Em boletim sobre a conjuntura econômica do país em novembro, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) afirma que a segunda onda de contaminações pelo novo coronavírus na Europa e nos Estados Unidos deve servir de alerta para o Brasil, onde o número de casos e mortes voltaram a apresentar tendência de alta em alguns estados. Segundo a entidade, mais uma vez os brasileiros têm a chance de se antecipar ao agravamento da pandemia.

“A demora, a negação da gravidade do problema, a ausência de ações coordenadas acarretou perdas de vidas preciosas de cidadãos brasileiros (…). Países que enfrentaram a pandemia com seriedade reconverteram parte das suas linhas de produção para fornecer insumos e equipamentos para saúde, testaram a população, criaram regras e protocolos de distanciamento, rastreamento de contatos e conseguiram mitigar a contaminação e evitar centenas de milhares de mortes”, diz o documento.

O Dieese afirma que o alto grau de incerteza sobre a duração e a dimensão da pandemia no Brasil, assim como os efeitos na atividade econômica, deve-se, em boa medida, à incapacidade do governo federal em compreender a realidade da pandemia e construir cenários levando em conta a possibilidade de agravamento da crise sanitária e econômica e a recuperação lenta da economia.

“A crença do governo de que o pior já passou e que o mercado deve puxar a recuperação é preocupante e de risco elevado, tendo em vista que, dentre os cenários, o mais provável até a efetividade da vacina, é o que exigirá aberturas e fechamentos da economia, com lockdowns parciais ou totais”, diz o boletim, que defende que o Estado precisa ter um papel mais ativo.

A entidade sugere a implementação de programas de testagem, rastreamento de contatos, protocolos rígidos de proteção e distanciamento social, política fiscal que amplie os programas assistenciais para os desempregados e para a população mais vulnerável, e, ainda, coordenação de ações voltadas para o complexo industrial da saúde e reconversão industrial.

Para financiar essas ações, o Dieese defende a implementação de medidas fiscais e tributárias para ampliação e financiamento do gasto público, com uma reforma tributária que eleve a tributação para os super ricos e torne o sistema brasileiro mais progressivo, isto é, os que têm mais renda pagam mais imposto.

O boletim diz que é necessário, ainda, remover o teto de gastos públicos, que limita o crescimento das despesas à inflação até 2036. Além disso, defende a implementação do programa de renda cidadã, elevação do número de parcelas do seguro-desemprego, investimento público para estimular a economia e políticas ativas no mercado de trabalho.