Comissão Interamericana de Direitos Humanos em Bogotá

Nesta semana a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) visitou o país, onde recolheu denúncias de organizações sociais que falam em até 700 casos de desaparecimentos provocadas pela repressão governamental.

“O governo de Iván Duque é um regime ditatorial com a máscara ou maquiagem de democracia, pois tem como marcas desaparecer, torturar e matar”, denunciou a escritora, poeta, jornalista e artista Cecilia Zamudio.

Em contundente entrevista ao site resistir.info, a jornalista colombiana denunciou o aumento da repressão a partir da Paralisação Nacional, iniciada no dia 28 de abril, e que se mantém, já tendo derrubado duas reformas – a tributária e a da saúde – e dois ministros.

“O fato é que as forças repressivas não só aprisionam, como sequestram e fazem desaparecer manifestantes. São pessoas que após serem capturadas não se sabe mais o seu paradeiro. Alguns apareceram flutuando nos rios, esquartejados, com a cabeça em bolsas, os corpos com sinais de tortura”, acrescentou.

“Nas últimas jornadas, as forças repressivas colombianas, tanto a polícia como a sua ferramenta paramilitar (os esquadrões da morte) e o Exército estiveram reprimindo em diferentes pontos, como em Tuluá, em Usme, e em Cali particularmente, o que resultou em vários assassinatos e centenas de feridos. O que estão praticando é o desaparecimento forçado como terrorismo de estado”, condenou Cecilia Zamudio.

Na sua avaliação, o que possibilita a manutenção desta política antipopular e antinacional, perpetuada há décadas, “é o império estadunidense, que mantém o país ocupado com sete bases militares”. “A partir destas bases, treinam a sua ferramenta paramilitar para que torture o povo nos campos e nas cidades”, acrescentou.

Reforçando a denúncia sobre a gravidade da situação, o advogado Germán Romero disse que, nas últimas semanas, a polícia perseguiu os manifestantes, em plena madrugada, em becos, áreas despovoadas, bairros e locais onde não pudessem ser observadas as detenções.

O advogado Germán Romero Yepes, pesquisador da Coordenação Colômbia-Europa-Estados Unidos e integrante do Grupo de Trabalho sobre Desaparecimento Forçado, teve acesso em primeira mão a testemunhas que também condenaram a violência da repressão. Diante do que viu e ouviu, o advogado disse concordar que a Polícia dificultou intencionalmente a documentação das prisões, que posteriormente culminaram em denúncias de desaparecimentos.

“A definição de desaparecimento forçado não implica necessariamente na morte da vítima. Esse é um crime adicional. Mas na Colômbia temos a tradição de que o desaparecimento teve como fim a morte e, geralmente, o ocultamento em uma fossa”, destacou Yepes.

De acordo com Yepes, “aos familiares que chegavam nas delegacias foi negada qualquer informação e as detenções foram prolongadas injustificadamente”. “Há casos documentos de advogados que chegaram com procuração assinada e lhes foi negado que as pessoas estivessem no local. Esta negativa de informação após a detenção é o que em termos jurídicos configura o desaparecimento forçado. Muitos detidos denunciam que, quando tentaram se comunicar, lhes tiraram ou destruíram seus celulares”, frisou. Os que sobreviveram, obviamente, têm muito medo de falar, pois há ameaças a eles e aos familiares.