A primeira mesa do seminário “Luta Antirracista, Democracia e Desenvolvimento Nacional”, realizado pelo PCdoB, pela Fundação Maurício Grabois e pelo Instituto Castro Alves, que teve início nesta sexta-feira (3) e se estende até este sábado (4), tratou da formação da nação, do povo e das classes sociais no Brasil, desde a escravidão ao trabalho assalariado.

O debate teve início com a apresentação de Wlamyra Albuquerque, doutora em História Social da Cultura pela Unicamp. “A história do racismo é a história da construção da desigualdade”, disse. Ela explicou que o racismo foi acalentado, “recebido de bom grado na formação da República” e foi “fundamental para a estruturação do Estado”. E acrescentou que a sociedade se moldou a partir da desigualdade racial. Quando falamos da luta antirracista, destacou, “estamos falando de estruturação de projetos nacionais, de um futuro”.

Julio Vellozo, historiador da USP e pós-doutorado na Faculdade na Direito da Universidade de Salamanca, destacou que “o racismo é uma tecnologia fundamental no capitalismo; não é um resto, um pedaço do passado; é cada vez mais importante para esse sistema”, e oferece um critério objetivo para o descarte de populações inteiras”. Por isso, completou, “o racismo tende a ser cada vez mais importante e cada vez mais necessário, infelizmente, para a gestão da crise do capitalismo”.

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Ele explicou que no Brasil houve um espalhamento da escravidão por todo tecido social e todo território. “Isso trouxe uma situação especial no caso brasileiro de termos um amplo pacto em torno da defesa da manutenção da escravidão”. E acrescentou que ao contrário do que se pensa, o trabalho escravo estava presente em vários setores da economia e envolvia pequenos e grandes proprietários. “Esse pacto é responsável pela formação de uma ideologia em torno da escravidão”.

O professor Francisco Teixeira, da UFRJ, salientou que diferentemente do Haiti, por exemplo, que teve uma revolução, no Brasil não houve de fato uma solução para a escravidão. “Isso é uma questão básica do ponto de vista mental e ideológico”, disse. O racismo, apontou, se tornou um elemento hierarquizante a partir do fim da escravidão, uma ferramenta útil na reorganização do mundo e para o apagamento da escravidão.

Ele também salientou que, na ausência de uma revolução, “a repressão surge como resposta possível para colocar essas pessoas “libertadas” dentro desse novo mundo do trabalho que emerge”. E há, desde então, uma guerra aos negros que “sobram” nesses espaço do capitalismo. “Isso vai culminar na exigência de apresentação da Carteira de Trabalho para não ser considerado vadio, ainda no Estado Novo”, lembrou. Esse processo contribuiu para a incorporação da ideia do trabalhador como homem de bem versus “a vadiagem”, “o marginal”, divisão que passa a permear a estrutura mental do brasileiro e que determina quem pode ser preso, espancado, torturado e morto, como há poucos dias ocorreu com Genivaldo Santos.

O professor avalia que há uma “guerra subterrânea que se trava constantemente nas comunidades contra os setores subalternos, alvos constantes das forças de segurança que podem agir livremente nessas comunidades desvinculadas do mundo branco, ‘de bem’. Cria-se, assim, um processo fascistizante das estruturas de segurança. “O fascismo brasileiro escolheu os negros marginalizados, desde sempre”, pontuou.

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Por Priscila Lobregatte