O Brasil soma quase 450 mil vítimas pela Covid-19. Ainda assim, neste domingo (23), o presidente da República, Jair Bolsonaro, manteve sua postura negacionista e promoveu nova aglomeração, desta vez, no Rio de Janeiro.

Sem máscara, Bolsonaro criticou medidas restritivas adotadas para conter a pandemia da Covid-19 e disse que pode tomar “todas as medidas necessárias” para garantir a liberdade da população. No carro de som, o presidente tinha ao seu lado, também sem máscaras, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas e parlamentares da base, como os deputados Carlos Jordy (PSL-RJ) e Helio Lopes (PSL-RJ).

O ato de Bolsonaro foi alvo de críticas entre os parlamentares do PCdoB. “É um absurdo o presidente Bolsonaro promover aglomeração em meio ao caos sanitário que estamos enfrentando. São quase 500 mil mortos, famílias em sofrimento, milhares contaminados e novas cepas chegando ao Brasil”, condenou o vice-líder da legenda, deputado federal Daniel Almeida (BA).

“Por que fora do país Bolsonaro usa máscara e cumpre as medidas sanitárias? É ódio específico contra os brasileiros? Esse monstro deve ser denunciado ao Tribunal Penal Internacional por crime de genocídio. Vai terminar seus dias na prisão. Que o prefeito Eduardo Paes siga o exemplo de Flávio Dino e lhe aplique as sanções previstas na lei municipal. É preciso dar um basta aos desmandos de Bolsonaro”, cobrou o também vice-líder do partido na Câmara, deputado federal Orlando Silva (SP).

A vice-líder da Minoria, deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), também cobrou resposta das autoridades do Rio de Janeiro em relação ao descumprimento das regras. “Resta saber se as autoridades do Rio de Janeiro vão multar Bolsonaro por descumprir os decretos locais, como fez Flavio Dino, o governador do Maranhão. #MultaRio”, pontuou.

Além da responsabilização do presidente da República, a deputada federal Alice Portugal (BA) afirmou que mais uma vez, Bolsonaro “zomba das boas práticas sanitárias” ao promover aglomeração. “Espero que seja multado por descumprir os decretos locais, como fez o governador do Maranhão, Flávio Dino”, comentou a parlamentar.

Um decreto do governo do Rio prevê o uso obrigatório de máscara em lugares públicos e também o distanciamento mínimo de 1,5 metro, regras descumpridas por Bolsonaro e seus aliados no ato deste domingo, onde o presidente cumprimentou apoiadores, mesmo tendo afirmado, dias antes, que havia se sentido mal e tomado cloroquina – o medicamento sem eficácia comprovada que defende para “tratamento” da Covid-19. Um decreto da Prefeitura do Rio também mantém proibida a realização de eventos em áreas públicas. Questionados, a prefeitura não se manifestou, enquanto o governo do Rio afirmou que a fiscalização de eventos durante a pandemia é de competência das vigilâncias sanitárias municipais.

Na última sexta-feira (21), o governo do Maranhão autuou Bolsonaro por gerar aglomeração com mais de cem pessoas sem controle sanitário e por não usar máscara em evento em Açailândia (a 560 km de São Luís).

Pazuello e o dilema do Exército

A participação do general da ativa e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello no ato também gerou críticas e cobranças. A atitude foi apontada como um desafio ao Exército brasileiro e também tem sido vista como uma afronta à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, que ouviu o ex-ministro na última semana.

Na ocasião, Pazuello declarou que apoiava o uso de máscaras como medida para prevenir a infecção pelo coronavírus e pediu desculpas por ter entrado em um shopping de Manaus sem o item de proteção. Uma nova convocação do ex-ministro à CPI deve ser feita após participação no ato deste domingo.

Além disso, Pazuello infringiu regras que envolvem militares da ativa e impedem sua participação em atos políticos.

Para a deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC), vice-líder da Oposição, o Exército tem o dever de tomar providências. “Pazuello não está na ativa? Ou já pediu para ir para a reserva? Se Pazuello não está na reserva, o Exército tem o dever de tomar providências. Isto não é aceitável em nenhuma situação de militar na ativa, sob pena de caracterizar envolvimento político partidário do Exército Brasileiro”, destacou.

Pazuello infringiu o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do Exército, que proíbem militar da ativa de participar de manifestação coletiva de caráter político sem autorização. Segundo o regulamento do Exército, comete transgressão disciplinar o militar que se manifestar, publicamente, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária. Também são vedadas manifestações coletivas de caráter político aos militares da ativa.

“Depois do vexame na CPI e da afronta na manifestação, Pazuello tem que parar de desmoralizar o Exército brasileiro. O mordomo leal aparece sem máscara, como seu ex-patrão, aglomerando, dando péssimo exemplo, auxiliando o vírus que mata. Os dois de novo afrontam a vida, a dignidade da pessoa humana, a dor das famílias brasileiras, a CPI e a Constituição. Impeachment já!”, cobrou a deputada federal Jandira Feghali.

Para o deputado federal Orlando Silva, “a participação de Pazuello na micareta da morte feita por Bolsonaro prova que ele mentiu o tempo inteiro na CPI. Como resposta, o Exército deve enviá-lo para a reserva compulsoriamente. Adiante, deve ir para a cadeia, na companhia do chefe, ambos culpados do genocídio em curso”.

 

Por Christiane Peres

 

(PL)