O Partido Comunista do Chile e vários outros partidos se uniram para exigir o avanço das investigações judiciais referentes a violações dos direitos humanos

Milhares de chilenos participaram da Marcha pelos Direitos Humanos convocada por organizações sociais, partidos políticos e sindicatos, no domingo, 8, dias antes do aniversário de 46 anos do golpe de Estado fascista iniciado no Chile em 11 de setembro de 1973, que afastou pela força o presidente Salvador Allende.

O evento, que lembrou e homenageou as vítimas da ditadura de Augusto Pinochet, começou pela manhã com uma visita ao Cemitério Geral de Santiago. Ao meio-dia, os manifestantes se reuniram na Praça Los Héroes para marchar pelas principais avenidas da capital chilena, segurando fotos com os rostos dos milhares de detidos desaparecidos durante o brutal regime pinochetista. Em muitas faixas e cartazes estava escrito: “Por verdade e Justiça”, “Onde estão?”, ou “Eu não esqueço, exijo justiça”.

O Partido Comunista do Chile e vários outros partidos se uniram para exigir o avanço das investigações judiciais referentes a violações dos direitos humanos. Mais de 1.200 pessoas ainda estão desaparecidas.

No sábado, 7, a deputada do PC, Carmen Hertz, anunciou que depois de 46 anos lhe foram entregues parte dos restos mortais de seu esposo, Carlos Berger, preso e fuzilado pela ditadura. “Hoje nos devolveram restos de nosso esposo e pai, assassinado pela Caravana da Morte [comitiva do Exército do Chile que percorreu o país durante 1973, deixando milhares de vítimas]. O deserto nos entregou pedaços de suas costas e sua mandíbula, uma vida massacrada, enquanto seus assassinos levam décadas de impunidade”, escreveu Hetz.

Jair Bolsonaro envergonhou o Brasil lançando ataques na quarta-feira, 04, a Michelle Bachelet, alta comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos e ex-presidente do Chile, e ao pai dela, que foi torturado e morto durante a ditadura chilena. Os insanos comentários surgiram em resposta a declarações de Bachelet, que criticou a violência policial no Brasil e disse que o país sofre uma “redução do espaço democrático”, com ataques contra defensores dos direitos humanos. “Senhora Michelle Bachelet: se não fosse pelo pessoal do Pinochet, que derrotou a esquerda em 1973, entre eles seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba”, disse Bolsonaro.

O golpe de Pinochet foi diretamente orquestrado desde Washington, por Richard Nixon e Henry Kissinger, e organizado pela CIA. Hoje, até o governo dos EUA – depois da investigação do Congresso, pela Comissão Church – reconhece o fato.

Houve 2.298 pessoas assassinadas; até hoje, há 1.209 pessoas que, depois de presas, desapareceram; houve 28.259 pessoas que foram torturadas (v. o relatório da comissão presidida pelo monsenhor Sergio Valech ao então presidente Ricardo Lagos, que traz, inclusive, o nome das pessoas); um relatório posterior, ao presidente Piñera, detectou um número maior: mais de 40 mil vítimas entre presos, assassinados e torturados conforme o “Informe de la Comisión Presidencial Asesora para la Calificación de Detenidos Desaparecidos, Ejecutados Políticos y Víctimas de Prisión Política y Tortura”).

Organizações de direitos humanos exigem que o governo do presidente Sebastián Piñera permita o prosseguimento das investigações judiciais que se encontram paralisadas. A mobilização, em todo momento custodiada por um importante contingente policial, aconteceu de maneira pacífica, mas um pequeno grupo de provocadores jogou objetos em vitrines e carros e foi reprimido, 23 pessoas foram detidas.