A sabotagem de Bolsonaro às vacinas contra a Covid-19 não se restringe a atacar os imunizantes, como fez com a CoronaVac, a vacina da Pfizer e outras, além de não usar os R$ 20 bilhões autorizados pelo Congresso Nacional para adquiri-las, enquanto a população brasileira é dizimada pelo vírus. Ele orientou sua delegação a defender contra a quebra de patentes das vacinas na reunião desta quarta-feira (10) na Organização Mundial do Comércio.

Proposta é defendida por mais de 100 países

A quebra de patentes dos imunizantes é defendida por mais de 100 países como a única forma de acelerar a sua fabricação em todo o mundo e garantir que mais países, principalmente os mais pobres, tenham acesso rápido aos imunizantes. A lei de patentes visa garantir os superlucros dos monopólios farmacêuticos em detrimento do acesso das populações mais vulneráveis à medicações e, no caso da pandemia do coronavírus, às vacinas.

O Brasil foi o único país em desenvolvimento que se opôs abertamente na reunião à proposta da Índia e da África do Sul pela quebra das patentes pelo menos durante a pandemia de Covid-19. Com essa medida, fábricas no mundo todo poderiam produzir os genéricos das vacinas e salvar muitas vidas.

270 mil mortes no Brasil

O Brasil atingiu, neste mesmo dia em que os bolsonaristas da OMC barraram a quebra de patentes, a marca de 270 mil mortes. Num só dia, morreram no país 2.286 pessoas, vitimas do coronavírus.

E é exatamente neste mesmo dia fatídico que a delegação do governo Bolsonaro se opõe à quebra de patentes, em prejuízo dos países como o Brasil que poderiam fabricar as vacinas a minorar o sofrimento das famílias que estão perdendo seus entes queridos.

Este comportamento negacionista e completamente subalterno aos interesses econômicos da grandes potências por parte dos representantes do governo de Bolsonaro na OMC está alinhado com a campanha antivacina que ele próprio conduz dentro do Brasil. Aliás, Bolsonaro não é contra só as vacinas, mas também ao uso de máscara e às medidas de restrição de movimentação de pessoas para conter a circulação do vírus.

Delegação atrás de spray ainda não comprovado em Israel

A irresponsabilidade do Planalto no trato com a pandemia é tão evidente que, ao mesmo tempo que o ministro da Saúde fala de um suposto esforço diplomático para adquirir vacina, uma delegação chefiada pelo titular do Itamaraty foi enviada por Bolsonaro para Israel para avaliar o uso de um “spray milagroso” que estaria sendo testado num hospital daquele país.

Não satisfeito em insistir no uso da cloroquina, uma droga ineficaz contra a Covid-19, ele agora vai atrás de um outra droga que nem mesmo os israelenses estão usando. Ou seja, ele faz todo tipo de vigarice menos comprar as vacinas que o país precisa.

A reunião desta quarta-feira (10), na Organização Mundial do Comércio (OMC), foi uma repetição de encontros anteriores, onde Índia e África do Sul tentam sem sucesso aprovar a quebra das patentes. As potências concordaram apenas em continuar a discussão sobre como a OMC pode se engajar num ‘’diálogo ativo’ que contribua para assegurar acesso rápido e seguro às vacinas e outros produtos médicos necessários para combater a pandemia de Covid-19. Pura enrolação.

Porta-vozes de Bolsonaro se calaram quando país negociava com a Índia

Nas duas reuniões anteriores, a delegação brasileira manteve-se em silêncio porque, naquela altura, o governo brasileiro estava negociando com a Índia para comprar deles a vacina da AstraZeneca fabricada naquele país. Desta vez, como as negociações com a Índia já terminaram, os representantes do governo Bolsonaro voltaram a atacar a proposta.

O Brasil não ganha absolutamente nada defendendo esta posição. Aliás, não só não ganha, como perde muito, porque o Brasil teria capacidade de produzir as vacinas em grande quantidade com a quebra das patentes. O parque produtivo do Instituto Butantan e da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), entre outros, além de laboratórios privados nacionais, como a União Química, por exemplo, poderiam abastecer o país e ainda exportar vacinas para os nossos vizinhos.

Lei de patentes só interessa aos monopólios

A delegação brasileira, como de costume nos últimos anos, seguiu a reboque dos Estados Unidos e alguns ouros países ricos. O porta-voz de Bolsonaro afirmou que o Acordo de Trips (Propriedade Intelectual) fornece ferramentas e políticas para que os Estados membros tomem medidas de proteção à saúde.

Essa posição é refutada por mais de cem países que apoiam a proposta. A posição contrária à quebra de patentes interessa apenas aos países sedes do grandes monopólios fabricantes de vacinas. Os EUA são os principais opositores da proposta. As restrições impostas pela lei de patentes à distribuição de vacinas no mundo já são mais do que evidentes. Os bolsonaristas que foram à OMC são caudatários da posição retrógrada defendida pelo governo dos EUA.