O governo Bolsonaro autorizou, na quinta-feira (26), um reajuste de 15,5% nos planos de saúde individuais e familiares. É o maior reajuste da série histórica iniciada em 2000 e foi aprovada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, com aval do ministro Paulo Guedes. O índice vale até abril de 2023.

O argumento das operadoras é de não houve aumento das despesas com procedimentos eletivos (não urgentes) em 2021 e por isso, segundo o diretor-presidente Paulo Rebello, a decisão pelo aumento extorsivo, bem acima da inflação, diga-se de passagem, “foi pensando obviamente no melhor para o consumidor”, mas, “acima de tudo, na sustentabilidade do setor”.

Com a decisão, “pensando no consumidor”, 8 milhões de beneficiários serão afetados com mais esse aumento, além das constantes altas nos preços dos alimentos, dos remédios, dos combustíveis, do botijão de gás, da energia elétrica, etc., etc.

Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), “os anos pandêmicos foram de intenso crescimento econômico para as operadoras de planos de saúde”.

“Em 2021, os planos de saúde sofreram reajuste negativo de 8,19%, mas é importante lembrar que nesse ano os consumidores pagaram uma cobrança retroativa de reajustes – os valores suspensos em 2020 durante o primeiro ano de pandemia”, diz o Idec. Em pesquisa realizada pelo Idec em 2021, “o instituto verificou que a população usuária desses serviços lidou com aumentos da ordem de até 50% durante o ano de 2021. Ou seja, o desconto foi neutralizado pela recomposição”.

A coordenadora do Programa de Saúde do Idec, Ana Carolina Navarrete, considerou o percentual bastante elevado diante dos altos lucros das empresas de saúde na pandemia.

Para o Idec, o reajuste vem em “momento de intensa dificuldade econômica, com o aumento dos preços de alimentos, serviços e do custo de vida” da população. “Com o bolso mais vazio”, continua a entidade, “as pessoas se veem em um cenário preocupante de endividamento e, sobretudo, de vulnerabilidade”.

O advogado e diretor do Instituto Brasileiro do Direito do Seguro (IBDS) Tiago Moraes afirma que o reajuste é “descabido”. Segundo ele, o aumento “lesa o bolso do consumidor”. “Não poderia jamais ser chancelado pela agência que tem como uma de suas principais atribuições zelar pelo bom desenvolvimento do mercado de seguros e planos de saúde”, declarou.

“As operadoras propalam que a taxa de sinistralidade dos planos de saúde ultrapassou 85% no ano de 2021, mas convenientemente se esquecem que no ano de 2020, por conta da pandemia, o número de consultas e procedimentos eletivos (não urgentes) caiu abruptamente, não tendo sido realizados durante boa parte do ano”, destacou.

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