Bolsonaro e Paulo Guedes

A taxa de desemprego do país saltou para um novo recorde no terceiro trimestre do ano, alcançando 14,6%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta sexta-feira (27). Isso significa que 14,1 milhões de brasileiros estavam procurando emprego no período de julho a setembro.

“Essa é a maior taxa registrada na série histórica do IBGE, iniciada em 2012, e corresponde a 14,1 milhões de pessoas. Ou seja, mais 1,3 milhão de desempregados entraram na fila em busca de um trabalho no país”, informou o IBGE.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), que soma para composição da taxa de desocupação do país os desempregados que procuraram efetivamente trabalho no período antecedente à pesquisa.

Com relação ao segundo trimestre do ano, o crescimento na taxa de desemprego foi de 1,3 ponto percentual (era de 13,3%). Sobre o mesmo período do ano passado (taxa de 11,8%) a desocupação cresceu 2,8 ponto percentual.

Com a economia que já vinha estagnada, agravada pela pandemia, o governo Bolsonaro não apresentou qualquer proposta de saída para crise econômica, com investimentos públicos e geração de emprego, Economistas de várias correntes já alertavam para o agravamento do desemprego com o fim das medidas emergenciais, particularmente da renda emergencial.

Segundo Adriana Beringuy, gerente da pesquisa, o desemprego vem renovando recordes e explode no terceiro trimestre como um reflexo da flexibilização das medidas de isolamento para controle da pandemia.

“Em abril e maio, as medidas de distanciamento social ainda influenciavam a decisão das pessoas de não procurarem trabalho. Com o relaxamento dessas medidas, começamos a perceber um maior contingente de pessoas em busca de uma ocupação”, afirma.

Além do aumento da desocupação, que reflete o número de pessoas à procura de emprego, a população ocupada no país teve queda de 1,1% nos três meses, para um total de 82,5 milhões. Esse é o menor patamar da série histórica da pesquisa, revelando que, em 12 meses, o país perdeu 11,3 milhões de postos de trabalho formais e informais.

Medindo em níveis de ocupação, isso representa que menos da metade da população em idade de trabalhar estava trabalhando no trimestre encerrado em setembro.

A Pnad Contínua também mostra que o número de pessoas trabalhando com carteira assinada caiu 2,6% sobre o segundo trimestre, o que representa uma perda de 790 mil postos formais. Esse dado apresenta uma grande discrepância em relação aos números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Ontem (26), o banco de dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foi divulgado apontando o quarto mês de saldo de contratações com carteira assinada. Para especialistas, os dados do Caged estão subnotificados e, portanto, não refletem nenhum movimento de retomada econômica do país.

Enquanto o emprego formal encolheu, a informalidade no trimestre encerrado em setembro subiu de 36,9% para 38,4%. São 31,6 milhões de trabalhadores sem qualquer direito, sem carteira assinada, sem CNPJ ou sem remuneração, quer dizer, os que estão fazendo o chamado “bico”.

Outro recorde da Pnad foi o número de desalentados, os que desistiram de procurar trabalho: 5,9 milhões.

Contabilizar o número de desempregados, os desalentados e aqueles que não estavam procurando emprego nos dias antecedentes à pesquisa do IBGE traz um retrato mais fiel do desemprego no país – que é muito mais grave do que apontado pela pesquisa, o que faz a taxa de ocupação ficar muito além de 20%.

De acordo com o IBGE, a população subutilizada subiu para 30,3% – também um recorde. Foram 33,2 milhões de pessoas trabalhando menos do que podiam e gostariam, um acréscimo de 1,2 milhão frente ao trimestre anterior e de 5,7 milhões de pessoas sobre 2019.

A população fora da força de trabalho (78,6 milhões) atingiu o maior nível da série histórica, com altas de 1,0% (mais 785 mil pessoas) ante o trimestre anterior e de 21,2% (mais 13,7 milhões de pessoas) frente ao mesmo trimestre do ano passado.

A taxa de desocupação cresceu em 10 estados e ficou estável nos demais. A maior taxa foi verificada na Bahia (20,7%), seguida de Sergipe (20,7%) e Alagoas (20%).

A taxa de subutilização foi maior em Alagoas (49,3%), Maranhão (47,1%) e Sergipe (46,3%).