"O bolsonarismo surge por sobre os escombros da Nova República", diz Flávio Dino. Foto: reprodução

O governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB), em entrevista por videoconferência ao portal Yahoo nessa segunda-feira (9), falou, entre outros temas, sobre o contexto político nacional e o bolsonarismo.

Logo no início da entrevista, questionado sobre o recente episódio envolvendo a visita do presidente Bolsonaro ao estado e a sua declaração homofóbica envolvendo os maranhenses e o guaraná Jesus, Flávio Dino declarou: “Bolsonaro não prioriza a problemática real da população, apenas atitudes beligerantes, agressivas, visando mobilizar o ódio e sentimentos negativos. E ele acha que isso tudo tem algum tipo de humor, quando sabemos que imensos segmentos da população brasileira são, todos os dias, vítimas de violências morais e físicas, de vários tipos, e aquilo que o Bolsonaro acha que pode ser classificado como piada é, na verdade, um ato de violência simbólica”.

Sobre a disputa de 2022, Dino destacou: “A gente vai deixar o Bolsonaro ganhar? Deus me livre e guarde! Não podemos deixar o fascismo governando o Brasil, é muito sofrimento para o povo. Para o Brasil, é uma tragédia. O país não aguenta mais quatro anos de Bolsonaro. Amazônia não aguenta, Pantanal não aguenta, os pobres, negros, mulheres não aguentam. Ele vai acabar com a imagem externa do Brasil”.

Questionado se sem o processo de impeachment de Dilma Rousseff haveria Bolsonaro, Dino afirmou: “Acho que o impeachment foi um gravíssimo erro para a política brasileira. Lutei profundamente até o último instante, fiz tudo o que era possível, politicamente e juridicamente, com o meu partido, para que pudéssemos evitar essa inconstitucionalidade, esse é o ponto fundamental. O impeachment foi inconstitucional e a partir daí se desorganizou o jogo político”.

O governador continuou explicando que “foi a soma do impeachment com a crise econômica e a Operação Lava-jato que destruiu a Nova República. O bolsonarismo surge por sobre os escombros da Nova República, as ruínas do pacto político que fez a transição da ditadura para a democracia. Todos esses vetores convergiram para destruir essa pactuação política. Ficou um vazio, veio Bolsonaro. De modo que, sem dúvida, o impeachment, inconstitucional, foi o vetor para uma espécie de vale-tudo eleitoral que acabou resultando nesse tragédia, ou seja, aqueles que achavam que iam afundar o barco e se salvar no naufrágio, acabaram naufragando junto com o barco que eles afundaram”.

Com relação aos possíveis fiadores de Bolsonaro em 2022, Flávio Dino argumentou: “Tenho a impressão de que majoritariamente os militares continuarão com Bolsonaro. De um modo geral, o pessoal que usa arma continuará com Bolsonaro — latu sensu, armas legais e ilegais, indo dos militares às milícias; do setor militar urbano ao condomínio Vivendas da Barra”.

Sobre a sustentação de setores econômicos, o governador destacou: “A dúvida que eu tenho é em relação às elites econômicas. Porque em torno dessa causa extremista — destruir o PT e que, enfim, levou ao impeachment — as elites econômicas acabaram apoiando muito fortemente o Bolsonaro contra o Haddad no segundo turno. Tenho dúvida se isso continuará assim porque eu mesmo tenho, dentro dos meus modestos limites, feito um apelo ao bom senso no sentido de que isso é deletério ao Brasil. Se você pegar a perda de mercado que o nosso país permanentemente está ameaçado no que se refere à produção de alimentos, fruto de uma política externa insana, vemos que não há muita razão para que um segmento importante da elite econômica de nosso país — que é o agronegócio — mantenha sustentação a isso”.

Por Priscila Lobregatte
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