EUA e China chegaram, em princípio, a um acordo comercial “fase 1”, de acordo com as agências de notícias. Segundo relatos sobre o acordo — cujo detalhes ainda vão ser divulgados — os EUA concordaram em reduzir algumas das tarifas sobre US$ 360 bilhões em bens chineses e não avançar com tarifas adicionais sobre uma ampla gama de bens de consumo, que entrariam em vigor no dia 15.

Em troca, a China concordou em aumentar as importações de produtos agrícolas dos EUA e outros bens. Segundo uma fonte citada pelo jornal inglês Guardian, “o acordo escrito ainda está sendo formulado, mas eles chegaram a um acordo em princípio.”

Partiu do próprio Trump, pelo Twitter, o anúncio de que era iminente um acordo. “Chegando muito perto de um grande negócio com a China. Eles querem e nós também”, tuitou.

A tuitada substituiu blefe anterior de Trump, de que era a China que “estava ansiosa por um acordo”, mas os EUA estavam preparados para “esperar — possivelmente até depois das eleições em novembro de 2020”.

A notícia encantou os apostadores de Wall Street e serviu de mote para altas recordes dos índices S&P 500 e Nasdaq, e com o Dow não muito longe de seu pico recorde.

De acordo com o Wall Street Journal, a oferta dos EUA para reduzir as tarifas que já impôs – uma taxa de 25% sobre 250 bilhões de dólares em bens chineses e uma taxa de 15% sobre o valor de 110 bilhões de dólares – foi decidida na última semana. Elas podem ser cortados pela metade.

Segundo o Journal, o acordo incluiria uma disposição chamada “snapback” sob a qual a tarifa seria imediatamente reimposta se fosse determinado que a China não está cumprindo seu lado do acordo. A pergunta que fica é por quem e como será determinado se houve uma violação do acordo?

Um mecanismo desse tipo vinha sendo pleiteado desde o início do conflito comercial pelo representante de Comércio dos EUA Robert Lighthizer.

Um dos principais pontos de atrito nas negociações foi a exigência dos EUA de que Pequim concorde por escrito em aumentar suas compras de produtos agrícolas dos EUA, para entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões, em comparação com o nível prévio de US$ 25 a US$ 30 bilhões.

A China rechaçou tal exigência, assinalando que para atender a esse nível de importações, teria de violar as regras da Organização Mundial do Comércio e tal ação significaria o uso da autoridade governamental para discriminar outros países.

A disputa sobre a agricultura destaca a dubiedade da posição de negociação dos EUA. Por um lado, tem protestado contra a China por usar o poder do Estado em vez de depender de “forças de mercado” em sua economia, enquanto, por outro, exige que o poder estatal chinês seja usado para discriminar em favor dos produtores dos EUA.

Trump tornou a agricultura um foco central por causa das dificuldades econômicas que a retaliação chinesa contra suas tarifas levou a regiões agrícolas. Esses estados são vistos como cruciais para suas perspectivas eleitorais na eleição presidencial do próximo ano e ele quer apresentar o acordo como uma “vitória” para os agricultores dos EUA.

O acordo da “fase um” não inclui qualquer acerto sobre as questões mais espinhosas do contencioso entre os dois países, como os subsídios do governo chinês às estatais e o programa de desenvolvimento tecnológico de ponta

Essas questões foram levantadas em comentários sobre o acordo. Esta semana, o conselheiro comercial da Casa Branca, Peter Navarro, divulgou um memorando sob um pseudônimo pouco disfarçado atacando um acordo de fase um e pedindo ao presidente que anuncie nenhum acordo até depois da eleição e “suba as tarifas para a vitória”.

O canal de negócios CNBC, que informou pela primeira vez sobre o memorando, disse que Navarro tinha tido problemas com a arquivamento de medidas sobre propriedade intelectual e tecnologia que haviam sido em versões anteriores das propostas dos EUA.

Mesmo com o “acordo fase um”, em Washington não amaina a histeria antichinesa, seja pelo lado republicano ou democrata.

O senador republicano da Flórida Marco Rubio tuitou que um pacto de curto prazo “daria uma alavancagem tarifária necessária para um acordo mais amplo sobre as questões que mais importam, como subsídios a empresas nacionais, transferências de tecnologia forçadas e bloqueio do acesso das empresas americanas a setores-chave”.

Três democratas do Senado – líder da minoria Charles Schumer, Ron Wyden e Sherrod Brown – pediram em carta a Trump para “permanecer firme” em qualquer acordo fase um. Tal acordo, escreveram, tinha de ir além da recalibração da balança comercial com a China.

A não extração de “compromissos seguros do governo chinês para promulgar reformas estruturais substantivas, impositivas e permanentes” “comprometeria a prosperidade americana”. A carta conclui conclamando a que “a força é a única maneira de vencer a China, e os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de recuar agora.”