Gravação de macristas defendendo "Gestapo contra sindicatos" fez presidente da Argentina se posicionar

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, propôs nesta terça-feira (4) que os tribunais de Justiça “investiguem sem demora” as denúncias de espionagem realizadas durante o governo de seu antecessor Mauricio Macri, quando autoridades defenderam a montagem de uma polícia secreta similar à da Alemanha nazista para exterminar com os sindicatos.

“A Justiça Federal está investigando uma denúncia que ordenei à Agência Federal de Inteligência (AFI) que investigasse ações do governo anterior que promoveram espionagem ilegal e várias perseguições judiciais contra sindicalistas e opositores”, escreveu o presidente no Twitter.

A Justiça está examinando a dimensão do complô para armar processos judiciais fantasiosos e parciais que resultassem em danos concretos para as entidades sindicais – para facilitar devastação dos direitos dos trabalhadores. Os fatos investigados ocorreram quando María Eugenia Vidal, da coalizão de direita, Cambiemos, alinhada a Macri, era governadora da província de Buenos Aires (2015-2019).

Numa reunião de junho de 2017, cuja filmagem foi encontrada nos arquivos da AFI, o então secretário de Trabalho da província, Marcelo Villegas declarou que se pudesse “ter uma Gestapo, uma força de ataque para acabar com todos os sindicatos o faria”.

Conforme ficou registrado na gravação, Villegas convidou o grupo que o escutava – empresários da construção, o prefeito de La Plata, outros ex-dirigentes e agentes da AFI – a abrir processos judiciais contra os sindicalistas.

“Dada a gravidade dos fatos e a existência de sérios indícios, precisos e concordantes que dão conta de um método ilegal de perseguição, a Justiça deve investigar sem demora e resolver as diferentes responsabilidades dos autores e cúmplices desses fatos”, conclamou o presidente.

Fernández recordou que assim ao assumir em dezembro de 2019 havia denunciado “a existência de mais de 100 telefones celulares criptografados fornecidos pela AFI que incluíam autoridades nacionais, mas também pessoas do sistema judiciário e parceiros políticos e comerciais de Cambiemos”. Esses telefones, recordou o presidente, haviam sido distribuídos a personalidades como a própria governadora, ao ex-presidente do Boca Juniors, Daniel Angelici; ao empresário Nicolás Caputo; ao ex-secretário da Justiça da província de Buenos, Aires Gustavo Ferrari, e ao ex-procurador-geral da cidade de Buenos Aires, Martín Ocampo. Ele se perguntou “por que esses telefones criptografados existem?” e “que segredos as autoridades políticas e judiciais preservaram com os empresários?” e sublinhou que “essas perguntas exigem uma resposta”.

“O uso do serviço de inteligência do Estado de Direito para realizar espionagem interna e promover processos criminais é definitivamente nojento e, portanto, inadmissível”, acrescentou o presidente.

A chefe da Agência Federal de Inteligência, Cristina Caamaño, que atua como interventora no órgão, reiterou que o papel do organismo “é colocar o serviço de informações a favor dos interesses nacionais”. “A AFI faz isso hoje. Acabar com

esses hábitos ilegais implantados na inteligência macrista revaloriza o Estado de direito e a convivência democrática”, concluiu.