Boric, líder das manifestações por democracia que sacudiram o Chile lidera corrida presidencial.

Semanas antes da eleição no Chile, prevista para o dia 21 de novembro, seis dos sete candidatos à presidência participaram do segundo debate televisionado, na segunda-feira (11).

A troca de opiniões foi marcada pelas críticas ao presidente Sebastián Piñera, pelas consequências e revelações da investigação internacional conhecida como Pandora Papers, e pela crise migratória que atravessa o país, que resultou em violações de direitos humanos.

O último trecho da campanha eleitoral ocorre em um momento em que as denúncias dos Pandora Papers aprofundam a crise política de Piñera, já marcada pelos enormes protestos sociais de 2019 que culminaram em um plebiscito e, em seguida, em uma Convenção que está redigindo a nova Constituição do País.

A investigação mostrou que a venda da Mineradora Dominga, empresa na qual o presidente e sua família detinham a maioria das ações, gerou lucros de milhões de dólares graças a uma transação realizada através de paraísos fiscais. Além disso, a operação foi condicionada por medidas tomadas pelo governo chefiado por Piñera, medidas que colocariam em risco o meio ambiente de uma das mais importantes reservas ecológicas do país.

No programa participaram Gabriel Boric, o candidato da coalizão Apruebo Dignidad, que lidera as pesquisas; Yasna Provoste, da aliança centro-esquerda Nuevo Pacto Social; Marco Enríquez-Ominami, do Partido Progressista; Eduardo Artés, da Unión Patriótica; Sebastián Sichel, do Chile Vamos; e José Antonio Kast, do Partido Republicano.

O único ausente foi Franco Parisi, o candidato do mal chamado Partido do Povo, que encabeça uma campanha presidencial sem precedentes, já que mora nos Estados Unidos e não voltou ao Chile para eventos presenciais. Além disso, ele é acusado de dever mais de US$ 200.000 em pensão alimentícia de seus dois filhos menores.

Embora com diferenças, todos os candidatos concordaram em que Piñera, um dos homens mais ricos do país, seja investigado pelas revelações dos Pandora Papers.

Enquanto Boric optou por seguir o processo institucional com vistas a um julgamento político, Enríquez-Ominami pediu a renúncia do presidente, e Artés a demissão. Provoste reiterou que o caso é vergonhoso porque, mais uma vez, como aconteceu em outros momentos de seu governo, Piñera está envolvido em “negócios sombrios”.

O concreto é que esta semana a oposição no Senado iniciará um processo acusatório contra Piñera que pode levar à sua demissão às vésperas das eleições.

Um dos destaques do debate foi o projeto de Gabriel Boric (Apruebo Dignidad), de criar 500 mil empregos durante seu eventual mandato. Boric, que está na liderança da disputa, ressaltou que estes novos postos de trabalho são um primeiro passo e chave para que o país inicie a saída da política neoliberal aplicada por Piñera, caracterizada por diminuir o investimento e o poder do Estado para administrar as riquezas nacionais. Ressaltou que as mulheres teriam um lugar chave na criação dos postos de trabalho.

Também anunciou um plano de investimento verde e o estabelecimento de um salário mínimo acima da linha de pobreza.

Em relação à crise migratória, a maioria dos candidatos criticou o tratamento anti-humanitário dos migrantes por parte do governo Piñera que, no início de outubro, propiciou o assedio e a destruição dos pertences de migrantes venezuelanos. Amostras de racismo, xenofobia e discriminação foram condenadas nacional e internacionalmente.

Salpicado pela crise, o candidato governista, Sebastián Sichel, vem caindo nas intenções de voto. Neste momento, o favorito para ir ao segundo turno contra Boric é o advogado de extrema direita, José Antonio Kast (Partido

Republicano), que fez a esdrúxula “proposta” de construir uma vala para bloquear a entrada de migrantes indocumentados no país.

Em relação à região de Araucanía, no sul do país, onde vive a maior parte da população indígena mapuche que vem registrando um aumento de conflitos territoriais e atos de violência, e onde o presidente Sebastián Piñera decretou esta terça-feira (12) o estado de emergência, abrindo assim a porta para a militarização da área, houve consenso entre Yasna Provoste e Boric. Eles defenderam convocar um diálogo liderado pelo Estado como ponto de partida para encontrar soluções para a situação. Kast e Sebastián Sichel tomaram uma posição diferente sobre o assunto. Pretendem a invocação da Lei de Segurança Interna do Estado e da Lei Antiterrorista para combater a população.

De acordo com a última pesquisa publicada pela empresa Cadem, o candidato da oposição Boric lidera a corrida presidencial (21% das intenções de voto), seguido pelo direitista Kast pró-governamental (18%).

O terceiro e quarto lugares são ocupados por Provoste (13%) e Sichel (10%). A pesquisa também mostra que Kast enfrenta a maior rejeição do eleitorado, pois recebeu a desaprovação de 30,1% da amostra pesquisada.