"Não podemos politizar a vacina, nem qualquer aspecto relacionado a essa pandemia", diz Flávio Dino

Governadores e secretários de Saúde de diversos estados condenaram a sabotagem de Bolsonaro à vacina chinesa contra o coronavírus. Segundo eles, a decisão sobre a compra das vacinas deve ser técnica e não uma “disputa eleitoral”.

“Se Bolsonaro desautorizar o amplo acordo feito por Pazuello, ele mais uma vez estará sabotando o sistema de saúde e criando uma guerra federativa. Espero que bons conselheiros consigam debelar esse novo surto de Bolsonaro”, disse Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão, que falou em recorrer à Justiça para ter acesso a vacinas validadas pela comunidade científica.

“Bolsonaro não pode dispor das vidas das pessoas para seus propósitos pessoais. E Bolsonaro vai perder de novo, se insistir com mais essa agressão insana aos estados”, acrescentou.

À Reuters, o governador do Maranhão explicou que os governadores pretendem acionar inicialmente o Congresso, mas também Justiça para garantir acesso da população às vacinas registradas no país. “A indignação é geral”, disse o governador.

Flávio Dino também criticou a nota lida pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, nesta quarta-feira (21), negando que haja um compromisso de compra da CoronaVac e afirmando que o protocolo assinado não seria “vinculante”.

“Essa nota agride o próprio ministro da Saúde, todos os governadores e a verdade do que aconteceu. Uma nota indecente”, destacou Dino.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), rebateu as declarações de Bolsonaro e pediu a ele “grandeza para liderar o País para a saúde”. “Não é razoável que um presidente não respeite seu ministro da saúde”, disse Doria em visita ao Congresso Nacional.

Questões eleitorais

“Temos que apelar ao presidente para que a gente tenha equilíbrio, racionalidade, empatia com quem pode pegar esse vírus. Um apelo mesmo para manter o que falamos ontem. É importante manter a decisão republicana de ontem e deixar de lado questões eleitorais, ideológicas. E torcer para que o que disse Bolsonaro não seja levado ao pé da letra”, avaliou Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo.

Para o secretário da Saúde da Bahia, Fabio Vilas-Boas, a decisão de Bolsonaro pode abrir uma nova crise no ministério. Desde o início da pandemia, dois ministros da Saúde pediram demissão após Bolsonaro discordar das medidas recomendadas pela OMS e recomendar medidas anti-científicas.

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), destacou a falta de compromisso de Bolsonaro com a população.

“Que o governo federal guie suas decisões sobre a vacina da Covid por critérios unicamente técnicos. Não se pode jamais colocar posições ideológicas acima da preservação de vidas. Lutaremos para que uma vacina segura e eficaz chegue o mais rápido possível para todos os brasileiros”, escreveu o governador do Ceará.

“Não podemos politizar a vacina, nem qualquer aspecto relacionado a essa pandemia. A postura do ministro Pazuello foi elogiada por todos, independente de posições partidárias. Espero que alguém possa conversar com calma e esclarecer o presidente sobre esse tema. Desejo ainda que essa não seja o anúncio de mais uma crise ministerial do governo atual”, diz o secretário de saúde Fabio Vilas-Boas, do governo Rui Costa (PT), da Bahia.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), defende que a decisão sobre compra de vacina seja técnica. Segundo ele, a decisão sobre a inclusão de uma vacina no Programa Nacional de Imunização precisa ser eminentemente técnica, não política. “Temos instituições renomadas trabalhando sobre esse assunto, como a Fiocruz e o Instituto Butantan”.

Leite aponta ainda que deve ser observado é a condição de segurança, viabilidade técnica e também a agilidade para disponibilizar a vacina. “A população precisa de uma vacina segura o mais rápido possível.”

Decisão impensada

“É para deixar todo mundo perplexo. Depois de uma reunião com quase todos os governadores do país, com Fiocruz, Butantan, representantes de municípios, o ministro afirma, dando esperança para o país, que vai fazer aquisição da vacina do Butantan, e também a Fiocruz, oferecendo segurança. E então o presidente da República, numa decisão impensada, anuncia que não vai fazer a compra da vacina chinesa”, afirma João Azevêdo, governador da Paraíba (PSB).

“Vacina não é de direita ou de esquerda, o que interessa é que tenha eficácia. Se for isso [que Bolsonaro falou], vai ter consequência muito grave e o preço vai ser muito caro. Não dá para compreender que um processo que deveria ser científico vire político”, completa.

Para Wellington Dias (PT), governador do Piauí, a saúde da população deve ser a prioridade. “O compromisso assumido ontem foi de comprar vacina produzida no Brasil, da Fiocruz-Manguinhos, e do Instituto Butantã, produção brasileira. A saúde do povo em primeiro lugar. E neste caso a saída da crise econômica que permite recuperar empregos e trabalhar solução para a calamidade social é a vacina. O compromisso do ministro Pazuello que selou entendimento com todos os estados e municípios foi claro, comprar da Fiocruz e Butantã”, disse.

 

 

(PL)