Porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, alerta para ‘caminho perigoso’ dos EUA

“Eu concordo plenamente com a visão do ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, de que a chamada ‘cúpula da democracia’ convocada pelos EUA está, em essência, traçando linhas ideológicas e se engajando na política do bloco. Isso só causará divisão e confronto, o que vai contra a tendência dos tempos e não ganhará apoio público”, afirmou a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying.

No sábado, Lavrov, em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, advertiu contra a reiteração da mentalidade de Guerra Fria, do “nós contra eles”, que embala a proposição do governo Biden de realizar em dezembro uma “cúpula de líderes da democracia”, nomeada por Washington.

Apesar das alegações de Washington de que não quer dividir o mundo em blocos baseados em ideologia, tais eventos servem apenas para provar que é de fato seu objetivo, assinalou Lavrov. Na realidade – ressaltou -, a assim chamada ‘Cúpula pela Democracia’ se tornará “um passo para dividir o mundo em ‘nós’ e ‘eles’”.

“Os participantes, é claro, serão determinados por Washington, que reivindica o direito de determinar o grau de conformidade de um país com os padrões democráticos. Em sua essência, esta iniciativa – bem no espírito da Guerra Fria – lança uma nova cruzada ideológica contra todos os dissidentes”, afirmou Lavrov.

A Casa Branca disse em um comunicado que a cúpula virtual deve ocorrer de 9 a 10 de dezembro. De acordo com Biden, o evento pode “dar um novo impulso” a iniciativas em três áreas-chave: proteção do autoritarismo, combate à corrupção e promoção dos direitos humanos.

O chefe da diplomacia russa advertiu ainda contra a imposição de uma “ordem baseada em regras” [patrocinada por Washington] em vez da observância incondicional do direito internacional e da Carta da ONU. O que chamou de “recaída perigosa” na criação de “linhas divisórias entre um grupo de países ocidentais e outros estados.”

Além da “cúpula dos líderes da democracia”, Biden também ultimou a formação do novo pacto agressivo no Pacífico, Aukus, com o fornecimento de submarinos nucleares à Austrália, que sabota os esforços de não-proliferação no leste da Ásia, além de humilhar a França, que já tinha um acordo bilionário para fornecer submarinos convencionais. A ponto de a CNN dizer que Biden estava tendo que provar aos aliados que “não era como Trump”.

Quanto à essência da questão, a discussão sobre o que é democracia, Hua observou que “a chave para reconhecer a democracia é se ela atende às expectativas, necessidades e aspirações do povo e se proporciona benefícios genuínos ao povo”, acrescentando que a democracia é julgada por resultados, “não por slogans”.

“Os Estados Unidos pertencem a um por cento [de seu povo], são governados por um por cento e desfrutados por um por cento – isso é democracia?” questionou Hua, apontando como a política americana se tornou dividida e polarizada.

“O índice de aprovação do governo dos Estados Unidos é menos da metade – isso é democracia? Enganando as pessoas, abusando de sua confiança e fazendo promessas vazias – isso é democracia? Fabricando mentiras e rumores para guerrear no exterior, fazendo com que pessoas comuns percam suas vidas e caiam na pobreza, enquanto enchem os cofres das empresas militares e dos ninhos de grandes de capitalistas – isso é democracia?”, continuou Hua.

“Fechar os olhos para milhões de Floyds que não conseguem respirar, para milhões de pessoas inocentes mortas pela violência armada – isso é democracia? Negar o direito de outros países ao desenvolvimento normal e ao seu povo uma vida melhor, usando todos os meios para apenas se permitir desfrutar de boas condições – isso é democracia?”, acrescentou.

Padrões duplos

Hua exortou os EUA a fazer uma avaliação “correta e objetiva de si mesmos”, evitar “fingir ser o porta-voz da democracia”, não adotar “padrões duplos” ou mesmo “padrões múltiplos” sobre a democracia, e não usar a democracia como “uma ferramenta para suprimir e conter outros países”.

Concluindo, a porta-voz enfatizou que a China espera que os EUA “abandonem sua Guerra Fria e mentalidade de pequeno bloco, rejeitem a abordagem errada do jogo de soma zero, trabalhem com outros para praticar as relações internacionais de respeito mútuo, justiça e cooperação ganha-ganha e promovam os valores comuns de paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade para toda a humanidade”.