Chile adia eleições para Constituinte por 30 dias para conter Covid-19
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, promulgou a lei que adia por cinco semanas as eleições para prefeitos, governadores e delegados para redigir a nova Constituição, que estavam marcadas para dia 11 próximo, devido ao aumento dos casos de coronavírus.
“Não nos pareceu prudente, nem conveniente realizar eleições neste próximo fim de semana”, disse Piñera em uma cerimônia no Palácio de La Moneda, sede do governo, na terça-feira (6). Dessa forma, mais de 14,7 milhões de chilenos estão convocados a eleger seus representantes nos dias 15 e 16 de maio. O segundo turno das eleições para governadores será transferido de 9 de maio para 13 de junho enquanto as primárias presidenciais serão realizadas em 18 de julho.
Com uma ocupação hospitalar em 95%, mais de 83% da população em isolamento e um número recorde de infecções devido à propagação de novas variantes, o Chile está passando pelo pior momento da pandemia nos últimos dias, apesar de 45% dos quase 19 milhões de habitantes terem recebido pelo menos uma dose da vacina, segundo os últimos dados disponibilizados pelo Ministro da Saúde, Enrique Paris.
O governo chileno acredita que os primeiros efeitos da vacinação serão sentidos até meados de abril e espera que até as eleições de maio cerca de 10 milhões de pessoas estejam vacinadas com pelo menos uma dose.
A onda atual é mais forte que o pico da primeira, registrada em junho do ano passado, e que alcançou essa cifra muito mais depressa. A excessiva confiança dos cidadãos, derivada justamente da rápida campanha de vacinação, e o início desta quando as novas variantes do vírus já estavam presentes no país são apontados como causas do aumento dos casos.
Segundo diversos especialistas, a população não foi corretamente esclarecida. Eles criticam o governo por situar o risco de maneira incorreta e o triunfalismo pelo processo de vacinação. “Só foram destacados os aspectos positivos da campanha e não os perigos que se mantêm”, avalia o médico Mauricio Canals, membro da plataforma ICOVID, iniciativa liderada pela Universidade do Chile, Pontifícia Universidade Católica do Chile e Universidade de Concepción com base em dados oficiais.
“Depois do verão, em março as atividades começaram praticamente sem nenhuma restrição. As quarentenas nunca foram eficazes, a mobilidade da população aumentou consideravelmente”. Com a abertura de escolas e shopping centers, em sua opinião, foi passada uma mensagem errada aos cidadãos
O governo chileno conseguiu estocar vacinas como poucos países da região e, graças a seu forte sistema de atenção primária à saúde, realizou uma campanha ágil. Mas não conseguiu deter os contágios: em 13 meses, ultrapassam um milhão e atualmente são 2.883 os internados em Unidades de Terapia Intensiva, o número máximo na pandemia, e restando apenas 164 leitos críticos disponíveis em todo o país, aponta Rocío Montes em reportagem do site El País.
Ao excesso de confiança somam-se outros fatores, como a baixa rastreabilidade: metade dos infectados passa mais de três dias circulando livremente antes que o caso seja conhecido pelas autoridades. “Além disso, não foram adotadas medidas antes que ocorressem os fenômenos. De que adianta fechar as fronteiras se as variantes já estão dentro? Praticamente não faz mais sentido”, diz Mauricio Canals.