Deputadas comunistas defendem menina do ES contra ataques da extrema-direita. Foto: montagem/reprodução

Nos últimos dias, a população brasileira se deparou com uma das mais cruéis faces do “Brasil profundo”: o estupro de crianças. O caso da menina do Espírito Santo, grávida aos 10 anos depois de ter sido violentada pelo próprio tio ao longo de quatro anos, escancarou o que muitos desconhecem ou fingem não ver.

Conforme noticiou o El País, “a cada hora, quatro meninas brasileiras de até 13 anos são estupradas, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, e a maioria dos crimes é cometido por um familiar. Em 2018, último dado disponível, foram mais de 66.000 estupros no Brasil, 53,8% de meninas com menos de 13 anos”. 

Como se não bastasse a dor da menina diante do crime, grupos bolsonaristas e de extrema-direita agiram, dentro e fora das redes, para pressionar contra a interrupção da gravidez que a lei brasileira admite em casos de violência sexual. Mesmo assim, e com decisão judicial que reafirmou o direito da menina, um grupo de fanáticos foi ao hospital exigir que o procedimento não fosse realizado e chamando os médicos de “assassinos”. Os nomes da menina e do hospital foram criminosamente divulgados nas redes sociais. Mas, essa ilegalidade não incomodou os extremistas, assim como não os mobilizou o crime cometido pelo tio da menina, que se encontra foragido.

A menina é a vítima

Nas redes sociais, as deputadas comunistas expressaram sua indignação com o caso. “‘Só de tocar no assunto, a menina entra em profundo sofrimento, grita e chora… reafirma não querer dar prosseguimento à gestação’. Relato do juiz sobre a criança de 10 anos, no Espírito Santo, que era para ser abraçada e receber amor, tudo que garante o Estatuto da Criança e Adolescente, mas desde os 6 anos era abusada pelo tio que a engravidou. É muito forte tudo isso”, lamentou a líder do PCdoB na Câmara, Perpétua Almeida (AC).

Ela lembrou ainda de seu trabalho de combate à pedofilia: “Sempre que eu ia nas escolas fazer as palestras, tinha sempre uma criança que depois procurava a professora ou diretora para pedir ajuda. Graças a Deus, fiz alguma coisa pra ajudar. E depois da pandemia, se Deus quiser, vamos retomar nosso trabalho nas escolas com a cartilha de combate a pedofilia”.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) salientou o importante papel de resistência do grupo de mulheres que foi ao hospital em defesa da menina e da equipe médica e destacou: “Compaixão e legalidade! Nossa solidariedade à criança de 10 anos. Quem cometeu o crime foi o estuprador, que encontra-se foragido. A menina é vítima”.

A parlamentar afirmou ainda: “Um monstro comete estupro contra uma criança de 10 anos. A equipe de saúde  nega-se a cumprir a lei e um juiz decide pela interrupção da gravidez. A família sai do ES e fundamentalistas vão ao hospital tentar impedir o procedimento. E se fosse sua filha, fanáticos do inferno?”.

Jandira Feghali (PCdoB-RJ) colocou: “Diante da trágica história, nos comovemos em ver o apoio que a criança recebeu nas redes e, principalmente, da Justiça e do Estado do Espírito Santo. O governo do Espirito Santo conduziu corretamente, estruturou equipe de acompanhamento, mas lamentavelmente, houve recusa da equipe médica no hospital referenciado. A transferência para outro Estado foi necessária para cumprir a lei e o direito dessa criança”.

A parlamentar foi além:  “Bolsonaristas e fundamentalistas que não conseguem ter generosidade nem respeito à Constituição, às leis e ao drama da criança e de sua família tentam obstruir a justiça e ainda cometem crimes contra o Estatuto da Criança e do Adolescente. Essas pessoas não tem limites e precisam pagar por isso na proporção do que fazem e dos cargos que ocupam”.

Por fim, fez um chamado em defesa da vida e dos direitos: “Que a infância perdida seja um constante lembrete de que a luta pelo fim da violência contra as meninas e mulheres deve ser de todos e todas. Que ela encontre paz e amparo para vislumbrar o futuro digno e equilibrado que merece. Um futuro onde o machismo e o racismo não tenham lugar e sejam tratados pelo que são: um crime contra a democracia e as liberdades individuais”.

 

Por Priscila Lobregatte