Comunistas mantêm hegemonia no Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul
A Chapa Unida e Forte, encabeçada por Assis Melo, venceu no último dia 19 de abril a eleição para a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul (RS). Formada por lideranças de três centrais sindicais (CTB, CUT e CSB), além de sindicalistas independentes, a nova diretoria – que tomará posse em dezembro – manterá por mais quatro anos a hegemonia dos comunistas à frente da entidade.
Faz quase quatro décadas que metalúrgicos do PCdoB estão presentes na direção. Principal referência do grupo, Assis se destacou não apenas na atividade sindical – mas também como um dos principais líderes políticos de Caxias. Em 2008, ele foi eleito vereador pelo PCdoB-RS com a maior votação na história da cidade. Nos anos seguintes, exerceu o mandato de deputado federal pelo PCdoB-RS em dois momentos (2011-2015 e 2017-2019).
Na tarde de 26 de abril de 2017, o então deputado roubou a cena no plenário da Câmara Federal. Os deputados da base do governo Michel Temer (MDB) queriam acelerar a tramitação da reforma trabalhista. Já a oposição, em menor número, denunciava a medida e tentava adiar a votação, em busca de mais apoios contra o desmonte da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Foi nesse ambiente de luta que Assis apareceu no plenário vestido com uniforme de operário soldador – sua profissão. Por cima do terno e da gravata, ele trajava macacão branco, máscara e luva. “É uma forma simbólica de mostrar como os trabalhadores se vestem e entram nas fábricas todos os dias”, declarou Assis, na ocasião. “Os trabalhadores não podem entrar nesta Casa. Eu, como deputado e trabalhador, posso me vestir, me fardar como trabalhador e entrar aqui.”
A reeleição à presidência do Sindicato veio de forma contundente. A Chapa Unida e Forte teve 98,57% dos votos colhidos nos três dias de eleição – 17, 18 e 19 de abril –, de modo eletrônico.
Os metalúrgicos de Caxias do Sul formam uma das principais bases operárias do País. Fundado em 6 de março de 1933, o sindicato comemorou no mês passado seus 90 anos. De acordo com Assis, o sindicato continua “imprescindível” porque “não abriu mão de sua essência – da razão pela qual ele foi criado”. Uma conquista em particular teve alcance nacional: a ação judicial movida pelo sindicato para rever valores pendentes do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Os chamados “expurgos do FGTS” eram referentes ao Plano Verão (dezembro de 1988 a fevereiro de 1989) e ao Plano Collor (abril de 1990). Depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu a causa dos metalúrgicos de Caxias, o governo estendeu o direito a todos os trabalhadores que receberam recursos do FGTS nesses períodos.
Sobre a Convenção Coletiva da categoria, Assis cita dois avanços históricos, que, segundo ele, representam “ganhos econômicos” para os metalúrgicos. Um deles é o desconto menor no vale-transporte. Por lei, o trabalhador pode perder até 6% de seu salário para subsidiar esse direito. Mas em Caxias e região, graças à luta do sindicato, o desconto da categoria é de apenas 3,5%.
O outro avanço é o auxílio-creche, assegurado tanto às mães metalúrgicas quanto aos pais que têm a guarda do filho. “Nossa luta é para que o auxílio-creche seja reconhecido como um direito de toda criança com até 5 anos de idade. Queremos que todos os pais e mães da categoria, com ou sem a guarda, recebam o auxílio.”
A aposta do governo Lula na reindustrialização do País pode levar a um crescimento da base metalúrgica na região de Caxias do Sul – que, hoje, tem cerca de 40 mil trabalhadores, em oito cidades. “Eram perto de 60 mil no auge, em 2013”, lembra Assis. Mesmo com o recuo, trata-se, ainda, do maior dos sindicatos operários filiados à Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e à CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).
Assis afirma que, proporcionalmente, há cada vez mais mulheres e mais jovens nas fábricas. “A mão de obra feminina já está em todos os setores de uma empresa”, declara. Além disso, a categoria muda conforme funções surgem na indústria. “Assim como as fábricas, o sindicato precisa se adaptar a essas novas funções. É necessário se atualizar e se modernizar sempre.”