O ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, com o pastor Gilmar Santos

O ex-ministro Milton Ribeiro disse numa reunião com prefeitos, ocorrida dentro do MEC, e vazada, que daria prioridade aos pedidos do pastor Gilmar Santos depois de um pedido especial feito a ele de Jair Bolsonaro.

Gilmar Santos e o outro pastor que também pediu propina para liberar verbas do MEC, Arilton Moura, eram ligados a Bolsonaro e frequentadores assíduos do Palácio do Planalto.

O esquema criminoso, denunciado pelos prefeitos, que envolvia a exigência, por parte dos pastores, de pagamento de propina em dinheiro, em barras de ouro ou até comprando bíblias produzidas pelos criminosos, para que houvesse a liberação das verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), tinha, portanto, o aval de Jair Bolsonaro.

Os dois pastores fizeram dezenas de visitas ao Planalto e foram vistos diversas vezes junto com Bolsonaro. Só Arilton Moura foi 35 vezes ao Planalto, segundo a agenda oficial do Palácio.

Agora, com a prisão do ex-ministro, veio a público a informação que Milton Ribeiro, por quem Bolsonaro disse que colocaria até a cara no fogo, recebeu, na conta de sua mulher, um depósito de um parente do pastor Arilton Moura no valor de R$ 50 mil.

A desculpa esfarrapada do ex-ministro para este dinheiro, foi de que a quantia depositada se referia à venda de um carro. A lorota faz lembrar as histórias que o Queiroz – o faz-tudo dos Bolsonaros e operador da rachadinha – contava para explicar os milhões achados em sua conta. Dizia que fazia “rolos com carros usados.”

O advogado de Milton Ribeiro inventou a desculpa do dinheiro mas ainda não combinou com os russos. “Tem um depósito de 50 mil reais de um parente do Arilton na conta da mulher do Milton Ribeiro, pois ela queria vender um carro e um parente do Arilton queria comprar. Por isso, o depósito foi na conta dela, pois o carro estava no nome dela”, disse Daniel Bialski, advogado de Milton Ribeiro.

Só tem um problema, ele não mostrou nenhuma prova da suposta venda do carro por parte da mulher do ex-ministro para o familiar do pastor Arilton.

A prisão de Ribeiro, numa operação da PF, batizada como ‘Acesso Pago’, foi determinada pela Justiça por causa de seu envolvimento em um esquema de cobrança de propina que era exigida por pastores para a liberação de verbas do Ministério da Educação.

Bolsonaro mentiu em sua entrevista na Rádio Itatiaia, nesta quarta-feira (22), ao dizer que o ministro havia sido demitido na época. Não é verdade. Completamente desmoralizado, ele pediu para sair. Na ocasião, Bolsonaro deu todo apoio a Milton Ribeiro. Disse que ele tinha pedido o afastamento mas que, quando tudo fosse esclarecido, ele voltaria para o seu cargo. Agora, com toda essa lambança, ele mudou o discurso e afirma que Ribeiro terá que se explicar.

As prisões de Milton Ribeiro, do pastor Gilmar Santos, de Arilton Moura, do advogado Luciano Musse e do ex-assessor da Prefeitura de Goiânia Helder Bartolomeu caíram como uma bomba na campanha de Bolsonaro, que já vem enfrentando dificuldade pelo tamanho de sua rejeição, e vinha insistindo na demagogia de que em seu governo não havia corrupção.

A estratégia foi para o vinagre. Os pastores que cobravam a propina e agora estão presos eram intimamente ligados à família Bolsonaro. Eles não eram nem servidores públicos do Ministério da Educação, mas, com o aval que tinham do Planalto, determinavam quem recebia ou não as verbas do FNDE. Tudo dependia do pagamento da propina.

A história de que não há corrupção no governo Bolsonaro já não vinha colando, agora, ela desabou de vez. O que não há neste governo não é corrupção, mas sim a apuração de corrupção. Quem denuncia qualquer malfeito é perseguido e ameaçado por Bolsonaro e por suas milícias digitais e físicas.

Bolsonaro perseguiu todos os órgãos de combate à corrupção. Começou pelo Conselho de Atividades Financeiras (Coaf), depois perseguiu funcionários da Receita Federal, em seguida nomeou Augusto Aras para acobertar investigações na Procuradoria Geral da República e buscou de todas as formas aparelhar a Polícia Federal.

Qualquer um que denunciasse corrupção dentro de seu governo sofria ameaças. Este foi o caso do servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, que denunciou a propina da Covaxin. Ele foi exonerado e hoje vive fora do Brasil com sua família depois de sofrer ameaças de morte.

O ex-ministro de Bolsonaro foi detido pela Polícia Federal e está sendo investigado por corrupção passiva; prevaricação (quando um funcionário público ‘retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício’, ou se o pratica ‘contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal’); advocacia administrativa (quando um servidor público defende interesses particulares junto ao órgão da administração pública onde exerce suas funções); e tráfico de influência.