Deputado israelense, Ofer Cassif, após ser espancado pela polícia em ato na Jerusalém Árabe

Ao atacar uma manifestação pacífica contra a tentativa de um grupo de colonos judeus de tomar de assalto residências de palestinos no bairro de Sheikh Jarrah, um bairro árabe situado na Jerusalém Leste ocupada por Israel desde a ‘Guerra dos Seis Dias’ em 1967, os policiais que atuam em Jerusalém espancaram o deputado israelense Ofer Cassif, que participava do ato e o levaram preso. Cassif foi inclusive esmurrado no olho.

Cassif é deputado eleito pela Lista Conjunta com deputados e filiados na maioria árabes, mas com participação e voto de milhares de judeus israelenses. Ele teve seus óculos arrebentado e precisou de precisou de assistência em pronto socorro.

Os chamados colonos judeus, que são na verdade os especialistas em assalto de terras nos territórios palestinos ocupados, entraram com uma ação pleiteando o despejo das famílias palestinas que vivem no bairro sob o pretexto de que Sheikh Jarrah seria um bairro judeu antes de 1948. Isso depois dos israelenses terem fundado Israel sobre a Palestina e terem, desde 1967, ocupado quase a totalidade dela.

Todas sexta-feira há manifestações de árabes e judeus de solidariedade aos moradores de Sheikh Jarrah. A desta sexta (9) foi a maior das últimas semanas, reunindo cerca de mil pessoas e foi recebida por um contingente policial extremamente descontrolado e enfurecido, jogando granadas de gás lacrimogêneo e de percussão além da agressão física para dispersar a manifestação. Com a agressão a Cassif, solto assim que os policiais foram informados da sua condição de deputado (coisa que não quiseram ouvir quando ele se declarava parlamentar durante a agressão sofrida), a repercussão da manifestação adquiriu proporções maiores.

O chefe do departamento de polícia do Distrito de Jerusalém, Doron Turgeman, disse ter ordenado uma investigação sobre o ‘incidente’.

Apesar do vídeo mostrar exatamente o oposto, a Polícia de Jerusalém já declarou que Cassif “atacou um dos policiais e o chutou e bateu na cara dele”. Diz ainda a polícia que Cassif “recusou identificar-se” e que, assim que souberam que era membro do Knesset (parlamento israelense) o soltaram.

A declaração afirma ainda que foi usada “força razoável para parar Cassif” e que “vários policiais ficaram feridos”.

Já o deputado Cassif disse aos jornalistas que: “Os policiais agiram com selvageria. Não queriam que as pessoas se manifestassem. Eu disse a eles que sou deputado e eles não tomaram conhecimento e começaram a me bater. Isso significa que quem eles protegem são os querem tomar as casas. É uma desgraça”.

Segundo o jornal israelense Haaretz, uma fonte policial contesta a versão oficial ao declarar que “os policiais foram informados antes da manifestação de que se esperava a participação de parlamentares israelenses na manifestação”

Cassif recebeu várias mensagens de solidariedade. Yariv Levin, presidente do Knesset, do partido do primeiro-ministro, Netanyahu, se disse “chocado com o grave incidente” e chamou a atenção para o fato de que “Cassif tem direito à liberdade de movimento garantida por lei especialmente para cumprir o seu papel de legislador”.

Levin informou que ligou para o ministro da Segurança Pública, Amir Ohana, para que ele garanta que o ocorrido será investigado.

A deputada Aida Touma-Sliman, também eleita pela Lista Conjunta, condenou o ataque a Cassif pelo “mesmo governo e polícia que tentam agressivamente passar por cima da legislação internacional no que diz respeito a assentamentos e ocupação”. Ela acrescentou ainda: “Estamos comprometidos com a continuidade da luta contra a ocupação”.

O presidente do partido Meretz, Nitzan Horowitz, declarou ter entrado em contato com o Comissário de Polícia, Kobi Shabtai, para solicitar que os policiais envolvidos sejam suspensos. A colega de partido de Nitzan, Tamar Zandberg, conclamou pelo “fim da violência policiai que mina os fundamentos da democracia, particularmente quando voltada contra um membro do Knesset”.

Yair Lapid, líder do partido oposicionista mais votado nas recentes eleições, destacou que “a violência contra Ofer Cassif é ultrajante. É inaceitável que uma pessoa saia para protestar e termina espancada e ferida”.

O líder de um dos partidos da direita israelense, Gideon Saar, disse que não aceita a visão de mundo de Cassif, “mas a violência contra ele é um golpe mortal contra o Knesset e a imunidade parlamentar”.

Bezalel Smotrich do também direitista, Sionismo Religioso, disse que a agressão “é séria e inaceitável em um país democrático”.

81 integrantes do parlamento inglês acionaram o secretário de Relações Exteriores para que pressione Israel no sentido de que os despejos de famílias palestinas de suas residências parem.

Os parlamentares destacam que recentemente houve despejos de palestinos na localidade de Ateret Cohanim.

O Haaretz informa ainda que haverá uma sessão parlamentar para tratar do assunto. “Palavras diplomáticas e fala em preocupação não são suficientes”, declaram os parlamentares ingleses em carta à Secretária de Relações Exteriores.

Na carta pedem ao governo inglês que deixe claro ao governo israelense que os despejos terão “consequências catastróficas para muitas pessoas e que danificarão as relações bilaterais entre os dois países e que devem ser consideradas opções de resposta aos despejos” por parte dos ingleses.

Entre os que assinam a carta há deputados do partido Conservador do primeiro-ministro Boris Johnson.

Famílias de palestinos que somam 27 pessoas, nove delas crianças, entraram com uma petição junto à Corte Distrital de Jerusalém no sentido de que seja suspensa uma ordem de deixarem suas residências que estas famílias já receberam.

Vejam o vídeo com a agressão a Cassif, filmada por Nitasn Ron, onde ele afirma: “Agora, em Sheikh Jarrah, os policiais enlouqueceram, jogam granadas de percussão e enchem de pancadas um deputado. Não à ocupação”.