Debate aborda necessidade de ampla mobilização contra a crise
O vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino participou do debate “O Papel do Estado e o Desenvolvimento do País” na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul com o senador Roberto Requião, o economista Márcio Pochmann nesta quarta-feira (9).
Mesmo reconhecendo os avanços obtidos no campo sócio-econômico pelos governos Lula e Dilma, Marcio Pochmann salientou que faltou inserir a população do ponto de vista político. “Não conseguimos transformar os pobres brasileiros em atores políticos relevantes. Perdemos a oportunidade de colocar os trabalhadores numa posição de maior liderança no país”.
Para ele, a solução do Brasil no campo econômico passa pela valorização e desenvolvimento de nosso mercado interno. “Sem aumentar o consumo, não há saída para a crise econômica, mas é fundamental politizar a população para fortalecer a democracia, a representatividade”.
“Capital vadio”
O senador Roberto Requião fez um breve retrospecto da história econômica mundial a partir da instituição do Estado de bem-estar social em países europeus no pós-guerra, chegando ao neoliberalismo e à globalização que emergiu com força no Brasil nos anos 1990. Requião radiografou o modo como opera o poder financeiro — baseado no tripé precarizante do poder Executivo com hipertrofia do Banco Central; do parlamento com a financeirização das campanhas e do trabalho, com o fim de todas as garantias — para explicar a crise atual.
Segundo o senador, é necessária “uma aliança lógica entre o trabalho e o setor produtivo contra o capital vadio, financeiro” para que seja possível retomar o crescimento com geração de emprego e redução das desigualdades. “O setor financeiro não produz nada, não gera emprego nem salários, mas pretende dominar o mundo”.
O senador enfatizou que “hoje o Brasil é governado pelo sistema financeiro, pelo Bradesco e pelo Itaú” e fez uma dura crítica ao atual ministro da Economia: “Meirelles é um mandalete do capital financeiro”.
Requião também destacou que interesses internacionais pretendem transformar o Brasil no celeiro do mundo, num país que apenas exporta commodities e completou: “80% do agronegócio no país hoje é controlado pelo capital estrangeiro”.
O senador traçou um paralelo com o Brasil de hoje e a opção feita pelo presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt que, para enfrentar a crise de 1929, concebeu o New Deal, optando por valorizar o Estado na recuperação do país com fortes investimentos internos e no estímulo ao aumento dos salários para aquecer o consumo e a economia. Por fim, destacou que neste momento é preciso informar a população e mobilizá-la para mudar o rumo do país, destacando a centralidade da união de setores políticos e sociais comprometidos com essa mudança.
Novo projeto nacional de desenvolvimento
O debate foi encerrado pelo vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino. Ele fez um resgate histórico das lutas democráticas desde a Nova República, passando pela ditadura, a redemocratização e a globalização.
Ao adentrar o período aberto com a posse de Lula em 2003, destacou: “no ciclo progressista, pela primeira vez em 195 anos de nação independente, se combinaram simultaneamente desenvolvimento soberano, democracia e distribuição de renda com medidas iniciais para recuperação do papel do Estado, inclusive com uma política externa ativa e altiva, que reposicionou o Brasil no cenário internacional, e com grande mobilidade social que incorporou mais de 40 milhões de brasileiros à cidadania e ao consumo”.
Para ele, em boa medida a manutenção deste ciclo se deu pela centralidade do papel do Estado no debate: “Derrotamos Serra, Alckmin e Aécio pelo debate em defesa do papel do Estado na economia”. Porém, ressaltou: “no entanto, considero que não havia nesses governos progressistas um projeto nacional, não se produziu uma agenda de Estado contra-hegemônica em função de um novo projeto nacional de desenvolvimento”.
Ele criticou certo ceticismo e receio da esquerda em nível mundial em defender e disputar o debate que coloca o Estado nacional como fator central para fazer frente ao neoliberalismo globalizante, o que em parte abriu espaço para a ascensão de lideranças nacionalistas de direita.
“Estamos diante de grandes dilemas da esquerda; não se fala mais de caráter de classe da luta, da emancipação social dos trabalhadores emancipando toda a sociedade. Grande parte das causas se desvincula de um projeto de nação e de um sentido classista. Grande parte da esquerda mundial discute mais costumes do que uma saída real ao neoliberalismo”, alertou.
Para Sorrentino, “a luta pela autodeterminação e por um novo projeto nacional de desenvolvimento é a única que pode incorporar os interesses democráticos e sociais ao mesmo tempo”. Ele defendeu um pacto entre a produção e o trabalho, com fortalecimento do Estado, como fator estratégico “para isolar o nosso principal adversário, que é o poderio dos setores rentistas, os mais agressivos contra a soberania dos países”.
O vice-presidente do PCdoB também criticou a retirada de direitos dos trabalhadores por meio de propostas como as reformas trabalhista e da Previdência. “Valorizar o trabalhador e os seus direitos não é ônus para o Estado, é estímulo para a economia, ao contrário do que faz o governo atual. É estupidez considerar isso um ônus”.