Segundo The New York Times, não vacinadas constituem a imensa maioria dos pacientes hospitalizados e dos mortos.

O total de mortes por Covid-19 nos Estados Unidos atingiu a marca dos 900 mil na sexta-feira (4), segundo dados da Universidade Johns Hopkins – o que corresponde a mais do que toda a população de São Francisco -, apesar de toda a crença de que a variante Ômicron seria mais ‘benigna’. Foram 3.895 mortes em 24 horas, elevando a média de sete dias para 2.656, de acordo com a contagem da Newsnodes.

Segundo o jornal The New York Times, pessoas não vacinadas constituem a imensa maioria dos pacientes hospitalizados e dos mortos.

Por todas as estimativas, espera-se que os EUA ultrapassem um milhão de casos antes do final de março, se o ritmo atual de mortes continuar. Só em janeiro, mais de 60 mil norte-americanos morreram.

Sob o triplo açoite do negacionismo, da falta de um sistema público de saúde e da ineficácia dos governos federal, estaduais e municipais, a cada meia hora 55 norte-americanos estão morrendo de coronavírus, quase 2.700 ao dia.

A taxa de mortos por Covid-19 – assinalou o NYT – “subiu 30% em duas semanas” e “já se foi a esperança de que a onda da assim dita menos severa variante Ômicron pouparia os EUA da dor das ondas passadas”.

Agora, acrescenta o jornal, as mortes ultrapassaram “os piores dias do surto de outono da variante Delta, e são mais de dois terços do número recorde do inverno passado, quando as vacinas estavam praticamente indisponíveis”.

Como as mortes por Covid-19 sob o governo Biden já superam as sob o governo Trump, não dá para colocar tudo exclusivamente na conta do negacionismo e há que se levar em conta fatores adicionais para o desastre, como a insuficiente testagem e rastreamento de contágios, a privatização extremada do sistema de saúde, a falta de democracia e a incompetência e incúria.

A média de novos casos de Covid nos EUA é de 356.658, de acordo com a Johns Hopkins; com os casos tendo caído 38% desde a semana passada. São 122.627 as pessoas hospitalizadas atualmente com Covid-19 nos EUA.

Pouco mais de um quarto (26,8%) da população total dos EUA está totalmente vacinada e recebeu uma dose de reforço, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Cerca de 64% recebeu pelo menos as duas primeiras doses.

“As taxas de morte são tão altas nos Estados Unidos – assombrosamente altas”, disse Devi Sridhar, chefe do programa de Saúde Pública da Universidade de Edimburgo, na Escócia, que tem apoiado a amenização das regras antiepidêmicas em partes da Grã Bretanha. “Os EUA se atrasaram”.

Sob Biden, os EUA mantiveram a triste condição de recordista mundial de contágios e de mortes pela Covid-19.

Se na comparação com a China – da política de tolerância zero à Covid, testagem de massa, rastreamento de contatos, bloqueios direcionados e vacinação -, o resultado dos EUA diante da pandemia nem dá para começo (2 mortos em 2021 na China, contra 470 mil nos EUA, o que alguém ironizou como “um vírus, dois sistemas”), mesmo no confronto com outros países ricos, especialmente os europeus, os EUA também ficaram bem para trás.

Conforme o NYT, os EUA falharam em vacinar tantas pessoas quanto outras nações ricas. Crucialmente, a taxa de vacinação para as pessoas mais idosas também fica atrás de certas nações europeias.

Falharam também nas doses de reforço, deixando grande número de pessoas vulneráveis com proteção precária conforme a Ômicron varria o país.

Apesar de ter começado a vacinação meses mais cedo que outros países como Japão, Canadá e Austrália, uma parcela menor de pessoas nos EUA está agora totalmente vacinada.

Em doses de reforço, ficou atrás da Bélgica, Grã Bretanha, Alemanha, Holanda, França, Canadá, Suécia e Austrália.

Lanterna entre os países ricos

Desde 1º de dezembro, quando foi anunciado o primeiro caso de Ômicron nos EUA, a parcela de americanos que foi morta pelo coronavírus é pelo menos 63% maior do que em qualquer dessas nações grandes e ricas, segundo esse levantamento.

Nos meses recentes, os EUA ultrapassaram a Grã Bretanha e a Bélgica a ter, entre as nações ricas, a maior parcela de sua população que morreu de Covid na pandemia.

As admissões hospitalares alcançaram nos EUA taxas muito mais altas do que na Europa Ocidental, deixando alguns estados com dificuldade em prestar atendimento.

Os norte-americanos agora estão morrendo de covid a aproximadamente o dobro da taxa diária de britânicos, e quatro vezes a dos alemães.

20% dos americanos com 65 anos ou mais não receberam as duas doses da Moderna ou da Pfizer (ou uma da Johnson & Johnson). 43% não receberam uma dose de reforço. Na Grã Bretanha, em contraste, apenas 4% das pessoas com 65 anos ou mais não foram plenamente vacinados e somente 9% não receberam a dose de reforço.

Outro aspecto do problema é mostrado por pesquisas que revelam que são os norte-americanos mais pobres os que têm maior probabilidade de continuarem sem vacinação e, portanto, sob maior risco de morrer de Covid.

Sem SUS

Um pesquisador, como citou o portal Common Dreams, ao apontar para um gráfico que mostrava os resultados dos EUA e de outras nações ricas, fez uma pergunta arguta: “você sabe o que cada país neste gráfico, exceto os EUA, tem?”. E matou a charada: “sistema de saúde universal”.

Ou, como assinalou o professor da Universidade da Califórnia, Daniel Farber: a compilação de dados do Times destaca “o lado negro do excepcionalismo americano”.

Uma pesquisa da Kaiser Family Foundation mostrou que os norte-americanos não vacinados são mais propensos a não ter plano de saúde do que os adultos vacinados.

Questão já abordada anteriormente pela jornalista especializada em Saúde, Natalie Shure, do The New Republic. “Embora o Congresso tenha aprovado uma legislação exigindo que as vacinas Covid-19 sejam gratuitas no ponto de uso para todos os residentes dos EUA, cerca de um terço das pessoas não vacinadas citaram o medo do custo como uma razão significativa para que ainda não hajam recebido a vacina”.

Coincidentemente, como observou Shure, “pacientes em todo o país foram atingidos por contas médicas relacionadas ao coronavírus durante a pandemia, às vezes sendo atingidos por cobranças altas por testes e tratamento, apesar dos mandatos do Congresso”. O que ela apontou como “a mais recente ilustração do estrago causado por um sistema de saúde que milhões de pessoas estão aterrorizadas demais para usar”.

De acordo com um estudo divulgado em dezembro pela West Health e Gallup, 30% dos adultos dos EUA relataram pular o tratamento por um problema de saúde nos três meses anteriores e quase 60% disseram que a pandemia aumentou suas preocupações com os custos de saúde.

“Um em cada 20 adultos americanos – cerca de 12,7 milhões de pessoas – relata conhecer um amigo ou membro da família que morreu no ano passado depois de não receber tratamento porque não podia pagar”, descobriu o estudo.