Cúpula em Paris, que reuniu os líderes da Rússia, Ucrânia, França e Alemanha na segunda-feira (9), avançou na implementação dos protocolos de Minsk para a pacificação do Donbass – o leste ucraniano -, com a definição de medidas para um cessar-fogo “completo e abrangente” e uma troca dos prisioneiros do conflito “todos por todos” até o final do ano. Na cúpula, o presidente russo Vladimir Putin também manteve seu primeiro encontro em pessoa com o novo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Comunicado conjunto da reunião definiu, além desses dois pontos, a separação de tropas e retirada de armamento pesado em mais três áreas, a retirada de minas, a criação de novos pontos de passagem seguros ao longo da linha de controle que separa Donesk e Lugansk do

resto da Ucrânia e nova reunião em março. Medidas que serão realizadas em conjunto com a missão da Organização pela Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

O chamado grupo Normandia – o nome é em referência ao primeiro encontro durante as comemorações do Dia D em 2014 – não se reunia há três anos, em consequência da intransigência do então governo Poroshenko, instaurado pelo golpe de fevereiro da CIA, com ajuda de neofascistas. Aquele famoso pela indiscrição da então subsecretária de Estado, Victoria Nulan, flagrada dizendo querer que a União Europeia “se f….” e nomeando um golpista para primeiro-ministro.

A derrubada do governo constitucional a um ano das eleições, a perseguição a líderes do Donbass e o banimento do russo como um dos idiomas oficiais do país levaram a população a se sublevar e botar para correr as milícias neonazis e, depois, as tropas ucranianas. Foram criadas as repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk. No conflito, mais de 13 mil civis foram mortos.

Pelos acordos de Minsk, deverão ser realizadas eleições nas ‘repúblicas populares’, em troca de um status de autonomia e anistia, o que vinha sendo abertamente sabotado pelo regime Poroshenko, o que o levou a uma esmagadora derrota eleitoral para um ator sem a mínima experiência política, cuja campanha colocava a paz no centro – além do combate à corrupção.

Preliminarmente à cúpula desta segunda-feira, tinha havido uma troca limitada de prisioneiros em setembro, a devolução dos três barcos ucranianos apreendidos pela Rússia numa provocação de Poroshenko no ano anterior, e a separação de forças em três áreas da linha de controle. Também foram feitos avanços quanto à continuação do trânsito de gás russo para a Europa via Ucrânia, cujo contrato existente se encerra no próximo ano.

Ainda, em outubro o novo governo de Kiev concordou com a chamada Fórmula Steinmeier – o então ministro das Relações Exteriores alemã, que a propôs -, para as eleições no Donbass sublevado.

Em um breve comentário aos jornalistas antes do jantar de trabalhou com os demais líderes, Putin se disse “feliz” com o andamento das negociações, enquanto Zelensky se mostrou convencido de que “todas as partes desejam bons resultados e que haverá um cessar-fogo efetivo até o fim deste ano”.

Na coletiva de imprensa conjunta ao final da cúpula o anfitrião, o presidente Emmanuel Macron, afirmou que “um grande progresso foi realmente alcançado hoje”, e saudou “a primeira reunião do presidente Putin e do presidente Zelensky”.

Ele acrescentou que a “estabilidade no continente europeu e a construção de uma nova arquitetura de confiança e segurança passam pela solução do conflito no leste da Ucrânia, no âmbito dos acordos de Minsk. E, portanto, a reunião de hoje foi importante”.

Macron também salientou a “coragem” de Zelensky para se lançar no processo de paz. Na véspera, Poroshenko e os neonazis ameaçaram em Kiev o governo com um ‘Novo Maidan’.

Por sua vez, Putin afirmou que a Rússia “fará tudo que depender dela para o fim deste conflito”, qualificou a cúpula de “passo importante” para reaquecer as negociações e acrescentou que o processo “está se desenvolvendo na direção certa”.

Sem esconder a permanência de divergências sobre as ações necessárias à pacificação, o presidente russo ressaltou querer “que os acordos de Minsk sejam cumpridos. Basta ler o que dizem os acordos de Minsk. Por que precisamos minar e reescrever os acordos de Minsk? ”.

Putin também aconselhou Kiev a conversar com o Donbass e agradeceu a Macron e a Merkel “por darem tanta importância a essas questões que não são de sua responsabilidade direta e são importantes para a Rússia e a estabilidade da Europa”.

Macron, que vem advogando o reparo dos laços com a Rússia como parte da reconstrução da arquitetura de segurança europeia, diante do regime Trump e da ascensão da China,

resumiu o debate apontando que “vimos diferenças hoje, não encontramos a solução milagrosa, mas avançamos nela”. Também a primeira-ministra alemã Angela Merkel se declarou “muito satisfeita” com o resultado da cúpula. “Hoje superamos a paralisação”, disse, acrescentando que os líderes chegaram a acordos sobre “coisas realistas”. “Agora precisamos continuar trabalhando muito, muito mesmo, não há dúvida sobre isso”, completou.