A China atualizou os números da epidemia do novo coronavírus 2019-nCoV – a chamada pneumonia de Wuhan – e o número de mortos aumentou para 170, com 7.711 casos confirmados de pneumonia causados pelo novo patógeno 2019-nCoV, até o fechamento dos dados finais da quarta-feira (29). Sobre os 59 os casos confirmados em outros países não houve atualização até a madrugada da quinta-feira (30).

Na terça-feira, o presidente Xi Jinping disse ao diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que foi a Pequim debater a crise sanitária, que seu país está travando uma grande batalha contra o “demônio” do novo coronavírus. O patógeno 2019-nCoV causa sintomas gripais em pessoas que o contraíram e pode levar à síndrome respiratória grave.

“A epidemia é um demônio e não podemos ocultá-lo”, afirmou Xi. Ele acrescentou que o governo chinês “sempre teve uma atitude aberta, transparente e responsável quando se trata de disseminar informações para nossos cidadãos e outros países”.

Para a OMS, as medidas tomadas pela China para conter a epidemia vêm sendo “inestimáveis”. A organização considerou que ainda é cedo para se falar na decretação de emergência de saúde pública de alcance internacional, como já ocorreu em momentos anteriores com a gripe suína H1N1, zika e ebola. Embora hajam aumentado as preocupações, após se saber que o período de incubação do vírus é de até 14 dias e é contagioso antes de sintomas como febre ou tosse.

A OMS retificou sua classificação de risco internacional de contágio pelo novo coronavírus, passando a considerá-lo como “alto no nível regional e em todo mundo” – e não “moderado”, como assinalara “por erro”.  O status de risco da China continua “muito elevado”. No final de semana, a OMS irá avaliar se eleva, ou mantém, o atual nível de alerta mundial.

O cientista chinês Zhong Nanshan, descobridor do coronavírus responsável pela epidemia de 2003, disse à agência de notícias Xinhua que a epidemia deve atingir seu pico “em uma semana ou nos próximos dez dias”. Zhong encabeça a equipe de especialistas convocada nacionalmente para conter a epidemia em curso.

Já passa de uma dezena os países atingidos pelo contágio: Tailândia, Coreia do Sul, Vietnã, Singapura, Japão, Nepal, Camboja, Malásia, Austrália, Arábia Saudita, EUA, Canadá, França e Alemanha. Os casos em Taiwan, Hong Kong e Macau somavam 15 até segunda-feira. Em todos os casos, ocorreu contato com pessoas provenientes da China.

 

TODA AJUDA A WUHAN

 

Com o governo e o Partido Comunista chinês focados em tornar o combate à epidemia a prioridade central do seu trabalho no momento, a China intensificou os esforços para a contenção. De toda a parte da China estão sendo mobilizados recursos e pessoal para ajuda à província de Hubei e sua capital, Wuhan. 6 mil médicos e paramédicos, civis e militares, estão chegando ao epicentro da crise, Wuhan. Dois hospitais com mais de 2 mil leitos estão sendo erguidos em tempo recorde, para começarem a operar em dias.

O primeiro-ministro Li Keqiang esteve em Wuhan para fiscalizar o plano de socorro à cidade sob quarentena, que é maior do que Londres e sede de montadoras de automóveis e siderúrgicas. Desde o início da epidemia, foi a primeira visita de um alto membro do governo à cidade.

Ele foi a hospitais e centros de atendimento e se reuniu com dirigentes locais para averiguar a situação de abastecimento e de remédios.

Em entrevista à tevê estatal, o prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, que admitiu falhas no enfrentamento inicial da crise, em resposta às fortes críticas nas redes sociais chegou a se dispor a apresentar sua renúncia. Ele também revelou que cerca de 5 milhões de pessoas deixaram a cidade nas férias de Ano Novo Lunar antes da decisão da quarentena e acrescentou que as equipes médicas estão extenuadas e no limite.

Além da quarentena em vigor na província de Hubei desde a semana passada que atinge 57 milhões de pessoas – uma medida considerada até pela OMS como “sem precedentes” e que inclui o fechamento de fábricas e centros comerciais em uma dezena de cidades -, o governo determinou o adiamento indefinido no país inteiro da volta às aulas, das creches às universidades, antes prevista para o dia 2 de fevereiro.

Grandes cidades como Pequim, Xangai e Chongqing sustaram as linhas de ônibus de longa distância. Hong Kong – sobre a qual recaiu o peso maior em vidas da epidemia de 2003 – anunciou que a partir do dia 30 estarão suspensas as viagens de trem entre o continente e a ilha. A mais populosa província da China, Guangdong, tornou obrigatório o uso em público de máscara. O comércio de animais selvagens – considerado a fonte original da contaminação animal-humano do novo coronavírus – está proibido na China até segunda ordem.

O feriado de Ano Novo foi prorrogado até o dia 2. A temporada de estreia de filmes que costumeiramente ocorre nessa época do ano foi adiada sine die e parques temáticos são mantidos fechados. Disputas esportivas internacionais em solo chinês foram canceladas ou adiadas. Duas mil cafeterias da rede Starbucks foram fechadas.

