O corregedor-geral de Justiça do Rio (TJRJ), desembargador Bernardo Garcez, se reuniu na sexta-feira (20) por duas horas com Bolsonaro em Brasília.

Este não seria um acontecimento digno de registro a não ser pelo fato de que ele faz parte da Turma Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que vai julgar os crimes de Flávio Bolsonaro.

Caso a denúncia do Ministério Público seja aceita, Flávio vai se tornar réu por peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Na saída do encontro, o desembargador deixou o Planalto sem falar com a imprensa e se escondeu atrás de uma pilastra para não ser abordado pelos jornalistas. A versão oficial é de que Garcez foi chamado ao Planalto para participar de discussões sobre “registros de propriedades”.

Em nota, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro garantiu que o convite foi do presidente e que não foi tratado nenhum assunto sobre a rachadinha do filho. A nota afirma que na reunião estavam assuntos gerais de interesse da administração pública.

O TJ/RJ é responsável por avaliar a denúncia do Ministério Público estadual sobre o escândalo da lavagem de dinheiro no gabinete de Flávio Bolsonaro. A investigação aponta o cometimento de crimes enquanto ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

O desembargador Milton Fernandes de Souza foi sorteado para ser o relator do caso. A partir da análise do magistrado, o tribunal decide se abre processo ou não contra o senador. Ao todo, 25 juízes fazem parte do colegiado do tribunal.

Na peça de 290 páginas apresentada ao relator do caso, a Procuradoria aponta que a organização criminosa comandada por Flávio desviou R$ 6,1 dos cofres da Assembleia Legislativa do Rio, mediante desvio de pagamentos em favor de doze “funcionários fantasmas”. Além dele, também foram denunciados o ex-assessor Fabrício Queiroz e outras 15 pessoas acusadas de participarem do esquema.

Em agosto, Jair Bolsonaro se reuniu com advogados de Flávio Bolsonaro e convocou para o encontro o chefe do Gabinete de Segurança institucional, ministro Augusto Heleno, e o diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem. O objetivo era identificar falhas na conduta da Receita Federal, para tentar livrar Flávio Bolsonaro, mas eles não encontraram provas de qualquer irregularidade.

O ministro do STF, Ricardo Lewandowski, determinou que a PGR avalie se há elementos para investigar o caso. O procurador-geral da República, Augusto Aras, foi acionado e abriu uma apuração para investigar a mobilização de órgãos do governo federal para tentar anular investigações do filho do presidente. O pedido de investigação foi feito pela deputada federal Natália Bonavides (PT).

A defesa de Flávio Bolsonaro tentou explicar o encontro afirmando que procurou o presidente da República para noticiar o cometimento de um crime contra um integrante da sua família por órgãos públicos, e não para pedir auxílio de quem quer que seja para determinado processo. O Palácio do Planalto disse que o encontro com o desembargador Bernardo Garcez fazia parte da agenda normal e pública do presidente.