As manifestações dos últimos dias têm sido as maiores desde a retomada da democracia no Chile - foto BBC

“Isto não terminou”, “O Chile despertou” e “O Chile não se rende”, foram as palavras de ordem trazidas  pela multidão mobilizada pelas mais de 100 organizações políticas, sociais e sindicais reunidas na Plataforma Unidade Social e que, durante o domingo, 27, continuaram nas ruas em meio à onda de protestos que toma conta do país andino contra o modelo econômico que o governo de Sebastián Piñera aplica.

As organizações estiveram na base da convocação de uma marcha até o Palácio de La Moneda (sede do governo), nesta terça-feira, 29, e de uma greve geral para o dia de amanhã, quarta-feira.

Empunhando violões e soltando a voz as multidões de manifestantes cantam as músicas que se tornaram hinos da resistência à ditadura de Pinochet e ao arrocho de governos que mantiveram aquelas imposições antipopulares e de empobrecimento.

A emoção também vem à tona nos vídeos que trazem momentos de confraternização entre manifestantes e militares que haviam sido colocados nas ruas para reprimir os protestos.

“O que tem se manifestado durante a última semana nas ruas do Chile é a exasperação da sociedade civil frente a um modelo assentado no abuso”, afirma o documento da assembleia Unidade Social publicado no domingo, 27.  “Nossa ação continuará até conquistarmos uma transformação profunda do sistema vigente. Questionamos este modelo neoliberal abusivo que converte nossos direitos sociais em oportunidades para lucrativos negócios”, assinala.

Os chilenos frisam que a situação geral não tem mudado apesar de que o presidente Sebastián Piñera – encurralado pela revolta popular ante as medidas neoliberais de seu governo – tenha decidido trocar todo o gabinete e anunciar um plano paliativo à crise.

E essa avaliação ficou plasmada na pesquisa da empresa de opinião, Cadem, dada a conhecer este domingo, que representa um golpe duro à imagem de Piñera: sua aprovação ficou em parcos 14% e sua desaprovação disparou a 78%, um recorde desde o retorno à democracia.

Segundo indicou o jornal La Tercera, a pesquisa detectou que os 78% de desaprovação se devem ao “mau tratamento dos protestos”, “má gestão em geral”, “baixas pensões pelas AFP”, “desigualdade e abusos”, “não escutar o povo”, “má gestão de educação e saúde”, “baixos salários”, “não cumprimento de suas promessas”, por “proteger interesses de empresas e elites”, pelo “elevado custo de serviços básicos”, “gabinete e assessores ruins” e “falta de segurança”, entre outros motivos apontados.

A última pesquisa de opinião pública realizada poucos dias antes, em 18 de outubro, havia registrado 29% a favor e 58% contra o governo.

Eric Campos, presidente do Sindicato dos Metroviários de Santiago, declarou que essas ações – apoiadas pela Central Unitária dos Trabalhadores, que integra a Plataforma Unidade Social – “serão para manifestar uma vez mais que o Chile requer mudanças profundas para alcançar paz com justiça social, desenvolvimento econômico soberano e melhores condições de vida para todos. Por isso, devemos nos organizar e agir contra as políticas neoliberais que vêm nos afundando na pobreza durante 30 anos”.

O documento da Plataforma aponta como objetivo de longo prazo a necessidade de elaborar “uma nova constituição como um ‘anseio histórico’”, e propõe ainda cinco pontos a serem encetados no curto e médio prazo. O primeiro deles é a imediata retirada da Força Armada da condição de instrumento policial e de repressão do movimento popular.