"Água vale mais do que o ouro" e "cianureto não resolve a fome", entoaram manifestantes - foto - GreenpeaceAr

Milhares de pessoas tomaram as ruas de Mendoza, na Argentina, contra o uso de cianureto, ácido sulfúrico e outras substâncias químicas nocivas ao meio ambiente pela mineração local, e exigiram a modificação da lei para efetivar a sua proibição.

O protesto ocorreu em repúdio à revogação na semana anterior, pelos legisladores locais, de norma em vigor desde 2007 que proibia o uso desses produtos tóxicos. Os manifestantes entoaram “a água vale mais do que o ouro”, “o cianureto não resolve a fome” e “na lei 7.772 não se toca”.

Os manifestantes explicaram que a modificação da 7.722 atende unicamente o interesse de transnacionais e vai provocar contaminação da água, como já demonstrado anteriormente.

Há quatro anos, ocorreu o maior acidente de mineração da história argentina, quando um milhão de litros de uma mistura com cianureto e outros metais pesados vazou da mina da multinacional Veladero de San Juan e atingiu o rio Potrerillos, contaminando este e outras importantes fontes de água. Em 2016 houve um novo despejo tóxico e em 2017 outro.

A dona da Veladero, a mineradora canadense Barrick Gold, chegou a ser denunciada na época à Justiça, porém o fechamento não durou muito e a poluidora retomou suas operações.

O que é agravado pelas contínuas secas que vêm atingido a zona na última década, que restringiram drasticamente a disponibilidade hídrica da região argentina, conhecida por abrigar os picos mais altos dos Andes e pela qualidade de seus vinhos.

Entidades populares, ecologistas e a Igreja alertaram que a alteração feita sob encomenda para as transnacionais, “representa uma clara violação à Constituição Nacional e aos princípios de não regressão ambiental e de progressividade, expressamente estabelecidos na Lei Geral de Ambiente”.

Com passeatas e bloqueios de rodovias, os habitantes de Mendoza têm se manifestado pela revogação do remendo e conclamado o governador Rodolfo Suárez, da União Cívica Radical (UCR), a que o vete.

“O desenvolvimento não pode ser desculpa para contaminar nosso bem mais precioso”, afirmou a organização Jovens pelo Clima, sublinhando que “a reforma não faz mais que desperdiçar nossos recursos hídricos em uma atividade que demanda grandes subsídios estatais, mas que produz um enorme passivo ambiental a ser pago pela população”.