O último sobrevivente da terra indígena Tanaru morre sem nunca permitir contato com homens brancos.

Longas reportagens foram dedicadas em todo o mundo ao indígena morto na terra Tanaru, em Rondônia, que vivia isolado depois do genocídio de sua tribo. Assim como não sabíamos nada sobre ele, o “Homem do Buraco” nunca vai saber que textos longos de homenagem foram escritos em sua honra nas principais capitais do mundo. 

O obituário de sua morte se diferenciou de tantas notícias brasileiras que sempre são textos repetidos, extraídos de agências de notícias internacionais. Todos trataram o tema como algo muito precioso no mundo que se perdeu. As reportagens também foram críticas contundentes ao governo brasileiro de Jair Bolsonaro.

A Aljazira, emissora do Catar que alcança muitos países do Oriente Médio, mencionou o fato do último de seu povo, um indígena brasileiro, ter sido encontrado morto, “décadas depois que o resto de sua tribo isolada foi morta por fazendeiros e garimpeiros ilegais”.

O veículo mencionou o fato dele viver em um território indígena cercado por vastas fazendas de gado e sob constante ameaça de garimpeiros e madeireiros ilegais em uma das partes mais perigosas da floresta amazônica brasileira, segundo a Survival International.

Um dos abrigos construídos pelo indígena na terra Tanaru

“Com sua morte, o genocídio desse povo indígena está completo”, disse Fiona Watson, pesquisadora da londrina Survival International, que visitou o território Tanaru em 2004 e foi entrevistada por vários veículos de todo o mundo. “Foi realmente um genocídio: a eliminação deliberada de um povo inteiro por fazendeiros famintos por terra e riqueza”, destaca a imprensa internacional.

De acordo com os dados mais recentes do governo, existem cerca de 800.000 indígenas pertencentes a mais de 300 grupos distintos vivendo no Brasil, um país de 212 milhões. Os números destacados apontam o gradual declínio da população indígena no país. 

“Sob o presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia atingiu um nível recorde no primeiro semestre de 2022”, diz a Aljazira. E completa que “o presidente, que está perdendo nas pesquisas antes das eleições deste ano, incentivou a atividade de mineração e agricultura em áreas protegidas, provocando indignação entre os ambientalistas”.

O New York Times disse que este “foi um triste marco para um país que nos últimos anos viu as proteções para grupos indígenas enfraquecidas e minadas por um governo que priorizou o desenvolvimento da Amazônia em detrimento da conservação”. Segundo a reportagem, Bolsonaro defendeu indústrias que impulsionam a destruição da Amazônia, o que levou a níveis recordes de desmatamento.

Diz que ele afrouxou as regulamentações para expandir a extração de madeira, pecuária e mineração na Amazônia e reduziu as proteções para grupos indígenas e terras de conservação. “Ele também cortou verbas federais e pessoal, enfraquecendo as agências que fazem cumprir as leis indígenas e ambientais”.

Ao NY Times, Fiona Watson contou que, enquanto dirigia para o território Tanaru, onde o homem vivia, o que a impressionou foi como a área era completamente despida de árvores, com enormes áreas de criação de gado. “Para mim, ele era esse símbolo de resistência e resiliência: ser capaz de sobreviver sozinho, não falar com ninguém e evitar qualquer contato, talvez por tristeza ou determinação”, disse Fiona.

A britânica BBC explica que as áreas ao redor do território de 8.070 hectares são usadas para agricultura e os proprietários de terras manifestaram no passado sua indignação por serem proibidos de entrar no território indígena.

Em 2009, conta a reportagem, um posto da Funai na área foi danificado e cartuchos foram deixados para trás no que foi considerado uma ameaça ao Homem do Buraco e aos agentes da Funai que o protegiam.

A BBC ainda menciona as ameaças de morte sofridas pela ativista Txai Suruí depois de fazer um discurso apaixonado na cerimônia de abertura da cúpula climática global COP26 em Glasgow.

A NPR, agência pública de Washington, disse, já no título, que a morte “coloca em foco os direitos indígenas”. A reportagem conta que ativistas brasileiros e de outras partes do mundo estão “mantendo seu legado como um símbolo tanto do genocídio quanto da resiliência de seu povo, pedindo que sua terra seja preservada como um lembrete de ambos”.

A reserva de quase 80 km2 é um dos sete territórios brasileiros protegidos por Ordens de Proteção à Terra, de acordo com a reportagem, “que o presidente Jair Bolsonaro há muito faz campanha para abolir”. Acusa ainda Bolsonaro de sustentar que os indígenas brasileiros têm posse de muitas terras.

A CNN também aproveitou o assunto para apontar dados do desmatamento da Amazônia e o modo como o governo brasileiro “ameaça seriamente” por meio de legislações e medidas governamentais dos direitos dos povos indígenas. Diz, por exemplo, que invasões e extração ilegal de recursos naturais em terras indígenas protegidas do Brasil triplicaram desde que Bolsonaro assumiu o cargo em 2019, de acordo com um relatório divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

A CNN mencionou até mesmo o cenário recorde de 181 candidatos que se identificam como indígenas e estão em campanha nas próximas eleições do Brasil. Descreve o candidato Luis Inácio Lula da Silva como o principal oponente de Bolsonaro, que prometeu acabar com a mineração ilegal em terras indígenas se eleito.

Por Cezar Xavier