Em meio aos debates da Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou nesta sexta-feira (15) mais um recorde de desmatamento na Amazônia. De acordo com o sistema Deter, são 877 km² de área sob alerta em toda a região no mês de outubro, o maior desde o início da série em 2016. Em relação ao mesmo mês do ano passado, houve um aumento de 5%.

Os estados que mais desmataram foram o Pará (501 km²), Amazonas (116 km²), Mato Grosso (105 km²), Rondônia (100 km²), Acre (40 km²), Roraima (8 km²), Maranhão (4 km²), Amapá (2 km²), e o Tocantins (1 km²).

“Mantivemos o mesmo patamar alto de desmatamento na Amazônia neste outubro, mesmo com mais chuvas do que era esperado por causa do fenômeno La Niña. Isso demonstra claramente que as ações atuais do governo não têm efeito prático no chão”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Nas últimas duas semanas, avalia Ane Alencar, o governo brasileiro disse na COP26 que tem o desmatamento sob controle. Mas o Brasil real é o que os satélites mostram. “Para cumprir as promessas feitas na Conferência do Clima, o governo precisa fazer mais do que fala. É possível mudar o quadro, mas é preciso agir imediatamente”, afirmou.

O novo recorde de desmatamento na região é divulgado dois dias após o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, ter feito uma fala otimista sobre os compromissos do Brasil na COP26.

Para o líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Renildo Calheiros (PE), os dados são preocupantes. “Na COP26, que acontece em Glasgow, na Escócia, o Brasil ignorou os recordes de devastação. Para completar, o presidente Jair Bolsonaro tentou enganar o mundo ao prometer acabar com o desmatamento ilegal até 2028. Afinal, o próprio governo desmonta a estrutura de fiscalização e incentiva o desmate”, criticou.

De acordo com ele, os dados mostram que o governo Bolsonaro não tem a menor intenção de cumprir os acordos assinados na COP26. “Não adianta montar um stand em Glasgow para vender a ilusão de que tem compromisso ambiental. O que importa é efetivamente evitar o desmatamento de quilômetros de florestas todos os dias”, disse o líder.

A deputada Vivi Reis (PSOL-PA) diz que os dados desmontam o discurso do governo. “Dados do Inpe apontam desmatamento recorde na Amazônia em outubro. Foram 877 km² devastados, alta de 5% sobre 2020. Enquanto isso, na #COP26, o governo brasileiro faz promessas vazias de acabar com o desmatamento ilegal até 2028. Bolsonaro é a nossa maior emergência climática!”, postou a deputada em uma rede social.

Brasil real

Em nota, o Observatório do Clima diz que o dado do Deter é um lembrete de que o Brasil que circula pelos corredores e pelas salas da COP26 é o mesmo onde grileiros, madeireiros ilegais e garimpeiros têm licença do governo para destruir a floresta. “O governo ainda não divulgou o Prodes neste ano — o dado oficial do desmatamento, também medido pelo Inpe, de agosto de um ano a julho do ano seguinte, costuma estar disponível no começo de novembro”, diz a organização.

Destacou ainda que na conferência do clima o governo Bolsonaro vem tentando apresentar uma imagem de país preocupado com a crise climática e, sob pressão internacional, assinou acordos multilaterais contra o desmatamento e as emissões de metano. Além disso, “vem deixando seus diplomatas trabalharem de forma construtiva na negociação e montou um esquema gigantesco de propaganda com ajuda dos lobbies do agro e da indústria.”

O Observatório, contudo, destaca que o “Brasil real” é um país que desmontou as políticas de combate ao desmatamento, maior causa de emissões de gases de efeito estufa, que gastou centenas de milhões de reais em operações militares inócuas e que tem ao menos cinco projetos de lei no Congresso que anistiam o roubo de terras, acabam com o licenciamento ambiental e ameaçam as terras indígenas, barreiras mais eficazes contra a devastação.

“As emissões acontecem no chão da floresta, não nas plenárias de Glasgow. E o chão da floresta está nos dizendo que este governo não tem a menor intenção de cumprir os compromissos que assinou na COP26”, afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo da organização.

Por Iram Alfaia