Cinco secretarias do Ministério da Saúde e o Conselho Federal de Medicina (CFM) votaram a favor do uso de cloroquina e outros medicamentos ineficazes no tratamento de Covid-19 e a votação na Conitec terminou empatada.

Por conta do empate, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao SUS (Conitec) seguirá sem posição definida até que uma segunda votação, que só poderá acontecer depois de uma “consulta pública”, for realizada.

A comunidade científica, baseada em testes e pesquisas feitas no mundo todo, já descartou o uso de cloroquina, ivermectina e outros medicamentos no tratamento de Covid-19.

Somente o governo Bolsonaro, amparado em seu charlatanismo, é a favor do uso desses medicamentos.

A votação na Conitec acabou empatada, com seis votos a favor do “kit covid” e seis votos contra.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não votou. Segundo nota divulgada pela Agência, o representante avisou à reunião que entraria em um vôo e pediu para que a votação acontecesse antes ou depois dele. Quando desceu do avião, o representante da Anvisa foi informado de que a votação já tinha acontecido e de que tinha resultado em empate.

O presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, falou, em seu depoimento à CPI da Pandemia, que não concorda com o uso de cloroquina no tratamento de Covid-19. Com o voto da Agência, que não esteve na reunião, a Conitec teria decidido de forma contrária à recomendação dos medicamentos.

Além do Conselho Federal de Medicina, as seguintes secretarias do Ministério da Saúde votaram a favor do uso de medicamentos ineficazes no tratamento de Covid-19:

Secretaria de Gestão do Trabalho, chefiada por Mayra Pinheiro, conhecida como Capitã Cloroquina;

Secretaria Executiva;

Secretaria de Atenção Primária;

Secretaria Atenção Especializada à Saúde;

Secretaria Especial de Saúde Indígena.

O voto dessas secretarias foi para agradar e sustentar a posição negacionista de Jair Bolsonaro. Durante a pandemia, Bolsonaro fez propaganda centenas de vezes da cloroquina, falando que ela era a salvação para as pessoas que fossem contaminadas. Assim, ele incentivou as pessoas a não cumprirem o distanciamento social, já que seriam protegidas por um medicamento.

Contra os medicamentos ineficazes votaram:

Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass);

Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems);

Conselho Nacional de Saúde (CNS);

Agência Nacional de Saúde (ANS)

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde;

Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

O próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu que os medicamentos do chamado “kit Covid” não têm nenhuma eficácia contra a doença. “Esses medicamentos não têm eficácia comprovada”, afirmou o ministro.

Alguns dirigentes do Conselho Federal de Medicina têm envolvimento com o “gabinete paralelo” que orientava as ações do governo Bolsonaro no “combate” à Covid-19.

Esse gabinete dava orientações no sentido de defender a cloroquina mesmo que não existam evidências de que ela é eficaz e também de que o distanciamento social não poderia acontecer.

Um vídeo de uma dessas reuniões, que eram comandadas pelo bilionário Carlos Wizard, mostra o terceiro vice-presidente do CFM, Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti, e outros dois conselheiros dando orientações defendendo o uso de cloroquina.

Em um trecho do vídeo, obtido pelo Intercept, Emmanuel reconhece que não poderia vazar a informação de que ele participava daquela reunião.