Castillo, presidente eleito do Peru, dialoga com empresários
A vitória eleitoral de Pedro Castillo nas eleições peruanas deu mais um passo para consolidação com o recuo do Plenário do Júri Nacional de Eleições (JNE), anunciado na noite desta sexta-feira (11), revertendo a decisão de prorrogar o prazo permitido para apresentação de pedidos de anulação de atas de votação do segundo turno, após a data já legalmente factível, que é o dia 6 de junho.
A medida que o JNE havia tomado atendia à pressão dos correligionários de Keiko Fujimori na tentativa de alterar no tapetão o resultado das eleições.
O professor rural havia conclamado as autoridades eleitorais para que “em favor do país e pela democracia, por nossa pátria, sejam respeitosos e não manchem a vontade do povo peruano”. “Temos a contagem do partido em que o nosso povo se impôs nesta façanha e o saúdo”, acrescentou.
Na segunda-feira (7), quando “o povo falava através das urnas”, como dizia Castillo, Keiko Fujimori, começou a alegar uma suposta “fraude”, sem mostrar prova concreta alguma. Posteriormente, se tornou público que uma montanha de dólares estava movimentando firmas de advogados na tentativa de impugnar atas que favoreciam a Pedro Castillo. Na quarta-feira (9) à noite os fujimoristas anunciaram que iriam pedir à Justiça Eleitoral a anulação de 802 atas.
Líderes de comunidades indígenas peruanas advertiram na sexta-feira que, se necessário, estão preparados para caminhar até Lima e defender seu voto em Pedro Castillo.
“Estamos em alerta para fazer uma mobilização pedindo que respeitem nossos votos”, disse à AFP Lizardo Cauper, presidente da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Floresta Peruana (Aidesep).
Na última atualização do portal Órgão Eleitoral Peruano (ONPE), em 11 de junho às 19h22 e com 100% das atas processadas, o candidato presidencial do Peru Livre ocupa o primeiro lugar ao obter 50.168% de votos válidos (8.822.770), enquanto a representante do Fuerza Popular registra 49,832% (8.763.850).
Vitória reconhecida
A demora do anúncio oficial do resultado do segundo turno não tem impedido que Castillo tenha recebido muitas e representativas visitas de diferentes líderes políticos e ex-adversários que enfrentou no primeiro turno da campanha eleitoral.
Daniel Salaverry, do partido Somos Peru, na saída de seu encontro com o novo presidente confrontou o fujimorismo pelo pedido de nulidade dos registros eleitorais. George Forsyth, candidato presidencial do partido Vitória Nacional e Ciro Gálvez do Renacimiento Unido Nacional (RUNA) também cumprimentaram a vitória do partido Peru Livre.
Castillo também recebeu visitas dos ex-chanceleres Óscar Maúrtua e Manuel Rodríguez Cuadros e do ex-prefeito de Lima Ricardo Belmont.
“Quero expressar nossa gratidão, em nome do povo peruano, às personalidades de diferentes países que hoje à tarde têm vindo a expressar as suas saudações ao nosso povo”, acrescentou, aludindo a mensagens de “embaixadas e governos da América Latina e de outros países”.
Unificação do país
Buscando a unidade dos peruanos em defesa da Nação, o professor Castillo relatou ter mantido contatos com empresários, setor que, durante a campanha, estava alinhado com Fujimori e manifestava rejeição a sua candidatura. “Acabo de ter conversas com o empresariado nacional que está mostrando seu respaldo ao povo. Faremos um governo respeitoso com a democracia, com as leis. Faremos um Governo com estabilidade financeira e econômica”, assinalou.
Após contatar lídres da indústria têxtil, o presidente eleito destacou que “é importante frisar que temos um dos melhores algodões do mundo, mas com a indústria têxtil extremamente golpeada. Então os empresários se queixam constantemente de que não lhes é dado apoio. E nós daremos”.
Além disso, o novo presidente indicou que vai criar um conselho de cientistas e técnicos em saúde pública e pesquisadores para desenhar medidas de enfrentamento à pandemia que registra hoje a maior taxa de mortalidade do mundo, com mais de 188 mil mortes em uma população de 33 milhões de habitantes. O programa inclui distribuição gratuita de oxigênio medicinal, implantação de leitos de UTI e vacinação gratuita para todos os residentes no país.
Castillo é a favor de intervenção estatal na economia, propondo dar ao Estado o poder de regulador do mercado. Segundo assinalou, um dos principais entraves para o desenvolvimento da economia peruana são os monopólios estabelecidos por grandes empresas estrangeiras e devido à alienação a estas empresas do setor extrativista (mineração, petróleo e gás).
Propõe a convocação de um referendo para promover uma mudança na Carta Magna, garantindo que a atual, que ele chamou de ‘Constituição da ditadura’, “prioriza o interesse privado sobre o interesse público, o lucro por cima da vida e da dignidade ”.
Entre os aspectos que a nova Carta Magna teria, estão: que se reconheça e “garanta expressamente os direitos à saúde e educação, à alimentação, à moradia e ao acesso à Internet; o reconhecimento dos povos nativos e de nossa diversidade cultural; dos direitos da natureza e do bem viver. Que permita a nacionalização de setores estratégicos, como os de minas, gás e petróleo”.
Em seu plano de governo, Castillo propõe também, reformar para ampliar e tornar mais justo o sistema previdenciário do país.