importante para superação de impactos da pandemia e recuperação da região. As relações diplomáticas com a região está cada vez melhor estabelecidas.

Enquanto isso, o chinês observou que as forças de direita e conservadoras se aproveitaram da crise econômica agravada com a pandemia para privatizar e acentuar ainda mais a pobreza na América Latina. Enquanto a China tirou 800 milhões da pobreza, só em 2020, 90 milhões de latino-americanos foram jogados na pobreza, fora o impacto da recessão nas classes médias. O tema da erradicação da pobreza deve concentrar as atenções num próximo encontro do FSP com o PCCh.

Apesar da Guerra Fria que desestimula a relação entre os países do continente e a China, ele acredita que segue havendo amplo espaço de cooperação. Ele sugeriu uma pauta de temas de interesse comum. Citou a necessidade de incrementar o consenso político, os contatos populares, apoiando-se mutuamente com multilateralismo verdadeiro, pondo em prática uma agenda de desenvolvimento e esforços conjuntos para estabilizar a cadeia produtiva pós-pandemia. Mencionou as janelas comparativas para cadeias produtivas, logísticas e de valor para intercâmbio comercial, infraestrutura de finanças, nova onda de revolução científica e tecnológica, digitalização e desenvolvimento pela internet da economia global, enfrentamento à mudança climática, energias limpas, cooperação com a proteção dos oceanos e conservação de diversidade biológica.

Ele observou ainda a importância das eleições presidenciais na Colômbia e no Brasil, com possível vitória das forças progressistas de esquerda, para que principais economias da América Latina tenham mais espaços de cooperação entre China e o FSP.

Após as manifestações dos convidados chineses, dirigentes partidários de vários países apresentaram a realidade da parceria política de seus partidos com o PCCh, e como se expressa a condição das forças políticas progressistas em seus países. Foi o caso de Roy Daza, da Comissão de Assuntos Internacionais do Partido Socialista Unido de Venezuela e atualmente deputado da Assembleia Nacional. Aída “Mocha” Naranjo, do Partido Socialista falou do Peru, onde o governo de esquerda sofre ataques sistemáticos de desestabilização e tentativas de impeachment.

Ma`riano Ciafardini, do Partido Solidário, falou sobre a importância das cooperações com a China para a Argentina, e José Angel Maury de Todo, coordenador de América no Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista de Cuba, apontou os pontos comuns do enfrentamento de seus países aos ataques imperialistas dos EUA, com doutrina cada vez mais ofensiva e agressiva, sua mentalidade de guerra fria com estimulo a forças neofascistas.

O presidente da Assembleia Nacional, membro do Conselho  Sandinista e da Assembleia Sandinista Nacional da Nicarágua, Gustavo Porras, destacou a importância da Iniciativa Cinturão e Rota da Seda para as obras de infraestrutura e estímulo ao comércio entre o continente e a China.

O nicaraguense também destacou a Iniciativa Global de Segurança de Dados proposta e promovida pela Chinapara fortalecer o diálogo para a cooperação, implementar e desenvolver normas e regras para o ciberespaço: abordar o uso indevido das tecnologias de informação e comunicação (TIC) para incitar e cometer atos de terrorismo; melhorar os mecanismos de assistência jurídica para crimes cibernéticos.

Depois, falaram Esteban Silva, dirigente do Movimento do Socialismo Allendista de Chile, Rony Corbo, responsável pelo Foro de São Paulo na Carifa (Frente Amplio).

(por Cezar Xavier)