Carol Solberg em participação ao Papo de Segunda, na GNT

A jogadora de vôlei de praia Carol Solberg anunciou que recorrerá da punição sofrida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por se manifestar contra o governo Bolsonaro em uma entrevista dada após conquistar uma medalha. A atleta denunciou o momento de censura aos que são contrários ao governo Bolsonaro.

Carol Solberg participou, na segunda-feira (19), do Papo de Segunda, na GNT. Durante o programa, ela mostrou indignação com a multa transformada em advertência, que recebeu. Para ela a punição do STJD não amenizou a situação. “Alívio de jeito nenhum. Por tudo que está acontecendo nesse país, esses absurdos todos. Então eu acho uma loucura, de alguém dizer o que posso e o que eu não posso”, afirmou.

A atleta não se mostrou arrependida da fala e disse que recorrerá da punição. “Vou recorrer; não concordo com essa decisão. Acho que me sinto no direito quando estou dando uma entrevista, é o momento onde eu tenho voz. Eu acho que tenho que poder falar o que eu quiser, sim”, defende.

“Olha, eu acho que o atleta tem que poder falar o que ele quiser, essa é a minha opinião. Não tem nem como ficar negociando, posso falar até ali, até aqui. Eu acho que eu não fiz, eu não usei aquela entrevista como palanque. Não é política, são questões de direitos humanos, vai para outro lugar. É uma indignação, eu sou uma cidadã, como outro qualquer. Quero estar numa entrevista e me sentir à vontade, falar o que eu quiser, o que eu acredito”, disse Carol Solberg.

Em entrevista à Revista Vogue, publicada nesta terça-feira, Carol reafirmou as razões da critica ao governo Bolsonaro. “O que me levou a dar aquele grito após o jogo foi o fato de estarmos vivendo um pesadelo no Brasil. É muito retrocesso. Muita injustiça! É um desprezo total pelo meio ambiente, um desmonte da cultura, uma política covarde com as minorias, um governo que faz apologia a tortura, que ameaça a imprensa, que ri da nossa cara e mente descaradamente”, explicou.

A punição a Carol trouxe à tona o tema do posicionamento político dos atletas. “Estamos passando por um momento de censura. Se for contrário ao governo atual, censurado. A liberdade de expressão precisa prevalecer em qualquer ambiente – inclusive no esporte” destacou a jogadora.

PUNIÇÃO

Carol foi advertida por supostamente ter descumprido, na visão do STJD, o artigo 191 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que diz: “deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de regulamento, geral ou especial, de competição”. Ela também tinha sido denunciada sobre o artigo 258, mas foi absolvida.

Mesmo que Carol tivesse infringido – e ela não infringiu – o artigo 191 do CBJD, ou qualquer legislação ordinária, nenhum pode estar acima da Constituição, que garante a todos os cidadãos brasileiros a livre manifestação.

Como disse o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre a denúncia contra a atleta: “a Constituição é muito clara”. “Essa liberdade de expressão, dentro do sistema democrático, é clara”, sustentou. Em suma, o CBJD não pode estar acima da Constituição.

Portanto, a censura e a advertência a Carol Solberg pelo STJD é um desrespeito à Constituição.

Além de inconstitucional, a advertência é injusta, porque aqueles atletas que dentro de quadra manifestaram apoio a Bolsonaro não sofreram processos, muito menos advertências.

Em 2018, dois jogadores da seleção masculina de vôlei de quadra posaram para foto fazendo o número 17, do então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro. A imagem foi postada na conta oficial da CBV. Embora o assunto tenha gerado polêmica, a confederação não respondeu da mesma maneira.

À época, a CBV afirmou “não se permitir controlar redes sociais de atletas, (mas) não compactuar com manifestações políticas” e apagou a publicação sem maiores represálias aos atletas.

Punir Carol com uma advertência quer dizer apenas que falar bem de Bolsonaro pode, o que não pode é se manifestar contra ele. Evidentemente, a CBV e o STJD usa dois pesos, duas medidas, são injustos e cometem censura.