As recentes pesquisas divulgadas pelo Instituto Datafolha esta semana demonstram que o difícil momento em que o Brasil se encontra, marcado pelas crises sanitária, econômica e política, afetam diretamente a popularidade e a aprovação do governo Bolsonaro.

Por Wadson Ribeiro*

Aliado a isso, o retorno do ex-presidente Lula ao cenário eleitoral, se transforma em um verdadeiro pesadelo para as pretensões eleitorais do atual presidente. Ainda há um longo caminho até 2022, mas Bolsonaro parece derreter frente à ineficiência de seu governo e sua reeleição, antes com maiores possibilidades, parece hoje ameaçada.

De dezembro de 2020 até agora, Bolsonaro despencou 13% entre a fatia do eleitorado que aprovavam seu governo, oscilando de 37% para 24%. Do mesmo modo, o número daqueles que o consideram ruim ou péssimo, subiu de 32% para 45%, registrando elevação de 13% em sua rejeição. Esse é o pior índice alcançado pelo presidente ao longo de sua gestão. Bolsonaro sofre rejeição de extratos do eleitorado que em 2018 o apoiaram. De modo geral, aumentou sua rejeição e diminuiu a sua aprovação em todos os níveis, especialmente entre as mulheres, os jovens, os negros e as pessoas com maior escolaridade. Com apenas dois meses de volta ao cenário político, Lula está à frente do presidente nas pesquisas e abre 23 pontos de vantagem no segundo turno.

Esse cenário ruim para Bolsonaro, está intimamente ligado ao descontrole da pandemia, marcado pelo número assustador de mortes registradas no Brasil, fruto da irresponsabilidade do presidente que criticou o uso de máscaras, o isolamento social, a vacinação e adotou uma postura negacionista, além de nunca ter se importado com a dor das milhares de famílias que perderam seus entes. A população quer ser vacinada e o presidente boicotou a compra de vacinas, o que tem atrasado a imunização e aumentado a apreensão de todos os brasileiros, que veem familiares, vizinhos e amigos perderem de forma banal suas vidas. Essa realidade parece querer cobrar um alto preço de Bolsonaro e as pesquisas começam a externar isso.

Em outro terreno, o da economia, o país também vai mal e não dá sinais de melhoras. A pobreza voltou a crescer nas periferias das grandes cidades e no Brasil profundo. O desemprego alcançou a marca histórica de 14,2% no último trimestre, com 14,3 milhões de brasileiros desempregados, dado que se torna ainda mais estarrecedor se somado aos milhões que trabalham na informalidade ou que desistiram de procurar emprego. O PIB em 2020 teve a maior queda em trinta anos, registrando um crescimento negativo de -4,1 %. As indústrias têm fechado as portas e algumas multinacionais deixaram o país.

Nenhuma reforma estruturante para retomar a economia tem sido pensada. O Orçamento de 2021 sancionado pelo governo é uma peça de ficção que vai aprofundar ainda mais a crise econômica e a miséria no país.

Bolsonaro age o tempo todo na ofensiva e quando acuado estimula o ódio, convoca Manifestações e ataca as instituições. Faz isso de forma pensada e por isso apresenta resiliência, mantendo uma fatia do eleitorado que hoje o colocaria no segundo turno. No entanto, as pesquisas eleitorais podem fazer o Centrão pular do barco e, assim como apoiam Bolsonaro pelas benesses que recebem, amanhã poderão apoiar quem tiver mais chances reais de vitória. Ainda não está totalmente descartada a viabilidade de uma candidatura de centro, que poderia ter o apoio de setores da direita liberal e de partidos de centro-esquerda, situação que, a depender do desempenho do governo, poderia tirar Bolsonaro do segundo turno, fazendo com que ele saia pela porta dos fundos do Palácio do Planalto.

As pesquisas traduzem o sentimento de momento e podem mudar daqui para o próximo ano, portanto, o mais importante não são apenas os números, mas sim um ambiente político qualitativamente novo no país, em que Bolsonaro, pela primeira vez, encontra-se nas cordas do ringue, com uma rejeição muito maior do que sua aprovação. A CPI da Covid-19 e os fatos que serão revelados por ela, alinhada às manifestações da sociedade que começam a se articular, poderão derrotar Bolsonaro e abrir um novo caminho de esperanças para o Brasil.

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Wadson Ribeiro* é presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

 

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