Acordo entre a Fiocruz e a multinacional, no valor de R$ 1 bilhão, só teve 2,8 milhões das 100 milhões de doses prometidas entregues

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmou no domingo (21) que o contrato com a farmacêutica multinacional AstraZeneca, que detalha a transferência de tecnologia para a produção do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina para o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), ainda não foi assinado.

Segundo a Fiocruz, a ausência de contrato não interfere no cronograma atual de entrega das vacinas, que já está atrasado. Até o momento, apenas os insumos para a produção de 2,8 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca chegaram ao Brasil. Os insumos são produzidos a partir de IFA importado do laboratório WuXi Biologics, na China.

O primeiro contrato entre a Fiocruz e a AstraZeneca foi assinado em setembro de 2020, previa a compra do IFA, ingrediente farmacêutico ativo, a matéria-prima usada na fabricação de vacinas. O contrato de mais de R$ 1 bilhão, que já foram pagos à multinacional, estabelecia ainda que seria assinado um segundo acordo, de transferência de tecnologia. Com isso, a Fiocruz passaria a produzir as vacinas do zero, sem depender mais do IFA importado.

O contrato com a AstraZeneca deveria ter sido assinado ainda em 2020, mas não foi firmado até agora. A resposta da Fiocruz foi de que “o contrato de transferência de tecnologia visando internalização do processo de produção de IFA não está assinado e não temos no momento um cronograma detalhado das entregas.”

Maurício Zuma, que dirige a fábrica da Fiocruz, admite o atraso na assinatura do contrato com a AstraZeneca. “Não foi assinado porque é um contrato complexo. Todo o conhecimento que está sendo transferido, toda a documentação, todos os materiais, insumos, os procedimentos, protocolos, isso tudo precisa ser checado, discutido, avaliado”, justificou o diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Maurício Zuma.

Em nota, a AstraZeneca esclarece que a negociação para assinatura do contrato está em andamento e deve ser concluída em breve.

A fábrica de Bio-Manguinhos já existe e passa por adaptações. Deve ficar pronta em março, mas a produção das doses 100% nacionais só pode começar depois que o acordo de transferência de tecnologia for assinado. O diretor diz que isso não tem impacto no fornecimento de vacinas.

“Até esse momento, esse, vamos dizer, atraso, esse tempo que a gente está levando para discutir o contrato, não gerou nenhum atraso no cronograma que a gente está prevendo”, alegou Maurício Zuma.

DISTRIBUIÇÃO

A demora na chegada de vacinas no Brasil causadas pela falta de prioridade do governo Bolsonaro com a compra de imunizantes já é motivo de alerta e fez com que muitas cidades já interrompam as campanhas de vacinação. Atualmente no Brasil, 9,8 milhões de vacinas distribuídas pelo Instituto Butantan, desenvolvida com o laboratório chinês Sinovac, e 2 milhões de doses da Covshield, produzida pelo Instituto Serum, da Índia, estão em distribuição para a população. As 2,8 milhões de doses produzidas a partir do IFA da AstraZeneca importado da China ainda não foram distribuídas pela Fiocruz.

A compra da Covshield para o governo brasileiro foi articulada pela AstraZeneca que não conseguiu entregar as doses que havia se comprometido até o início do ano.

Diante da escassez das vacinas da AstraZeneca, a Fiocruz já anunciou outra compra de dois milhões de doses do Instituto Serum que devem chegar a São Paulo na manhã de terça-feira (23) e serem encaminhadas à Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro. O total de doses, no entanto, ainda é muito baixo e seria suficiente para atender cerca de 0,5% da população.