O presidente Jair Bolsonaro fala à imprensa em frente ao Palácio do Planalto

Acossado pela CPI da Pandemia, em decorrência da profusão de evidências de que ele é o principal responsável pela crise sanitária do país, Bolsonaro recorre a sua velha tática belicosa na tentativa de desviar o foco da CPI e, principalmente, dificultar a vacinação que tem sido o seu objetivo desde sempre.

Por Eron Bezerra*

Sua tática tem ainda o claro objetivo de criar embaraços diplomáticos com a República Popular da China a tal ponto que ela se negue a fornecer insumos para a fabricação de vacinas no Instituto Butantã, o que permitiria a ele alcançar 03 objetivos: dificultar a vacinação da população; impedir que o governo de São Paulo obtenha dividendos políticos; e, igualmente, tentar responsabilizar a China pela ausência de vacinas no país.

Por outro lado sua tática enseja elevado risco. O principal é que fica cada vez mais evidente de que ele tenta, por todos os meios, impedir que a população tenha acesso a vacinas e, portanto, não há como desconhecer sua responsabilidade nas mais de 430 mil mortes.

A CPI, tudo indica, já percebeu a manobra e tende a não se dispersar, o que frusta um de seus objetivos. Distintos atores políticos têm se mobilizado para viabilizar os insumos, o que na prática “desautoriza” o presidente da república como interlocutor do país. E a China dificilmente deixará de ser solidária ao Brasil, mesmo sendo constantemente hostilizada pelo governo Bolsonaro. E assim agirá porque tem claro que o Brasil é maior, bem maior, do que um efêmero governo de extrema direita.

Mas, de onde vem essa tática macabra?

Certamente Bolsonaro nunca leu Thomas Hobbes (Leviatã, 1651) ou Thomas Malthus (Ensaio sobre o princípio da população, 1798), mas de forma tosca aplica os fundamentos de suas teorias reacionárias.

Na obra O Leviatã, Hobbes sustenta a necessidade de um estado autoritário, comandado por um imperador com poderes absoluto, como forma de garantir a ordem social. E Malthus, diante da escassez de alimentos de sua época, sustenta que era preciso diminuir a população de pobres através de 3 mecanismos básicos: rigoroso controle da natalidade dos pobres (apenas dos pobres), guerras e epidemias.

Creio que a pregação recorrente de Bolsonaro incentivando a população a subestimar a pandemia é, inegavelmente, um convite a morte, uma forma de diminuir a população de pobres que, sem dúvidas, é a parcela da população mais atingida por óbitos. Os demais segmentos alcançados estão, para eles, na categoria de “efeito colateral”.

Suas recentes declarações de agressão a China e práticas de aglomerações são exemplos concretos dessa tosca pregação, reforçada Paulo Guedes ao sustentar que o problema está no fato de que as pessoas querem viver 100 anos. É preciso dizer mais? Não!

O trabalho da CPI está bastante facilitado. Basta punir o criminoso está nu.

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Eron Bezerra* é professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.

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