Com tubinho com "antraz", Collin Powell apresenta na ONU o pretexto para invadir Iraque

O principal autor da matéria com que o Wall Street Journal desencadeou em 23 de maio o requentamento da falsidade de que “o vírus vazou do Laboratório de Wuhan” é um elemento que, em 2002, se prestou ao mesmo serviço ao co-assinar com a agora escanteada Judith Miller a matéria que deu início à mãe de todas as mentiras da Guerra do Iraque, a das “armas de destruição em massa de Sadam”.

O nome do “ativo” (asset, em inglês), termo com que a CIA designa seus colaboradores, é Michael R. Gordon, que habilmente escapuliu da desmoralização que acometeu Miller, depois que ficou evidente o desastre no Iraque e o New York Times teve que encenar um ‘mea culpa’. Miller perdeu o emprego, mas Gordon continuou na ativa, como ‘correspondente do Pentágono’.

Daí à “nuvem em forma de cogumelo”, até que de mentira em mentira, dossiê falso repercutido pelos jornais e tevês norte-americanos após dossiê, a coisa foi num crescendo até a cena de Colin Powell com o vidrinho de antraz, pondo em marcha o martírio do Iraque e a decadência dos EUA que se vê hoje.

Aliás, no pós-golpe de 2014 na Ucrânia, Gordon foi flagrado – e desmascarado – assinando mentiras sobre inexistentes “soldados russos” dentro daquele país.

Na famosa “carta dos editores” de 2004, o NYT disse ter repetidamente “caído na desinformação”, uma forma piedosa de admitir a cumplicidade nos crimes de guerra no Iraque.

O que não impediu o NYT de ter sido agora uma das principais câmaras de eco da mentira propalada ‘a pedidos’ pelo WSJ agora contra a China.

Em 23 de maio, o artigo intitulado “Intelligence on Sick Staff at Wuhan Lab Fuels Debate on Covid-19 Origin ” [‘Inteligência sobre Staff Doente no Lab de Wuhan Reacende Debate sobre a Origem da Covid-19’] do WSJ, cujo principal autor é Gordon, cita “funcionários atuais e ex-funcionários” não identificados e afirma que pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan doentes “foram para o hospital em novembro de 2019, pouco antes do surto confirmado” de Covid-19.

Os capítulos seguintes não tardaram. Em 25 de maio, o secretário de Saúde norte-americano, Xavier Becerra, exigiu uma investigação “transparente” sobre as origens do Covid-19 na Assembleia Mundial da Saúde das Nações Unidas.

No dia seguinte, o presidente Joe Biden deu “90 dias” para a “comunidade de inteligência”, isto é, a CIA, “investigar” se o vírus surgiu “de um acidente de laboratório”.

E pronto: o circo estava montado. Seguiram-se reportagens da NBC, CNN e New York Times, todos alegando que a ordem de Biden tinha sido desencadeada pelas “novas evidências” do artigo do Wall Street Journal. O Washington Post também aderiu.

Não deu 24 horas da publicação do artigo de Gordon/WSJ, e sem uma evidência por mínima que fosse vinda à luz do dia, apenas especulações sobre “três médicos” hospitalizados em novembro em Wuhan, sem qualquer fonte real, a mídia norte-americana, quase como um todo, reabilitou do nada que a teoria da conspiração do Wuhan Lab era “confiável”.

Em última instância, significa que o desespero diante do crescimento e desenvolvimento soberano da China faz com que o governo Biden adote como sua a formulação racista de Trump do ‘vírus chinês’, tentando estigmatizar a China como ‘culpada’ pela covid-19 e por sua propagação ao mundo.

O que é ainda mais nauseante quando o que é imprescindível agora é acelerar a cooperação internacional para fazer a vacina chegar a todos os países e imunizar a todos, barrar a pandemia e reconstruir as economias.

A campanha de ódio que Trump iniciou com sua caracterização de “vírus chinês” já teve como efeito, dentro dos EUA, uma escalada dos atos de ódio contra qualquer asiático. O curso que está sendo ensaiado pelo establishment norte-americano, se não for revertido, significará impulsionar esse ódio em uma escala maior.

Voz da China

O que possivelmente explica a iniciativa do Burô Político do Partido Comunista Chinês, sob convocação do presidente Xi Jinping, de debater que a China deve melhorar a capacidade de se engajar na comunicação internacional para apresentar uma visão verdadeira, multidimensional e panorâmica da China.

Ele também enfatizou a necessidade de esforços para apresentar a cultura chinesa no exterior e conformar de uma imagem junto aos demais povos de uma China, “confiável, admirável e respeitada”.

Que é preciso explicar que o Partido “só quer o bem do povo da China”. Trata-se, acrescentou, de desenvolver uma voz no debate global “que corresponda à força nacional abrangente e ao status internacional da China”.

Xi apontou ainda que é preciso promover mais amplamente as posições, as abordagens e a sabedoria chinesas, para que o país possa fazer maiores contribuições para a solução conjunta dos problemas da humanidade. Promover o multilateralismo, combater o hegemonismo, forjar uma ordem internacional mais justa e equitativa. Ele chamou todos a “alargar o círculo de amigos que entendem a China”.