Usina de energia solar sobre o lago de Huainan

A China está liderando o mundo na transição para um futuro de energia limpa e sua manufatura de tecnologia verde é o motivo, segundo um artigo publicado pela BBC esta semana.

A China gera mais energia solar do que qualquer outro país, o que “sinaliza onde o país está indo”, e suas instalações de energia eólica totalizaram mais do que o triplo na comparação com qualquer outro país em 2020, de acordo com o artigo.

Os números impressionam: a geração de energia solar pela China é 3,4 vezes maior que a dos EUA, 3,8 vezes a do Japão, 4,7 vezes a da Alemanha e 6,5 vezes a da Índia, segundo os dados da Agência Internacional de Energia Renovável.

“A China já está liderando a transição energética global”, destacou o artigo citando as palavras de Yue Cao, do Overseas Development Institute. “Uma das razões pelas quais somos capazes de implantar uma tecnologia verde cada vez mais barata é a China.”

Carros elétricos

A China fabrica e compra mais carros elétricos do que qualquer outro país “por uma margem considerável”, assinala a BBC. Que acrescenta que o país também ocupa a sétima posição no ranking mundial por porcentagem de vendas de carros elétricos.

Como as emissões ao longo da vida útil dos veículos elétricos são tipicamente inferiores às da gasolina/diesel, a questão adquire uma relevância ainda maior já que o transporte corresponde a um quarto das emissões de carbono provenientes da queima de combustíveis no planeta.

Nesse quesito, mais uma contribuição da China: “até 2025 vai produzir baterias com o dobro da capacidade das produzidas por todo o restante do mundo junto”.

O que terá um efeito de suma importância, ao permitir “o armazenamento e liberação de energia de fontes renováveis em uma escala antes impossível”, observa a BBC.

Como se sabe, um dos limitantes do uso das energias renováveis – como solar e eólica – é o descasamento entre o período de geração máxima para cada tecnologia e os momentos de pico de utilização da energia.

Mais verde

Além de mudar para a energia sustentável, o território da China está ficando mais verde, revela a BBC. “Novamente, há notícias encorajadoras. A China está ficando mais verde a um ritmo mais acelerado do que qualquer outro país, principalmente como resultado de seus programas florestais elaborados para reduzir a erosão do solo e a poluição”, observou o artigo.

A China reduzirá suas emissões ao máximo e lidará com o restante, através de uma combinação de diferentes abordagens. Aumentar a área de cobertura vegetal ajudará, pois as plantas absorvem o dióxido de carbono, acrescentou o artigo.

A BBC explica que alcançar zero líquido de emissões de gases do efeito estufa não significa que a China vai parar de produzir emissões. Significa que vai reduzir as emissões ao máximo e absorver o que sobrar por uma combinação de medidas. Reflorestar ajuda, já que as plantas absorvem dióxido de carbono. Há ainda a técnica de replantio de campos que viabiliza mais de uma colheita por ano e, portanto, permite que territórios fiquem cobertos por vegetação por mais tempo.

As questões abordadas pela BBC já haviam merecido análise do jornal chinês de língua inglesa, Global Times, que em artigo de abril assinalou que ao final de 2020 a capacidade de energia renovável na China alcançou 930 GW, o que corresponde “a mais de 42% da capacidade total instalada do país de geração de energia”. A China, apontou então o GT, é “líder mundial em energia limpa”.

Dessa capacidade de geração de energia renovável, 370 GW correspondem a hidrelétricas. A China possui a maior usina hidrelétrica do mundo, a de Três Gargantas, e acaba de inaugurar a segunda maior, Baihetan. São 280 GW de geração eólica e 250 GW de fotovoltaica.

Acrescenta o Global Times que “são chinesas mais de um terço das patentes registradas no mundo sobre energia renovável”. Lembrou ainda que a China “é o maior produtor e exportador do mundo de painéis solares, turbinas eólicas, baterias e carros elétricos”. 99% dos ônibus elétricos do mundo “estão na China”.

China é, também, desde 2013 o maior investidor do mundo em energia renovável. Em 2017 a China investiu em energia renovável US$ 83,4 bilhões, com os EUA ficando em segundo, com US$ 55,5 bilhões, seguido de perto pela Europa, com US$ 54,6 bilhões. Japão, Coreia do Sul e outros Ásia-Pacífico, US$ 45,1 bilhões.

A China tem também um dos mais ambiciosos projetos de usinas de geração nuclear do mundo. A projeção da capacidade nuclear operacional da China até 2050 é de 500 GW.

Faz parte da linha de frente da pesquisa pelo desenvolvimento da geração de energia por fusão nuclear, tendo recentemente implantado reatores de fusão experimentais, tanto com base na tecnologia tokamak quanto a laser.

O carvão, que foi a principal fonte de energia sobre a qual se sustentou a industrialização acelerada da China, recuou de 70% da matriz energética em 2003, para 57% atualmente. O menos poluente gás natural saltou no mesmo período de 2,4% para 8%.

De acordo com pesquisadores da Universidade Tsinghua, 90% da energia na China deverá vir de usinas nucleares e renováveis até 2050.

Tecnologias

A razão inicial que levou a China a abraçar tecnologias verdes foi a busca de uma forma de reduzir a poluição do ar, que se tornara um problema muito sério em algumas das maiores cidades do país. Em paralelo, tornou-se claro o potencial econômico dessas tecnologias, em termos de geração de emprego e renda para milhões de chineses. Ainda, a diminuição da dependência da China na importação de petróleo e gás e, portanto, uma redução no risco de ter as cruciais rotas de fornecimento à China bloqueadas em caso de uma crise na região do Pacífico.

Apesar de reconhecer os avanços importantes da China no reflorestamento e energias renováveis, o artigo da BBC reitera a apresentação da China como o “maior emissor de carbono do mundo”, que é a outra face de ter se tornado a fábrica do mundo.

A BBC registra, ainda, que a emissão per capita da China é a metade da dos EUA, mas que, com seu crescimento econômico explosivo e população de 1,4 bilhão de pessoas, acaba “bem à frente de qualquer outro em volume total de emissões”.

Conforme o artigo, para “vencer a batalha da crise climática” é imprescindível que haja “grandes reduções nas emissões do país asiático” e o presidente Xi Jinping se comprometeu com que a China vai alcançar o teto de emissões “até 2030” e alcançar a neutralidade de carbono “até 2060”.

“Grandes vantagens”

Para encerrar o artigo da BBC sublinha que “o mundo precisa que a China seja bem-sucedida. “A não ser que a China reduza as emissões de carbono, não vamos combater as mudanças climáticas”, disse o professor David Tyfield, o Centro de Meio Ambiente de Lancaster, no Reino Unido.

“A China tem algumas grandes vantagens, particularmente na sua capacidade de seguir estratégias de longo prazo e mobilizar investimentos de larga escala”, admite. “As autoridades chinesas estão enfrentando um desafio colossal. O resultado disso não poderia ser mais importante”.