 

FORA DA CHINA, CONTÁGIOS SÃO 1%

 

Até aqui, os casos de contágio do novo coronavírus no exterior são em torno de 1% dos registrados na China. Medidas de cautela também foram aplicadas por vários países. A Mongólia, que tem extensa fronteira com a China, fechou as passagens terrestres, ação já tomada pela Coreia Popular e ainda pela Rússia em três regiões do extremo-oriental do país. A Malásia sustou a concessão de visto para chineses procedentes da província de Hubei.

Os EUA expandiram de cinco para 20 aeroportos seu esquema de controle de chegadas da China. Alemanha e outros países desaconselharam seus cidadãos a viajarem para a China neste momento.

Possivelmente já considerando a informação de “pico da epidemia” nos próximos dez dias, empresas como a British Airways e a United suspenderão voos para a China provisoriamente. Voo autorizado por Pequim retirou de Wuhan cerca de 200 cidadãos japoneses, que já desembarcaram em Tóquio.

 

MAIS CONTAGIOSO

 

Conforme os cientistas chineses, embora o novo coronavírus não seja tão mortal quanto a epidemia anterior de Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS), no entanto é mais contagioso. A taxa de mortalidade do novo vírus é três vezes menor do que a verificada na epidemia de SARS de 2003. Só num dia, houve aumento de 39% no número constatado de novos contágios. Os casos do 2019-nCoV já superaram os da epidemia de SARS nas primeiras semanas de surto, de acordo com a OMS.

No domingo, o Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças (CCCPD) anunciou ter começado a desenvolver vacinas contra o patógeno 2019-nCoV. A entidade isolou o vírus e atualmente está identificando as cepas, disse Xu Wenbo, chefe do Instituto Nacional para Controle e Prevenção de Doenças Virais.

Os cientistas também estão analisando remédios para a pneumonia causada pelo novo coronavírus.

Na semana passada, Pequim apresentou à OMS o sequenciamento genético do vírus. Também divulgou as primeiras imagens do patógeno. A Rússia também informou estar trabalhando em uma vacina.

Já as autoridades sanitárias norte-americanas anunciaram ter sequenciado os genomas de dois dos primeiros casos nos EUA do 2019-nCoV, e confirmaram que o vírus era o mesmo detectado na China, com o que fica descartado haver sofrido mutação.

 

PRIMEIRAS TRANSMISSÕES FORA DA CHINA

 

Foram detectados os primeiros casos de contágio fora da China. Depois do Vietnã, a Alemanha informou que um funcionário de uma fábrica de autopeças havia contraído a doença na Baviera após contato com uma colega chinesa que viera para um curso de treinamento.

“Já havia transmissão entre humanos no Vietnã. Essa infecção na Alemanha é a segunda contaminação conhecida fora da China”, disse uma porta-voz do Instituto Robert-Koch, o centro de referência epidemiológico na Alemanha, à AFP.

“Segue-se que esta é a primeira transmissão entre humanos confirmados fora da Ásia”, acrescentou. A funcionária chinesa esteve na Alemanha de 19 a 22 de janeiro e, ao voltar, “se sentiu mal”, disse o diretor do Serviço de Saúde da Baviera, Andreas Zapf.

Logo após o anúncio na Alemanha, Tóquio revelou que um motorista de ônibus japonês contraíra a pneumonia viral de turistas chineses que vieram de Wuhan.

Nos EUA, são cinco os casos confirmados, depois de investigados 100 pacientes, segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças. Na França, são três casos, dois de uma mesma família, que estiveram em Wuhan. No final de semana, a OMS irá decidir se eleva, ou mantém, o nível de alerta para o novo coronavírus.

Nas Filipinas, os testes descartaram o caso da criança brasileira de dez anos, de pai brasileiro e mãe colombiana, que moram em Wuhan e estavam de férias ali, e sob observação hospitalar e isolamento depois de apresentar quadro febril. A embaixada brasileira vinha acompanhando o caso.

 

BRASILEIROS SOB MONITORAMENTO

 

O ministério da Saúde brasileiro elevou o nível de alerta de 1 para 2 (“perigo iminente”), e passou a considerar, de acordo com orientação da OMS, como caso suspeito qualquer pessoa que tenha os sintomas e tenha retornado da China nos últimos 14 dias – no momento anterior, o foco estava restrito às procedentes de Wuhan.

Há três casos de investigação de contágio pelo 2019-nCoV. O primeiro, em Belo Horizonte, Minas Gerais, e outro em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, e ainda Curitiba, Paraná.

O nível de alerta mais elevado – emergência em saúde pública – só será acionado se forem confirmados casos de transmissão do patógeno em solo brasileiro.

A paciente sob monitoramento em Minas Gerais é uma estudante de 22 anos que viajou para Wuhan, a cidade epicentro da epidemia. Ela retornou ao Brasil no dia 24 de janeiro. Ela está internada em um hospital especializado em infectologia.

Todas as 14 pessoas que tiveram contato com ela também estão sob observação. As autoridades sanitárias brasileiras estão também em busca dos passageiros que estavam no seu voo de volta ao Brasil, e que fez escala em Paris e Guarulhos. O exame específico para o coronavírus será feito na Fiocruz.