A luta em defesa da democracia e contra o golpismo de Bolsonaro ganhou um importante reforço. Nesta segunda-feira (1º), representantes de dezenas de partidos políticos, entidades e lideranças de variados segmentos da sociedade participaram de ato realizado pelo movimento Direitos Já, na sede do Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro, com transmissão pelas redes sociais. O evento reforçou a unidade de diferentes matizes ideológicas com um objetivo comum: enfrentar um dos momentos mais graves da história recente do Brasil.

Representantes de 11 partidos estiveram presentes, ressaltando a necessidade da união de forças na defesa do Estado democrático de direito e da Justiça Eleitoral contra os ataques da extrema-direita personificada no presidente da República.

Por vídeo, nomes internacionais da política e de diferentes entidades deixaram mensagens em que ressaltaram sua preocupação com a atuação de Bolsonaro e reforçaram a importância de fazer frente à escalada autoritária.

Ao abrir o evento, o coordenador geral do Direitos Já, Fernando Guimarães, fez a leitura da Carta do Rio de Janeiro, manifesto que traz os objetivos centrais do movimento neste momento. No manifesto, proclama-se “a indispensável necessidade de se defender a Justiça Eleitoral brasileira e a urgente vigilância para coibir, nos termos da lei, os atos de violência que ameaçam a paz da disputa eleitoral”.

O objetivo, explicita a carta, “é a defesa do sagrado direito democrático de os cidadãos escolherem livremente quem deve governá-los, direito que está em risco nos dias que correm. O presidente Bolsonaro e seus apoiadores advogam a prévia contestação das eleições, indicando que não aceitarão eventual derrota nas urnas. A estratégica busca desacreditar o sistema eleitoral e criar ambiente propício à conflagração armada da disputa, em prejuízo da paz social, da lisura do processo eleitoral, da independência das instituições e do seu bom funcionamento”.

O evento também veiculou vídeo em homenagem às vítimas da violência política desde 2018 até hoje, tendo como marco inicial o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes e terminando com o petista Marcelo Arruda, morto no mês passado por um bolsonarista em Foz do Iguaçu (PR).

Conforme lembrou a apresentação, levantamento feito pela UniRio indica o crescimento de 335% dos casos de violência política nos últimos três anos. Apenas no primeiro semestre de 2022, foram 214 registros, contra 47 no mesmo período em 2019. Estima-se que houve ao menos 1.209 ataques a políticos entre janeiro daquele ano até junho de 2022.

Resistência suprapartidária

A deputada federal e vice-presidenta do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), declarou: “Nosso partido é centenário e sabe bem o significado do autoritarismo e do fascismo”. Ela defendeu unidade e amplitude para fortalecer a luta contra o golpismo e destacou que a democracia é um valor que não se limita ao voto, mas também se traduz em garantia de direitos. “Não há ameaça de golpe que nos intimide, nossa resposta será nas ruas e nas urnas”, disse.

Chico Alencar, vereador do Rio de Janeiro que representou o PSol, destacou a necessidade de ocupar as praças públicas envolvendo a população neste movimento. E fazendo referência à canção de Aldir Blanc, concluiu: “uma dor assim, pungente, não há de ser inutilmente. Venceremos”.

O deputado federal Paulo Ramos, representando o PDT, lembrou que todo o processo atual teve início quando “Dilma foi deposta e o principal candidato (em 2018) foi encarcerado”. Nosso dever, disse, é “formar trincheiras” e finalizou: “a democracia vai prevalecer”. Pelo MDB, o deputado federal do Rio, Leonardo Picciani destacou o compromisso do partido com a democracia e com o sistema eleitoral.

Numa fala contundente, o deputado federal Marcelo Ramos, do PSD-AM, destacou que essa tarefa não é apenas dos democratas de esquerda e fez um chamado e uma crítica ao centro e à direita democrática “pela timidez na reação à marcha de Bolsonaro sobre a democracia e pelo pacto cínico feito dentro do parlamento brasileiro para avalizar essa marcha e não reagir da forma que a reação deveria se dar, não apenas pela esquerda, mas por todos os democratas brasileiros”.

Democracia e justiça social

Pelo PV, o deputado federal Ariel Machado (PR), destacou o cenário de fome e miséria enfrentado pelo país, apontando que “hoje não temos democracia para a maioria dos brasileiros”. E pontuou que a defesa da democracia vai além da eleição e se estende pela luta em defesa da justiça social.

Representando o PT, o deputado federal Paulo Teixeira (SP) recordou que “perdemos muitas vidas na luta pela democracia”, durante a resistência à ditadura, até chegarmos à conquista da Constituição de 1988. “Esse presidente faz parte do núcleo duro da ditadura, que não aceitou a abertura, não aceitou a anistia, não aceitou a constituinte, nunca respeitou a Constituição e nunca aceitou o processo eleitoral, fraudou a eleição de 2018 e hoje ataca a Constituição, abandona o povo à fome, à miséria, ao desemprego”.

Pelo PSB, o deputado federal Alessandro Molon (RJ), lembrou a construção do Direitos Já, criado logo após a eleição de Bolsonaro. “Aqui não há inimigos, pode haver até concorrentes, adversários eleitorais, mas não há inimigos da democracia. O que nos une aqui, disse, “deve ser o compromisso com a democracia, com o resultado eleitoral e com a prática da não violência nas eleições”.

Heloisa Helena, porta-voz da Rede, também lembrou a miséria que aflige boa parte da população e defendeu: “nossa luta é por democracia e sem justiça social não há democracia, mas é de fundamental importância derrotar o soldado covarde e sem honra que deixa feridos para trás, que é Bolsonaro, e derrotar este modelo, esse vampirismo do grande capital”.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), declarou: “vivemos um momento que requer força  maior dos democratas para o enfrentamento desse cenário. De forma muito clara, temos percebido ataques à democracia que, aliás, está sustentada na nossa Constituição Cidadã, a melhor de nossa história, e hoje essa democracia está em risco. E, mais grave, esse risco ecoa do Palácio do Planalto, tendo o presidente da República como a figura central”.

Também estiveram presentes ao ato e fizeram uso da palavra representantes de diversos movimentos sociais, entre os quais: Glaucia Morelli, da UBM (União Brasileira de Mulheres); Fernanda Machado, Unegro/RJ; Carol Proner, do grupo Prerrogativas; Aldo Arantes, da  ADJD (Associação de Advogados pela Democracia Justiça e Cidadania); Adilson Araújo, da CTB, representando o Fórum das Centrais Sindicais; Bruna Brelaz, presidenta da UNE; a ex-ministra da Cultura, Ana de Hollanda e a atriz Beth Mendes.

As falas foram intercaladas por apresentações musicais e ao final, o evento também exibiu mensagens dos presenciáveis Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) em defesa da democracia.