Com um olho no petróleo e outro nas urnas Biden descreve execução na Síria

Ladeado por chefes militares e pela vice Kamala, o presidente Biden, cujos índices de popularidade andam rastejando a poucos meses das eleições intermediárias, anunciou na quinta-feira (3), com toda a pompa possível, que uma operação antiterrorista “removeu com sucesso” um suposto líder do Estado Islâmico, Abu Ibrahim Al Hashimi Al Qurayshi, perto de um campo de refugiados em Idlib, Síria.

Na véspera, Biden havia anunciado o envio de mais 3 mil soldados norte-americanos para o leste europeu. Eventos que são reveladores de que a campanha às eleições intermediárias de novembro nos EUA decolou de vez em Washington, com Biden usando a costumeira beligerância para cacifar no cenário externo.

As exaltações ao “sucesso” e a que “nenhum soldado norte-americano ficou ferido” foram turvadas pela revelação de que seis crianças e quatro mulheres foram mortas no ataque desencadeado pela força de elite Delta, que abrangeu 50 soldados, helicópteros – um dos quais acabou explodido no solo por quebra mecânica – e drones.

Segundo testemunhas, foram mais de duas horas de “tiros e explosões contínuas”. Washington asseverou que foi o próprio Al Qurayshi que se explodiu.

Reza a lenda que quando as coisas vão mal no front doméstico e as eleições estão chegando aí mesmo que nada como uma demonstração de força no exterior, um bombardeio, uma execução, para desviar a discussão de assuntos inglórios como inflação em alta, caos nas cadeias produtivas, programa Build Back Better encalacrado no Congresso e piores números na Covid até que Trump. Sem falar que ainda é preciso amenizar o vexame da retirada de Cabul.

Foi assim que Biden – com as tropas norte-americanas ocupando ilegalmente parte do solo sírio e dedicado ao roubo de petróleo – se empertigou para dizer que “graças à bravura das nossas tropas, esse horrível líder terrorista não existe mais”.

Tiros e explosões contínuas

Bravura? “Os moradores disseram que helicópteros sobrevoaram e as forças dos EUA entraram em confronto com homens armados por mais de duas horas em torno de uma casa de dois andares cercada por oliveiras”, detalha a AP. “Eles descreveram tiros e explosões contínuos que sacudiram a pacata vila de Atmeh, perto da fronteira turca, uma área pontilhada de campos para deslocados internos da guerra civil da Síria”.

Nas redes sociais circulou um áudio em que se ouve um homem falando com sotaque iraquiano por um alto-falante: “Se você não sair, temos ordens. Vamos disparar mísseis contra a casa. Há drones no alto”.

Houve uma grande explosão que destruiu grande parte do último andar. “O sangue podia ser visto nas paredes e no piso da estrutura restante, que continha um quarto destruído com um berço de madeira no chão”, registrou a AP.

“Em uma parede danificada, um balanço infantil de plástico azul ainda estava pendurado. A cozinha estava enegrecida com danos causados pelo fogo.”

Vídeos divulgados pelos ‘Capacetes Brancos’, que se autodenominam ‘Defesa Civil Síria’, mostraram um paramédico levando uma menina da casa para uma ambulância.

Uma foto de uma garota circulou nas mídias sociais mais tarde mostrando parecer ter cerca de cinco anos e com sangue no rosto.

“Eles mataram minha mãe e meu pai”, disse a menina aos socorristas que a resgataram. Segundo o relato, não ficou claro se era filha de Al Qurayshi.

Outro relato afirma que um integrante não identificado e sua esposa se barricaram no segundo andar e foram mortos em tiroteio com as forças dos EUA.

No seu tempo, Obama apelara para a execução extrajudicial de Osama Bin Laden, seguido de ‘enterro’ no mar. Como quem não tem cão caça com gato, Biden precisou se virar com Al Qurayshi, aliás Abdullah Qaradash, aliás, Abu Omar Al Turkmani – ou, se preferir, Mohamed Saeed Abdul Rahman.

Segundo a Associated Press, uma figura “obscura”, não aparecia em público e raramente lançava gravações de áudio. “Sua influência e envolvimento diário nas operações do grupo não são conhecidos”. Aderiu à Al Qaeda durante a ocupação do Iraque, quando estava preso em um cárcere norte-americano, em 2008. Ao contrário do antigo chefão do Estado Islâmico, Al Baghdadi, não há fotos dele reunido com o então senador John McCain, um dos patrocinadores do assalto à Síria, antes de virar ‘califa’.

O gênio acabou saindo da lâmpada e contrariando os interesses norte-americanos e sauditas imediatos, com os resultados conhecidos. Agora, por uma incrível metamorfose, o instrumento norte-americano no Afeganistão, devidamente transplantado pela Air CIA para a província que defronta com Xinjiang chinês, é o ‘Estado Islâmico Khorasan’.

Jogando para a plateia

No que parece a confirmação do plágio, a Casa Branca revelou que Biden supervisionou tudo desde a Sala de Situação, com a vice, Kamala Harris, o secretário de Defesa Lloyd Austin, o chefe do Estado Maior Conjunto Mark Milley e outros figurões da segurança nacional.

Com tão ilustres e capazes líderes militares ao seu lado, um olho na telinha e outro nas urnas de novembro, Biden asseverou que “esta operação é uma prova do alcance e capacidade dos Estados Unidos de eliminar ameaças terroristas, não importa onde tentem se esconder em qualquer lugar do mundo”.

“Estou determinado a proteger o povo americano das ameaças terroristas e tomarei medidas decisivas para proteger este país”, reiterou.

Não sem antes ter lembrado algumas da herança maldita trazida pela invasão e ocupação do Iraque pelos EUA. “Todos vocês se lembram das histórias angustiantes dos massacres em massa que destruíram vilarejos inteiros. Milhares de mulheres e meninas vendidas como escravas. Estupro como arma de guerra. Graças às nossas tropas, esse horrível líder terrorista é não mais”.

Como se sabe, nada disso existia sob Saddam, é a consequência da invasão norte-americana e da ocupação para assaltar o petróleo. Menos cínico, seu antecessor, Trump, havia esclarecido sobre o que realmente se trata toda essa obsessão norte-americana com o Oriente Médio, o Islã e os muçulmanos: “adoro petróleo”.