Polícia encontra 117 fuzis desmontados em posse de Ronnie Lessa, miliciano preso pelo assassinato de Marielle Franco

A intromissão de Bolsonaro na indicação de postos importantes da Receita Federal no Rio de Janeiro está provocando uma reação de repúdio de auditores fiscais. Um dos pontos mais críticos é a eventual substituição de José Alex Nóbrega de Oliveira, delegado da Alfândega do Porto de Itaguaí, região com forte presença das milícias, na Zona Oeste do Rio.
Informado por colegas de que seria exonerado do cargo por pressões de pessoas próximas ao presidente da República, José Alex Nóbrega de Oliveira, divulgou na sexta-feira (16) um comunicado em um grupo de aplicativo para alertar que “forças externas que não coadunam com os objetivos de fiscalização da Receita Federal, pautados pelo interesse público e defesa dos interesses nacionais” estariam interessadas na troca.
Na mesma mensagem encaminhada no grupo de aplicativo, e que vazou, sendo obtida pelo jornal O Globo, José Alex alertou que a região de Itaguaí é fortemente dominada por milícias, sendo o porto um local de entrada de mercadorias vindas da China e exportação para a Europa.
Investigadores da polícia, promotores e procuradores da República, apontam o Porto de Itaguaí, um dos maiores do país, como provável entreposto do poderio bélico da milícia e do tráfico no Rio de Janeiro.
A direção da Receita fez chegar ao presidente Jair Bolsonaro um dossiê que alerta sobre o alto risco de substituição por um fiscal menos experiente para comandar uma unidade cercada pela milícia da Zona Oeste. Os fiscais não fazem operações ostensivas porque temem a milícia hegemônica na região. Isso só é possível quando as Forças Armadas dão apoio. De uma a duas vezes por semana, um cão farejador (K9) da Receita vistoria os contêineres. Reportagem do O Globo constatou que nas madrugadas, fica apenas um agente da Polícia Federal para cobrir toda a área.
Auditores desconfiam que estão em jogo também a chefia da Delegacia da Receita da Barra da Tijuca e o cargo do superintendente da Receita Federal do Brasil da 7ª Região Fiscal, Mário José Dehon São Thiago Santiago, que estaria se negando a providenciar as substituições.
“Para minha surpresa, há cerca de três semanas, o superintendente Mário (Dehon, superintendente da Receita Federal) me informa que havia uma indicação política para assumir a Alfândega de Itaguaí, a qual ele não concordava. Tratava-se de um auditor lotado em Manaus que não possuía em seus 35 anos de Receita Federal nenhuma passagem pela Aduana e sem nunca ter assumido chefias”, afirma José Alex.
“Inconformado com essa situação, o superintendente recusou-se a indicar o nome sugerido, considerando que não preenchia os critérios técnicos para a indicação. Segundo o responsável a nomeação fugia dos trâmites utilizados pela RFB para escolha de suas lideranças. Em represália a essa atitude, o mesmo está ameaçado de exoneração”, adverte o delegado no texto.
Na mesma mensagem encaminhada no grupo de aplicativo, José Alex alertou enfaticamente que a região de Itaguaí é fortemente dominada por milícias, sendo o porto um local de entrada e saída de armas, drogas, mercadorias vindas da China e exportação para a Europa.
Durante a prisão do miliciano Ronnie Lessa, integrante do escritório do crime, identificado como o executor do assassinato de Marielle Franco, foram encontrados 117 fuzis desmontados escondidos na residência de um comparsa