Jair Bolsonaro (sem partido)

Quantas mortes de brasileiros e brasileiras teriam sido evitadas se o Brasil tivesse iniciado a vacinação em dezembro de 2020 usando as 100 milhões de doses que Pfizer ofereceu e foi recusada pelo governo Bolsonaro?

E, de igual forma, quantas vidas de nossos irmãos teriam sido poupadas se o presidente não incentivasse as aglomerações, debochasse do uso de máscaras e da reclusão social?

Ou, ainda, se tivesse assegurado um colchão social capaz de fazer com que as pessoas de fato pudessem ficar em casa sem morrer de fome?

Esses são os objetivos que a CPI certamente estará voltada para responder. Mundo afora já se sabe que a vacina salva vidas e que o uso de máscaras dificulta a transmissão do vírus, na mesma proporção que as aglomerações tão a gosto do presidente facilitam a sua propagação. A conta é simples.

A CPI da Pandemia já colheu 07 depoimentos com o objetivo de investigar o grau de responsabilidade do governo – por omissão ou má fé – no caos da pandemia que já matou em torno de 450 mil pessoas, levou ao colapso o sistema hospitalar e fez paralisar a economia. Os 7 depoimentos deixaram claro – mesmo que não fosse essa a intenção dos depoentes – que o principal responsável é Bolsonaro. Ninguém se atreveu a defendê-lo.

E nem era possível. Afinal, se pode fazer uma coleção com declarações e atos de Bolsonaro contra a vacinação, o uso de máscaras e, ao mesmo tempo, de incentivo às aglomerações. Sem mencionar sua cruzada para obrigar as pessoas a tomarem cloroquina e outros medicamentos sem qualquer eficácia contra a Covid mas, por outro lado, reconhecidamente nocivos à saúde humana.

Esse conjunto de estupidez, associado a sua resistência em liberar apoio social as pessoas pobres – só viabilizado por pressão da oposição – é que levou à óbito a maioria das 450 mil pessoas que morreram por conta da pandemia.

A ineficiência e o servilismo do então ministro da saúde, Eduardo “um manda outro obedece” Pazuello, ou as estúpidas agressões do ex-ministro de relações exteriores, Ernesto Araújo, contra a China – o maior parceiro comercial do Brasil e responsável pelos insumos das vacinas Coronavac e Astrazeneca – apenas agravaram o problema, mas só foram praticadas porque tinham endosso e incentivo do presidente da república.

E não foram praticadas apenas por estupidez. Corresponde à sua determinação de eliminar uma parcela da população pobre, expresso na sua declaração, ainda no início da pandemia, de que “vão morrer uns 30 mil, e daí?”. Tese recentemente reforçada por Paulo Guedes ao sustentar de que “o problema é que as pessoas querem viver 100 anos”.

Por isso seu governo está no banco dos réus. Quem está sendo julgado é o próprio presidente, cuja ausência na CPI se explica apenas pelo fato de que ele, pela função do cargo, não pode ser convocado a depor.

O trabalho da CPI já poderia ser concluído. Já está evidente o crime e o criminoso, mas talvez a CPI se dedique, igualmente, em apurar o nível de desvio de recursos públicos utilizados não para salvar, mas para matar brasileiros e brasileiras, razão pela qual ainda precisa continuar.

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Eron Bezerra* é professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.

 

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