A fatia da população com ensino superior completo que em 2019 está desempregada, desalentada ou trabalhando menos horas do que pode disparou, atingindo 10% das pessoas em idade de trabalho. A fonte desse dado é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que realizou um levantamento por encomenda da Folha de São Paulo sobre a absorção de trabalhadores com ensino universitário pelo mercado – em tempos que o desemprego e o subemprego atingem níveis recordes.
Comparando um período pré-crise (2014) com a situação atual (segundo trimestre de 2019), o número de pessoas com formação superior sem trabalho ou em situação precária saltou de 930 mil para quase 2,5 milhões de pessoas. Percentualmente, em 2014 eram 5,2% da população em idade ativa – contra 10% atualmente.
E não é que a situação dos que estão empregados esteja boa: uma análise do jornal aos dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) mostra que 2 em cada 10 contratos de trabalho celebrados entre 2014 e 2019 colocaram trabalhadores qualificados em posições que seus diplomas não eram exigidos. Ou seja, para fugir do desemprego, quase 350 mil pessoas aceitaram funções para as quais é necessário apenas o ensino fundamental ou médio. Além de diversas modalidades de vendas no comércio, é muito comum encontrar diplomados de terceiro grau como auxiliares de cozinha, operadores de telemarketing, cuidadores de idosos, recepcionistas, frentistas e motoristas de ônibus.
“A população brasileira fez um enorme esforço para aumentar sua escolaridade média nos últimos anos e os dados mostram que parte dele tem surtido pouco efeito”, afirma Bruno Ottoni, pesquisados do Ibre/FGV.
A pesquisa não destrinchou o lugar dos mais qualificados na informalidade, mas tem sido cada vez mais comum encontrar pessoas com ensino superior completo vendendo comida para fora ou dirigindo carros de aplicativos.
Nas devidas proporções, o desalento teve crescimento disparado quando consideradas apenas as pessoas com diploma universitário: 875% de 2014 para 2019. Enquanto isso, os mais pobres (que com menor freqüência podem contar com o apoio da família nessas horas) correm para a informalidade.
“Quem tem nível superior completo acaba tendo uma reserva [de dinheiro] ou vive em um domicílio em que as condições são melhores, o que permite que fiquem subutilizados ou desalentados”, diz Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e renda do IBGE. O que ele quer dizer é que a realidade é ainda mais dura para aqueles não qualificados. A taxa de desemprego do IBGE, que para a população com diploma estava em 6,1%, ainda é o dobro para quem não completou os estudos: 13,9%.