Enquanto as autoridades médicas informavam duas mortes pelo novo coronavírus, em um hospital de Seattle, na Costa Oeste, na sexta-feira, as primeiras mortes reconhecidas da pandemia nos EUA, o presidente Donald Trump, em um comício na Carolina do Sul acusou a oposição democrata de “politizar o coronavírus”. “Esta é a nova fraude deles”, acrescentou.

No sábado, declararam mortes pela Covid-19 pela primeira vez também a Austrália e a Tailândia. E cresce o número de óbitos fora da China, que já chega a 127, sendo 34 na Itália, 54 no Irã, 22 na Coreia do Sul e outros 17 em sete países, de quatro continentes.

Os dois primeiros óbitos de norte-americanos pelo coronavírus foram no Evergreen Health Medical Center, no subúrbio de Kirkland, em Seattle. Os médicos disseram que o homem de 50 anos que morreu no sábado não tinha vínculos com quem havia viajado ou estivera em contato com alguém de um país de alto risco. Problemas de saúde subjacentes podem ter contribuído para o curso de sua doença.

O teste genético viral ligou sua infecção ao primeiro caso nos EUA a partir de janeiro. O que acarreta o temor de a epidemia esteja se espalhando há várias semanas, com possivelmente centenas de contágios.

Na sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como “muito alto” o risco de epidemia no mundo, equiparando-o à avaliação que já vigora na China desde janeiro. Já são 62 os países com casos do novo coronavírus e, dos 2.266 novos contágios constatados no mundo inteiro no sábado, apenas 557 eram da China.

Patamar de risco mais elevado que se deve, segundo a OMS, a duas razões: dificuldade em identificar casos devido a sintomas inespecíficos e transmissão não detectada, assim como o potencial de grande impacto nos sistemas de saúde em alguns países afetados e potencialmente afetados.

A OMS alertou ainda que a disseminação da doença “continua a aumentar”, destacando como, a partir do surto na Itália, o contágio se estendeu a 14 países, e, desde o Irã, a 11.

Também chama a atenção, a rapidez de contágio. No fim de semana, o número de casos na Alemanha dobrou e na Itália houve uma alta de 50%.

Em entrevista coletiva na quinta-feira, o principal especialista chinês no combate à epidemia da Covid-19, Zhong Nanshan, o descobridor do coronavírus responsável pela epidemia de 2003, assinalou com a atuação preponderante levada a cabo a nível nacional logrou conter o número de casos de contágio ao quadro atual, e a expectativa das autoridades é ter a situação controlada, exceto na província de Hubei, o epicentro, até o final de abril. A China anunciou que 90% das empresas estatais já retomaram a produção, fora de Hubei.

No domingo, o número de novos casos confirmados na China continental caiu de 573 na véspera para menos da metade, 202, levando o número total de casos para 80.026. Não houve mortes fora da província de Hubei, onde ocorreram 42. Com isso, o total de óbitos desde o início do surto na China é de 2.912. Dos 42 mortos em Hubei no domingo, 32 foram na capital, Wuhan.

De acordo com Zhong, embora tenha sido primeiramente detectado na China, não há certeza de que o coronavírus tenha origem no país. “O vírus foi transmitido de pessoa para pessoa, mas não sabemos ainda ao certo a sua origem”, afirmou.

Zhong assinalou que a prioridade agora é compreender a causa da morte dos infectados com o vírus – o que é especialmente importante agora que as empresas e as escolas começam a retomar suas atividades. Ele aconselhou a comunidade internacional a adotar medidas semelhantes às da China. Com o contágio chegando às grandes cidades do mundo, mais que nunca – enfatizou – as medidas mais eficazes são a detecção a tempo e o isolamento, ao lado da gestão hospitalar.

