Legenda: Prefeitura indenizou a família de Breonna Taylor que foi morta por policiais dentro de sua casa | Foto: Etienne Laurent/EPA-EFE

A família de Breonna Taylor, paramédica negra morta com oito tiros por policiais em março dentro de sua própria casa, vai receber US$ 12 milhões da prefeitura de Louisville, cidade no Estado norte-americano de Kentucky onde a jovem de 26 anos vivia, anunciou o prefeito Greg Fischer na terça-feira (15).

O acordo determina ainda reformas na corporação para evitar outras mortes sem sentido e torna obrigatório que os comandantes de unidades aprovem mandados de busca antes que sejam submetidos a um juiz.

Durante as jornadas de maio contra o racismo e a impunidade policial, uma das respostas que mais ecoou pelas ruas da América à convocação em coro de “Diga seu nome” foi “Breonna!”

O caso é um retrato dos Estados Unidos atual. No meio da noite, três policiais à paisana arrombaram a porta de Breonna, que estava com seu namorado, Kenneth Walker, sem se anunciarem. Em legítima defesa diante do que acreditava ser um ataque de intrusos armados, o namorado, que possui legalmente uma arma, como é comum nos EUA, reagiu atirando e atingiu um agressor na coxa.

Os policiais desencadearam então uma fuzilaria, matando Breonna – uma morte estúpida e desnecessária.

Não havia droga alguma no local. A operação começou errada do começo ao fim e foram ignorados protocolos de procedimento e de segurança. Walker denunciou que após balearem Breonna, os policiais não chamaram os serviços de emergência.

A família de Breonna havia entrado com um processo contra os policiais por “uso de força excessiva e homicídio por negligência”. Os agentes não procuravam nem a profissional da Saúde nem o namorado, mas por um suspeito que não vivia no prédio e que já estava detido. No chão do apartamento, ficaram mais de 20 cartuchos.

“Breonna não representava nenhuma ameaça para os agentes e não fez nada para merecer morrer. Os tiros foram disparados cegamente pelos agentes em toda a casa de Breonna”, registrou a acusação formalizada pela família.

A indenização, que segundo a Associated Press é a maior já paga na história de Louisvile por um erro policial, é parte do acordo entre a prefeitura e a mãe de Breonna, Tamika Palmer, que processou os policiais assassinos.

Mas a indenização e o compromisso de reformas nas ações policiais não são, ainda, justiça feita. No domingo, após vencer o GP da Toscana de Fórmula 1, o piloto inglês Lewis Hamilton fez questão de prestar homenagem à jovem negra, cujo assassinato completava seis meses nesse dia. Ele vestiu uma camisa que com os dizeres “prendam os policiais que mataram Breonna Taylor”. “Não vamos ficar em silêncio”, reiterou.

É como os manifestantes vêm exigindo: “sem justiça, sem paz”. Familiares, advogados e ativistas de direitos civis continuam exigindo que os policiais sejam levados a julgamento, mesmo que seja evidente que dois deles irão alegar “legítima defesa” por estarem “sob fogo”.

Apenas o policial que disparou do estacionamento, sem sequer estar sob fogo, Brett Hankison, foi demitido. Os outros dois mantiveram seus empregos. Nenhuma acusação criminal foi apresentada contra eles.

O mandato judicial que algum juiz concedera aos três era o polêmico “no knock”, o “sem bater na porta”, agora proibido em Louisville por uma lei que leva o nome da paramédica.

Sob pressão, o procurador-geral do Estado anunciou uma investigação e a nomeação de um grande júri. O advogado da família de Breonna, Ben Crump, é o mesmo que representa a família de Ahmaud Arbery, o jovem brutalmente assassinado enquanto corria.