“Nossas crianças vivem com medo toda vez que vão à escola porque pensam que serão as próximas”, lamenta o senador Murphy

“Temos mais assassinatos em massa do que dias no ano. Nossas crianças estão vivendo com medo. Toda vez que elas pisam na sala de aula, pensam que vão ser as próximas”, disse em discurso o senador democrata Chris Murphy, de Connecticut. “Só nos Estados Unidos massacres acontecem com tal frequência”, acrescenta o senador Chris Murphy.

O parlamentar fez um apelo a seus colegas para que sejam aprovadas leis “que tornem isso menos comum. Fazendo algo, nós pelo menos paramos de mandar essa mensagem silenciosa de endosso para esse assassinos”.

Murphy lembrou que “em nenhum lugar isso acontece, exceto aqui nos Estados Unidos, e isso é uma escolha. É a nossa escolha deixar isso continuar”.

Apesar do apelo inflamado, o que o senador não conseguiu atinar é para o fato que salta os olhos: a inescapável relação entre a denominada ‘doença americana’ e as chacinas perpetradas pelas forças norte-americanas ou estimuladas por Washington, ano após ano, mundo afora, contra filhos dos mais diversos povos e nações invadidas.

Na terça-feira (24), um homem de 18 anos entrou armado em uma escola primária da cidade de Uvalde, no Texas, e matou 19 crianças. É o atentado em escolas com mais vítimas desde 2012, quando 26 pessoas, sendo 20 crianças, foram mortas na escola Sandy Hook, em Connecticut.

Chris Murphy fez um discurso emocionado no Senado dos Estados Unidos, criticando a paralisia do estado enquanto vê o aumento nos atentados.

“O que nós estamos fazendo? Apenas alguns dias depois de um atirador entrar em um mercado para matar clientes afro-americanos, temos outra Sandy Hook em nossas mãos. O que nós estamos fazendo?”.

No dia 14, outro jovem de 18 anos atacou um mercado em Buffalo, em um bairro de predominância negra, e matou 10 pessoas. O assassino publicou um manifesto explicando que seu atentado teve motivação racista.

Para Chris Murphy, “se a resposta” ao trabalho dos parlamentares “for o aumento dos assassinatos enquanto nossas crianças correm por suas vidas, não estamos fazendo nada”.

O senador disse que esses ataques “não são inevitáveis, essas crianças não foram azaradas. Isso só acontece neste país, em mais nenhum lugar”.

“Em nenhum lugar as crianças vão para a escola pensando que poderão ser baleadas naquele dia. Em nenhum lugar isso acontece, exceto aqui nos Estados Unidos, e isso é uma escolha. É a nossa escolha deixar isso continuar”.

Chris Murphy contou que em Sandy Hook, que sofreu o atentado em 2012, as crianças e professores criaram uma “senha” para falar caso estivessem pensando no que viram no dia dos assassinatos, “caso começassem a ter pesadelos durante o dia, revivendo quando pisaram sobre os corpos de seus colegas de sala para tentar escapar da escola.

Assim como Sandy Hook, “essa comunidade no Texas nunca vai ser a mesma”. Esse foi o 27º tiroteio em escola nos EUA desde o começo do ano.

O parlamento do Texas está discutindo autorizar o porte de armas a não licenciados e derrubar uma das últimas restrições para compra e porte de armas no Estado. A medida permitirá com que qualquer pessoa maior de 21 anos porte armas em locais públicos, desde que não tenha condenações por crimes violentos.

O governador Greg Abbott já disse que vai sancionar a medida e ele já aprovou 22 medidas que facilitam o acesso a armas.

Abbott é um apoiador do armamento da população, tendo relação com o Cartel do Rifle (NRA), que remunera políticos para que adotem medidas que facilitem a venda de armas..

Uma publicação nas redes sociais feitas por Greg Abbott em 2015 voltou a circular depois do assassinato em massa em Uvalde. No post, Abbott disse que estava envergonhado porque o Texas era o segundo estado com mais compra de armas, atrás da California. “Vamos pegar o ritmo texanos”, conclamou, pedindo para a população comprar mais armas.

Dados da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivo, subordinada ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, mostram que a produção de armas no país triplicou entre 1996 e 2016.

Em 1996, foram 3.854.439 rifles, pistolas e escopetas. Em 2016, esse número subiu para 11.497.441.

Além de grandes fabricantes, os Estados Unidos são um dos países com maior facilidade no acesso a armas em todo o mundo.