No pior surto na Europa, na Itália o número de casos confirmados aumentou de 1128 no sábado para 1694 no domingo – um salto de 50% – e o número de mortos aumentou para 34, de acordo com a Reuters. “Este é o maior salto na propagação do vírus em um dia”, disse a Sky News. Houve 83 altas. As escolas e universidades italianas permanecerão fechadas pela segunda semana consecutiva em três regiões do norte. No sábado, a American Airlines anunciou que estava suspendendo todos os voos dos EUA para Milão. Analistas temem que o surto leve a economia frágil da Itália à sua quarta recessão em 12 anos, com muitas empresas no norte rico perto da paralisação e hotéis sob uma onda de cancelamentos. Roma divulgou na sexta-feira um pacote de ajuda no valor de € 900 milhões para as 11 cidades sob quarentena.

Segundo a Comissão Europeia, já são 2.100 infectados em 18 países da União Europeia. Na França, o Museu do Louvre fechou devido ao receio de contágio. Estão temporariamente proibidas reuniões públicas com mais de 5 mil pessoas em espaços confinados. Meia-maratona de 40 mil participantes programada para o domingo foi cancelada.

O número de contágios na França aumentou 30% em 24 horas, para 130, com nove pessoas em estado grave. Já houve duas mortes.

O Instituto Robert Koch da Alemanha mais que dobrou sua contagem de infecções em todo o país, para 129, no domingo. Na Espanha, mais de 700 turistas estão confinados em um hotel nas Ilhas Canárias, depois de vários convidados italianos terem testado positivo para o coronavírus. No Reino Unido, o total de casos no Reino Unido subiu para 36, 13 deles confirmados no domingo. Entre eles, o primeiro caso na Escócia.

Casos de contágio na América Latina foram relacionados à Europa. No sábado, o Equador registrou seu primeiro caso, uma mulher que viajou de Madri. No México, os cinco casos são de pessoas que visitaram a Itália. Dois casos no Brasil foram rastreados até a Itália.

686 novos casos na Coreia do Sul elevaram no domingo o total dos contágios para 4212 – o maior número de casos fora da China – com 22 mortos, a grande maioria relacionados com a igreja messiânica de Daegu, cujos membros secretamente haviam estado em Wuhan.

No Japão, são 256 casos e seis mortos e o grande temor é que a epidemia ameace a realização dos Jogos de Tóquio. No surto do navio de cruzeiro Diamond Princess, que acabou ancorado ao largo de Yokohama, ocorreram 705 casos, com seis mortos.

No Irã, o Ministério da Saúde registrou que já são 54 mortos na epidemia de Covid-19 e 978 contágios. Houve 175 altas. A maioria dos casos aconteceu em Teerã e Qom. O fechamento de universidades e a proibição de shows e eventos esportivos foi estendida por uma semana. Um parlamentar iraniano, eleito nas eleições de 21 de fevereiro, morreu da doença. Dos países do Golfo, o único em que ainda não há contágios registrados é a Arábia Saudita.

São 70 casos de Covid-19 nos EUA, tendo sido confirmados contágios em Chicago e Rhode Island. Nomeado por Trump para encabeçar a força-tarefa que irá supervisionar o combate ao coronavírus nos EUA, o vice Mike Pence asseverou que o governo estava fazendo “todo o possível” para conter o surto e se disse “confiante” de que os EUA estavam “preparados”. Já o secretário de Saúde, Alex Azar, disse à Fox News que o público estava reagindo exageradamente à ameaça atual. Pence admitiu à CNN que “mais casos” eram “prováveis”.

No ato de anúncio de sua força-tarefa antiepidemia, Trump mudou um pouco o tom do comício da véspera, dizendo que estava pedindo “respeitosamente à mídia e aos políticos” para “não provocarem pânico”, porque “não há razão para entrar em pânico”. Cometeu, depois a gafe de manifestar condolências à “paciente de quase 50 anos com condição de risco” e que era “uma mulher maravilhosa”, e só mais tarde algum assessor o corrigiu sobre o sexo da vítima.