O percentual de famílias brasileiras endividadas bateu recorde histórico em julho deste ano. Segundo pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio) 71,4% dos brasileiros estavam endividados no mês passado – uma alta de 1,7 pontos percentual em relação a junho e de 4% em relação ao mesmo mês de 2020. É o maior índice da série histórica da pesquisa, iniciada em janeiro de 2010.

Em julho de 2020, 67,4% dos brasileiros estavam endividados e em junho de 2021, o índice foi de 69,7%.

Desemprego, inflação e corte dos benefícios sociais no contexto da pandemia são identificados como a causa da explosão do endividamento. A CNC avalia que essa equação, com peso para o desemprego recorde (14,7%, segundo dados do IBGE), diminuem o poder de compra e deterioram os orçamentos domésticos.

“A renda dos consumidores está afetada pelas fragilidades do mercado de trabalho formal e informal, com o Auxílio Emergencial deste ano sendo pago com um valor menor”, afirma em nota José Roberto Tadros, presidente da CNC.

A pesquisa, divulgada mensalmente, também destaca por faixas de renda o percentual de endividamento. Se consideradas apenas as famílias com renda menor, o número dos núcleos tomados por dívidas é maior que a média: 72,6%. Em julho de 2020, eram 69%.

Para as famílias de maior renda, a proporção sobe de 65,5% para 66,3% em julho, mais um recorde. No ano passado, eram 59,1%.

Não é à toa que o cartão de crédito está no topo do ranking das dívidas acumuladas pelas famílias. Com o arrocho das rendas e inflação disparada de itens básicos, as despesas mensais estão sendo cobertas pelo cartão de crédito e as dívidas se tornam uma bola de neve. A pesquisa aponta de que 82,7% do total de débitos são do cartão.

“O aumento dos juros em curso no país encarece as dívidas, principalmente na modalidade mais buscada pelos endividados hoje, que é o cartão de crédito”, afirmou a economista da CNC Izis Ferreira.

Segundo o Banco Central, a taxa de juro do cartão de crédito para o cliente que consegue pagar o mínimo atingiu 279,2% em julho. Para quem não consegue pagar nem o mínimo a taxa chegou a 331,7%.

Em segundo lugar, entre as maiores dívidas, aparecem os compromissos com carnês e financiamento de carros, que comprometiam, respectivamente, 18% e 12,6% das rendas em julho.

A parcela média de renda comprometida também foi recorde, não alcançado desde 2017. Segundo a CNC, 30,5% da renda mensal das famílias está destinada ao pagamento de dívidas – sobrando pouco para o aluguel, a comida e as contas básicas que não param de subir, como a conta de luz e o gás de cozinha. Nas famílias de renda mais baixa, a parcela foi maior, de 31%.

O endividamento é diferente da inadimplência – esta quando um consumidor atrasa por mais de 30 dias as parcelas de suas dívidas ativas. Para a CNC, o aumento do endividamento leva a um potencial crescimento da inadimplência, especialmente porque o tempo médio de atraso para a quitação aumentou pela segunda vez – atingindo 61,9 dias em julho, maior prazo desde fevereiro.