Casos de Covid dobram na Europa em cinco semanas e já são 10 milhões
Os novos casos de Covid-19 na Europa dobraram em cinco semanas, fazendo a região alcançar neste domingo (1º) a marca de 10 milhões de infecções totais. Quadro que já leva a França, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Bélgica e Áustria a reintroduzirem formas de quarentena, ainda que menos rígidas do que a da primavera.
Outros países, como Itália, Holanda, República Checa e Grécia também anunciam novas medidas de contenção. A Europa havia levado quase nove meses para registrar seus primeiros 5 milhões de casos da pandemia.
Com 10% da população mundial, a Europa é responsável por 22% do número global de casos, que já ultrapassou os 46 milhões de infecções. E por 23 % do total de mortes pela Covid-19, que já matou quase 1,2 milhão de pessoas no mundo.
Em outro dado revelador do impacto da pandemia no mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que mais de 500 mil novos casos de coronavírus foram registrados em apenas 24 horas, na sexta-feira (30), no planeta inteiro.
A temida ‘segunda onda’ irrompe quando o velho continente se aproxima do inverno – quando as condições de contágio se agravam – e aumenta a pressão sobre o sistema hospitalar. As medidas de agora também buscam preservar o máximo possível um Natal de menos isolamento social.
Como assinalou a porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margareth Harris, quando Paris e Berlim anunciaram os fechamentos, “a preocupação é que as unidades de terapia intensiva nos hospitais estão agora começando a se encher de pessoas muito doentes”.
A Europa está em um “ponto de inflexão” na luta contra a Covid-19, no momento em que é preciso fazer frente à pandemia, apesar do cansaço do público em relação às restrições e do esgotamento das equipes médicas, observou Bertrand Levrat, diretor-geral dos Hospitais da Universidade de Genebra, o maior complexo hospitalar da Suíça.
“Nossos compatriotas pensaram que esta crise de saúde havia ficado para trás”, disse o primeiro-ministro francês, Jean Castex. “Mas não podemos viver normalmente enquanto o vírus ainda estiver por aqui”.
O que, já se sabe, só terá solução quando houver uma vacina. Após a traumática experiência de virar o novo epicentro da pandemia, logo depois da China – como visto particularmente na Itália, Grã Bretanha, França e Espanha -, a Europa considerava ter controlado na medida do possível o contágio: no início de agosto o número de novos casos diários caíra para menos de 20.000. Isso já ficou para trás.
Praticamente todos os países da União Europeia vêm quase dobrando o número de novos casos de uma semana para a outra: Alemanha saltou em sete dias de 42.000 para 69.000 infecções, Itália de 59.000 para 111.000, Bélgica de 59.000 para 98.000 , Portugal de 13.000 para 18.000.
“Depois de consultar os cientistas e dialogar com as forças políticas, econômicas e sociais, decidi que é preciso voltar ao confinamento que parou o vírus”, afirmou o presidente francês Emmanuel Macron. “O vírus está circulando na França a uma velocidade que nem mesmo os mais pessimistas previram”, acrescentou.
Volta a ser necessário uma autorização para sair de casa por motivos justificados, como ir para o trabalho, fazer compras ou ir ao médico. O trabalho à distância será generalizado. Todos os estabelecimentos vão fechar, exceto os essenciais. As escolas de ensino fundamental e médio seguem abertas, mas as universidades passam a realizar suas aulas online. Estão proibidos deslocamentos entre as regiões do país.
Ele alertou que se “nada” fosse feito agora, “dentro de alguns meses teríamos pelo menos mais 40 mil mortes”. Com 1,2 milhão de contágios, a França é o quinto país do mundo com mais casos. A quarentena ficará em vigor “pelo menos até 1º de dezembro”.
“A curva precisa ser achatada novamente”, reiterou a primeira-ministra alemã Ângela Merkel, ao se reunir com os 16 governadores de estado, para definir a volta da quarentena, que será parcial e terá duração de um mês.
A partir desta segunda-feira, 2 de novembro, restaurantes, bares, academias, teatros, cinemas e piscinas estão fechados na Alemanha. Escolas e creches, continuam funcionando, assim como lojas e mercados, sob obrigação de cumprir as regras de distanciamento social e higiene. Reuniões privadas foram limitadas a dez pessoas, de no máximo duas residências diferentes. Shows e eventos semelhantes estão cancelados shows, mas eventos esportivos sem espectadores continuam.
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson anunciou no sábado (31) – dia em que o país ultrapassou a marca de 1 milhão de contágios da Covid-19 – que a Inglaterra adotará novamente o lockdown, com duração de um mês, a partir da próxima quinta-feira (5).
O parlamento deverá aprovar a medida na quarta-feira (4). “As medidas que desenhei são muito menos restritivas, embora receie que, a partir de quinta-feira, a mensagem básica seja a mesma: fique em casa, proteja o NHS [sistema de saúde britânico] e salve vidas”, declarou Johnson.
