Chilenos voltam à praça Baquedano, rebatizada praça da Dignidade durante os protestos pré-Covid | Foto: Mauricio Mendez/Agenciauno

Na Praça Baquedano, da capital chilena Santiago, rebatizada como Praça da Dignidade após o levante social de outubro do ano passado, aconteceram novas e enormes manifestações, na sexta-feira (9), às portas do processo constituinte, que iniciará com um Plebiscito no próximo dia 25.

Milhares de pessoas tomaram o centro da cidade em um protesto que, além da defesa das bandeiras já tradicionais de saúde, educação e previdência, condenou a ação criminosa de um ‘carabinero’ [membro das forças de segurança no país andino], identificado como Sebastián Zamora, que empurrara um garoto de 16 anos, que participava da manifestação, desde a ponte Pío Nono, jogando-o ao leito do rio Mapocho.

Panelaços (cacerolaços) e várias marchas se unificaram com uma mesma palavra de ordem: “Ele não caiu, o jogaram”. O governo de Sebastián Piñera tentou a versão de que teria sido um acidente, porém tudo ficou documentado em poucas horas através de um vídeo, obrigando as autoridades a deter o ‘carabinero’. O jovem Anthony, apesar da gravidade da agressão que sofreu, segue detido, e isso tem gerado grande indignação.

A proximidade do aniversário da revolta social que começou em 18 de outubro de 2019 com o lema “Não são 30 pesos, são 30 anos”, rechaçando o aumento dos bilhetes do metrô, mas questionando toda a herança nefasta da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), e sua Constituição válida até hoje, é considerado pelos observadores como um estopim dos protestos nos próximos dias.

As medidas pífias de Piñera para enfrentar a crise sanitária do Covid-19, com um sistema de saúde totalmente privatizado que não teve as mais elementares condições estruturais para enfrentar a pandemia (com uma população de pouco mais de 19 milhões de habitantes, o país teve 480 mil casos e mais de 13 mil mortes), uma lei de suposta proteção do emprego que deixou  milhões de pessoas sem trabalho,  e o tratamento violento às manifestações, acirraram todos os problemas que estiveram por trás dos protestos durante os meses que antecederam à pandemia.

O referendo para decidir sobre a elaboração de uma nova Constituição que supere a atual, elaborada pela ditadura de Pinochet, foi estabelecido após acordo entre a oposição e o governo, em novembro de 2019, e foi uma das vitórias da revolta social, quando milhões de chilenos foram às ruas todos os dias, durante semanas, exigindo o fim do nefasto modelo que impera no país.SAntiag