Real,dinheiro, moeda

O vazamento de informações sobre 18 mil clientes do Credit Suisse para os principais jornais internacionais, mostrando que o banco por décadas não somente manteve criminosos entre seus correntistas como estava ciente da origem ilícita dos recursos, evidenciou a necessidade de se aprimorar os mecanismos de controle do sistema financeiro internacional. A opinião é do presidente da Comissão do Trabalho, Emprego e Renda da Câmara dos Vereadores de Salvador, Augusto Vasconcelos (PCdoB), que é advogado especialista em Direito do Estado e também preside o Sindicato dos Bancários da Bahia.

“Esse episódio reforça a importância de termos mecanismos mais eficazes de combate à corrupção e de regulamentar o sistema financeiro, que não pode servir de esteio para criminosos e deve estar voltado para o desenvolvimento econômico e social”, afirma Vasconcelos.

Doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal, Paulo Kliass também acredita que o episódio possa fortalecer a regulação internacional. “Vamos ver quais serão as verdadeiras consequências do ponto de vista comercial para o banco, porque isso afeta a credibilidade da instituição, e por outro lado se isso contribui para você ter a necessidade de uma nova regra de regulação do sistema financeiro, porque agora não basta mais o banco dizer que não compactua com esse tipo de prática, você precisa ter instituições, entidades, órgãos reguladores no plano nacional e no plano internacional, algum mecanismo ligado às Nações Unidas para evitar que esse tipo de prática se repita no futuro”, defende.

Outro aspecto importante, diz ele, é saber que providências serão tomadas com relação aos crimes que aconteciam desde a década de 1940 e somente agora vieram à tona. “Imagina-se que hoje em dia uma realidade como essa dificilmente se repetiria. Ao que tudo indica, a direção do banco foi pega de surpresa e o que eles estão dizendo é que hoje em dia não têm mais esse tipo de prática. Tudo bem, mas o que fazer com as práticas do passado, quando ilegalidades foram cometidas, quando o banco aceitou receber recursos de atividades criminosas, ilegais?”, questiona.

Kliass ressalta que, embora o fato de que a Suíça fosse um paraíso financeiro não seja novidade para quem acompanha minimamente o desenvolvimento das atividades do sistema financeiro suíço ao longo das últimas décadas, existe um ineditismo na denúncia. “Isso está sendo divulgado pelo New York Times, pelo The Guardian, que são jornais importantes no sistema capitalista global e mesmo no sistema financeiro”, frisa.

De acordo com ele, informações como estas, referentes à movimentação de mais de US$ 100 bilhões de contas na Suíça, não vinham à tona porque as instituições financeiras, interessadas em receber os recursos, ofereciam o sigilo das operações. Os clientes se sentiam à vontade para enviar os recursos de origem ilegal, fraudulenta ou criminosa porque o Credit Suisse e os bancos suíços em geral asseguravam esse sigilo.

“Mas já são 82 anos. O capitalismo mudou e o sistema financeiro também teve de se adaptar à realidade digital por um lado e por outro das informações na rede, da transparência. E o que aconteceu é que aquele sigilo que existia no passado não existe mais”, aponta Kliass. “Por mais que a instituição financeira diga “pode pôr o dinheiro aqui que nada vai ser divulgado”, o problema é que as informações agora estão na rede, ou por meio de chantagem ou de jogo político, de organizações mais sérias de transparência e de denúncias, o fato concreto é que começam a ser reveladas”, acrescenta.

Desta forma, explica ele, somente agora puderam vir à tona as operações financeiras realizadas por criminosos internacionais. “Então nessa lista você tem recursos de ditadores e autoritários que tiveram poder em cinco continentes, ao longo desses oitenta anos que, muito provavelmente, aplicaram recursos de corrupção e outras práticas criminosas de seus países. Você tem grupos que operam na margem ou na criminalidade, com tráfico de drogas, com tráfico de armas, com tráfico de pessoas, que fazem os recursos chegarem até um porto de salvação, que seriam os bancos na Suíça e o Credit Suisse em especial”.