O Reino Unido, que tem o maior número oficial de mortes causadas pelo COVID-19 na Europa (quase 47 mil), tem mais de 20 mil novos casos de coronavírus por dia, enquanto os cientistas alertaram para um “pior cenário” de 80.000 mortos.
As pessoas devem trabalhar de casa e minimizar o contato. Pubs, bares e restaurantes devem fechar, exceto para serviços de retirada e de entrega. As escolas não serão fechadas. “Temos que encontrar o ponto de equilíbrio”, sublinhou Johnson. Durante a semana passada, o Reino Unido registrou um recorde de óbitos de coronavírus que só fica abaixo do pior dia de março, no auge da primeira onda.
A oposição criticou Johnson pela demora de quarenta dias para tomar a medida, que já fora aconselhada pelos consultores científicos do governo.
Londres e Berlim anunciaram medidas compensatórias pela retomada da quarentena. O governo britânico planeja estender seu programa de complementação que cobre 80% do salário nas empresas forçadas a fechar pelas restrições. Também será dobrada a ajuda aos trabalhadores por conta própria a até 80% da sua renda média para novembro.
O governo alemão anunciou um novo pacote de ajuda de 10 bilhões de euros para socorrer as empresas que forem forçadas a fechar suas portas. Pequenas e médias empresas deverão receber75% do valor de suas vendas perdidas em novembro por conta do fechamento. Grandes empresas terão direito a 70%.
Governos em toda a Europa têm sido criticados por falta de coordenação e por não usarem uma diminuição dos casos durante o verão para reforçar as defesas, deixando os hospitais despreparados.
Este reconfinamento é “um pesadelo antes do Natal”, ficou indignada Helen Dickinson, diretora-geral da federação de comerciantes britânicos. Em alguns países, negacionistas têm promovido badernas contra as medidas anti-contágio.
“Vai ser um mês muito duro”, afirmou o primeiro-ministro português Antonio Costa. Portugal vai confinar 70% da sua população a partir de 4 de novembro, mas as escolas continuam abertas. Estabelecimentos comerciais terão que fechar antes das 22h e restaurantes só poderão funcionar com grupos limitados a seis pessoas. Ficam proibidos eventos e celebrações com mais de seis pessoas. As empresas terão que se adequar a um plano de trabalho remoto. As restrições serão aplicadas aos municípios com mais de 240 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias – atingindo Lisboa, Porto e mais uma centena de cidades e vilas.
A Bélgica estendeu de Bruxelas ao país inteiro as medidas de confinamento, pela duração de seis semanas. As escolas ficam fechadas e, quanto às reuniões sociais, apenas uma pessoa pode ser recebida em casa. Funerais não podem ter mais do que 15 participantes. Igrejas continuam abertas, mas sem aglomeração.
A Áustria a partir desta terça-feira implementa restrições de locomoção e contatos privados. Hotéis, restaurantes, locais de lazer ou culturais ficam fechados. Está instaurado toque de recolher a partir das 20h, horário local, para evitar reuniões e festas particulares. As medidas vigorarão até o final de novembro.
A Grécia, que decidiu por um mês de bloqueio em Atenas e outras grandes cidades a partir desta terça-feira, busca “tentar salvar as férias de Natal”, segundo o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis.
Quarentena parcial está em vigor na República Checa, e em Praga foi reaberto um hospital de campanha. O país é um dos de mais alto índice de casos diários per capita europeu.
A Itália está endurecendo as medidas de restrição ao contágio pelo coronavírus e novo decreto estabelecerá toque de recolher obrigatório a nível nacional e, para as regiões, três fases de risco, dependendo do total de casos. “A curva epidemiológica ainda é muito elevada”, declarou o ministro da Saúde, Roberto Speranza.
Com essas medidas, o governo busca evitar um novo confinamento no país inteiro. “Fechar tudo seria muito prejudicial em um momento em que a economia começa a dar sinais de recuperação”, havia alertado o primeiro-ministro Giuseppe Conte.
Na Espanha, o ministro da Saúde, Salvador Illa, garantiu nesta segunda-feira (2) que não haverá a decretação de um confinamento domiciliar imediato a nível nacional. “Agora, não prevemos isso. Não estamos trabalhando nisso, nem prevemos trabalhar. Pensamos que o leque de medidas que estão à disposição das autoridades das comunidades autônomas é suficiente”, explicou. Caso de Madri e Astúrias. Na Catalunha, bares e restaurantes fecharam.
Na Rússia, a Câmara Municipal de Moscou ordenou o trabalho à distância a pelo menos 30% da força de trabalho de empresas e organizações, se o trabalho remoto não afetar seu funcionamento, e recomendou que idosos com mais de 65 anos e doenças crônicas fiquem em casa. A Rússia é o país do Leste Europeu mais afetado, com mais de 1,6 milhões de infecções por Covid-19.